O OURO DE NÁPOLES (1954)
“L'Oro
di Napoli” é um filme em episódios, género que teve alguns cultores entre as
décadas de 50 e 70 do século XX, com realização de Vittorio De Sica, que vinha
da sua época de ouro, profundamente neo-realista, com “Ladrões de Bicicletas”
(1948), “O Milagre de Milão” (1951), “Humberto D” (1952) ou “Estação Terminus”
(1953), e antes de dirigir “O Tecto” (1956) ou “Duas Mulheres” (1960). Digamos
que “O Ouro de Nápoles” estabelece a transição entre o neo-realismo puro e a
época de um neo-realismo róseo, com algumas comédias de fundo social, mas sem a
grandeza das obras primitivas. O registo é igualmente uma mescla de realismo
social e de comédia de costumes, com um argumento de Cesare Zavattini, Giuseppe
Marotta, Vittorio De Sica, partindo de contos do escritor Giuseppe Marotta,
numa produção conjunta de dois dos maiores produtores italianos que se
cimentavam no terreno por esta altura, Dino De Laurentiis e Carlo Ponti.
São seis
os episódios do filme, cada um deles interpretado por um grande actor ou actriz
de momento: “Il guappo” (ToTò), “Pizze a credito” (Sophia Loren), “Il
funeralino” (Teresa De Vita, esta a única actriz pouco conhecida, pois só
interpretou dois filmes, ambos de Vittorio De Sica), “I giocatori” (Vittorio De
Sica), “Teresa” (Silvana Mangano) e “Il professore” (Eduardo De Filippo).
Casting magnífico para cada uma das prsonagens e cada uma das situações.
Falando
de cada episódio, o inicial, com ToTò, é o mais hilariante e talvez o de mais
imediata metáfora social. Saverio Petrillo (ToTò) tem uma família, mulher e
filhos, que alimenta com a sua frágil profissão de “Pazzariello”, uma criação
do século XVII que sobreviveu nos hábitos napolitanos até meados dos anos 50 (e
que, ao que julgamos, ainda persiste como elemento de folclore urbano, mas agora
como entretenimento). O “Pazzariello” veste-se a preceito, empunha um bastão
dourado, e passeia-se pelas ruas de Nápoles publicitando uma qualquer loja de
alimentos ou tasca. Vai recitando slogans, cantando, dançando, distribuindo
chistes, e a melhor ilustração deste antigo costume é mesmo este episódio de “O
Ouro de Nápoles”, admiravelmente interpretado por Antonio de Curtis, mais
conhecido por ToTò. Este o aspecto etnográfico mais interessante de “Il
guappo”. Mas outros há a referir. Quando Gennaro, um amigo, fica viúvo, Saverio
e família recolhem-no em sua casa, para não se sentir sozinho nesses dias. Mas
esses dias estendem-se por dez anos, e Gennaro torna-se um prepotente e
violento opressor da família, e a sua auréola de poder começa mesmo a fascinar
os miúdos que se distanciam da cobardia do pai que só se revolta na sombra.
Mas, um dia, Gennaro sente-se mal, um médico diagnostica-lhe precipitadamente
um enfarte e, perante a fraqueza do indesejável inquilino, Saverio expulsa-o de
casa. Infelizmente, o diagnóstico tinha sido mesmo precipitado, e Gennaro
regressa, mas desta feita encontra a família unida. Contra a ditadura do mais
forte, a união dos oprimidos resulta sempre, parece ser a mensagem do episódio,
excelente na descrição de ambientes, de personagens, e na forma como os
intérpretes vivem a história.
Em
“Pizza a Credito” mantém-se o tom satírico. Sofia (Sophia Loren) e o seu marido
Rosario (Giacomo Furia) têm uma venda de pizza numa ruela de Nápoles. Venda a
crédito. A impetuosa Sofia não se satisfaz apenas com o amor do seu sócio, e
tem por fora uma aventura que lhe vai causar alguns problemas. Num desses
encontros com o amante, perde um valioso anel que o marido lhe havia oferecido,
e resolve explicar o sucedido com o facto de o ter deixado cair no interior de
alguma pizza. Marido e mulher percorrem os compradores de pizza dessa manhã
chuvosa, o que os leva a casa de Don Peppino (Stoppa), que acaba de perder a
mulher. A situação acaba por se recompor com alguma habilidade pelo meio e o
sketch resulta não só divertido como um bom retrato de costumes napolitanos.
O conde
Prospero (Vittorio De Sica) é o protagonista de “I Giocatori”, pequena história
de um jogador compulsivo que perde todo o seu património no jogo. Como a mulher
já não lhe dá dinheiro, nem permite que ninguém o abasteça para as suas
contínuas fugas, vê-se na contingência de jogar com um miúdo, Gennarino
(admiravelmente interpretado por Pierino Bilancioni), filho do porteiro, com o
qual perde sem remissão.
“Teresa”
permite a Silvana Mangano uma interpretação magnífica, na figura de uma
prostituta que é resgatada por Don Nicola (Erno Crisa) que casa com ela como
auto-punição pelo facto de uma jovem se ter suicidado por sua causa. A
descoberta deixa-a furiosa, o que a leva a fugir de casa, reconsiderando
depois…
Como em
quase todos os episódios do filme, existem personagens fortes que permitem aos
actores desempenhos brilhantes. É o que também acontece em “Il Professore”,
onde Eduardo De Filippo é um tal Don Ersilio Miccio, conselheiro de todos os
moradores do bairro, a troco de umas quantas liras. Os vizinhos reclamam contra
a tirania do conde Alfonso Maria di Sant’Agata dei Fornai (Crosio), que, ao
sair de casa de carro, obriga todos os dias os moradores a mudarem a habitual
disposição dos seus pertences que se estendem pela rua. O “professor”
aconselha-os a organizarem uma sonora praga colectiva.
O
episódio "Funeralino" apresenta um tom totalmente diverso dos
anteriores, onde, com maior ou menor felicidade, impera o humor. Este é dramático,
segue o trajecto de um carro funerário pelas ruas e avenidas da cidade, com a
mãe, amigos e algumas crianças a acompanharem o cortejo fúnebre de uma criança.
Não há quase intriga, dir-se-ia um documentário, com apenas uma pausa para o
momento em que a mãe se comove ao distribuir caramelos pelas crianças que
seguem o funeral. Aquando da apresentação do filme no Festival de Cannes, este
episódio foi retirado, e recolocado posteriormente.
Curiosamente,
este, como alguns outros títulos deste período, parece anunciar uma mudança de
percurso no interior do neo-realismo. “O Ouro de Nápoles” continua crítico em
relação à sociedade italiana, mas opta por um registo de humor e sátira que o
tornam mais apetecível como espectáculo e entretenimento. Na altura, isso foi
visto como uma espécie de traição ao projecto inicial, mesmo de algum
retrocesso artístico e cinematográfico. Hoje em dia, não será assim quanto a
muitas obras que se atreveram a procurar novas fórmulas de aproximação da
realidade e novas linguagens. O episódio "Funeralino" pode mesmo
antecipar algumas ideias mais tarde desenvolvidas por Antonioni. Por outro
lado, este é definitivamente um filme de actores, onde Vittorio De Sica se
mostra um director de invulgar sensibilidade, criando personagens inesquecíveis,
proporcionando a Silvana Mangano e Sophia Loren trabalhos notáveis, bem assim
como a Totò, Eduardo De Filipo e ao próprio De Sica. A própria Teresa De Vita,
que só interpretou este filme e uma outra comédia do mesmo De Sica, “Il
Giudizio Universale”, de 1961, oferece momentos memoráveis nessa contida e
rigorosa interpretação de uma mãe em sofrimento. Um belo rosto que o cinema
perdeu cedo (a actriz só viria a falecer em 2013).
O OURO DE NÁPOLES
Título original: L'Oro di Napoli
Realização:
Vittorio De Sica (Itália, 1954); Argumento: Cesare Zavattini, Vittorio De Sica,
Giuseppe Marotta, segundo novelas deste último; Produção: Dino De Laurentiis,
Marcello Girosi, Carlo Ponti; Música: Alessandro Cicognini; Fotografia (cor):
Carlo Montuori; Montagem: Eraldo Da Roma; Design de produção: Gastone Medin;
Decoração: Ferdinando Ruffo; Guarda-roupa:
Pia Marchesi; Direcção de Produção: Nino Misiano, Roberto Moretti;
Assistentes de realização: Luisa Alessandri, Franco Montemurro; Som: Aldo
Calpini, Biagio Fiorelli, Bruno Moreal; Efeitos visuais: Pablo Mariano Picabea
(versão restaurada); Companhias de produção: Carlo Ponti Cinematografica, Dino
de Laurentiis Cinematografica (Ponti-De Laurentiis); Intérpretes: episódio "Teresa" - Silvana Mangano
(Teresa), Erno Crisa (Don Nicola),
Ubaldo Maestri (Don Ubaldo); episódio "Pizze a credito" - Sophia
Loren (Sofia), Paolo Stoppa (Don Peppino), Giacomo Furia (Rosario), Alberto
Farnese (Alfredo), Tecla Scarano (amigo de Peppino), Tartaro Pasquale , Roberto
De Simone (Umberto Scognamiglio), Gigi Reder (amigo de Peppino), Rosetta Dei;
episódio "Il professore"- Eduardo De Filippo (Don Ersilio Miccio)
Tina Pica (Velha), Gianni Crosio (Alfonso Maria di Sant'Agata dei Fornai), Nino
Imparato (Gennaro); episódio "I giocatori" - Vittorio De Sica (Conde
Prospero B.), Mario Passante (Giovanni), Irene Montaldo (Countess B.); episódio
"Il guappo" - Totò (Don Saverio Petrillo), Lianella Carell
(Carolina), Pierino Bilancioni (Gennarino), Lars Borgström (Federico), Agostino
Salvietti (Gennaro Esposito), Pasquale Cennamo (Don Carmine Savarone), Nino
Vingelli; episódio "Funeralino"- Teresa De Vita (mãe). Duração: 134 minutos; Distribuição em
Portugal (DVD): Estevez; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em
Portugal: 3 de Novembro de 1955.
SILVANA MANGANO (1930-1989)
A
eleição de Miss Itália que aconteceu em 1947 tornou-se num acontecimento
mítico. No ano anterior, a futura Silvana Pampanini ficará em segundo lugar num
concurso ganho por Rossana Martini. Esta passaria despercebida como actriz, e a
primeira seria uma das deusas do cinema italiano das décadas de 40 e 50. Mas em
47, o caso piou mais fino. Silvana Mangano e Eleonora Rossi Drago estiveram
entre as concorrentes, e o troféu foi ganho por Lucia Bosè. Gianna Maria Canale
ficou em segundo e Gina Lollobrigida em terceiro. Sophia Loren seria Miss
Italia em 1950. Não se pode dizer que este concurso de beleza não tivesse tido
uma importância decisiva na história do cinema italiano.
Silvana
Mangano, que nascera a 21 de Abril de 1930, em Roma, e viria a falecer em
Madrid, em 16 de Dezembro de 1989, vítima de cancro, foi, no entanto,
descoberta para o cinema, em pequenos papéis, em 1945, num filme de René
Chanas, “Le Jugement Dernier”, continuando depois em obras de Mario Costa,
Alberto Lattuada, Duilio Coletti, entre outros, até se afirmar definitivamente
em “Riso Amaro (Arroz Amargo), de Giuseppe de Santis, em 1949. Conta-se que
concorreu ao casting do filme, em vestimenta aprimorada e bem maquilhada, não
despertando então nenhum interesse no realizador que, dias depois, se viria a
cruzar com ela na Via Veneto, em Roma, com um vestuário de dia a dia e um rosto
ao natural, e cabelos encharcados pela chuva, e logo ali ficou traçado o seu
destino. Tinha 19 anos.
Filha de
um siciliano, condutor de comboios, e de uma inglesa, estudou dança com Jia
Ruskaya e trabalhou como modelo para o estilista francês Georges Armenkov.
Decide partir para França a fim de trabalhar como modelo na Maison Mascetti e
foi precisamente em França que se estreia no cinema, como já vimos. Em 1946,
foi eleita "Miss Roma" e entrou posteriormente na eleição de Miss
Itália. Segue um curso de declamação teatral, onde conheceu Marcello
Mastroianni, seu primeiro namorado e com quem trabalharia muito pouco a partir
daí, dados os ciúmes do seu marido, o produtor Dino De Laurentiis, com quem
casou nesse mesmo ano de 1949. O filme de Giuseppe de Santis foi um sucesso
imenso e muito ficou a dever ao talento, à beleza e às curvas da sua
protagonista. Rapidamente se tornou um sex symbol do cinema italiano, numa
altura em que imperavam as sex symbols naquela cinematografia (relembrem-se as
Miss Itália atrás citadas, todas elas explodindo nos ecrãs com fragor). No
início dos anos 50, títulos como “Anna”, de Alberto Lattuada (1951), “O Ouro de
Nápoles” de Vittorio De Sica ou “Mambo”, de Robert Rossen (ambos de 1954)
transformaram-na numa vedeta internacional, que a carreira futura, bem
aconselhada por Dino de Laurentiis, iria confirmar plenamente. Foi gradualmente
abandonando personagens moldadas pelo físico e entregando-se a personagens mais
complexas, sendo dirigida por alguns dos maiores directores do seu tempo: René
Clément, Mario Monicelli, Mario Camerini, Martin Ritt, Vittorio De Sica, Dino
Risi, Marco Ferreri, Franco Zeffirelli, Tinto Brass, Luchino Visconti, Pier
Paolo Pasolini, Luigi Comencini. Em 1960, Federico Fellini começou por a
escolher para interpretar, ao lado de Marcello Mastroianni, “La Dolce Vita”,
mas De Laurentiis, ciumento, não permitiu que ela aceitasse a personagem depois
criada por Anouk Aimée. Separou-se de De Laurentiis, em 1988, com quem teve
quatro filhos: Veronica, Raffaella (futura produtora), Federico e Francesca.
Afastou-se do cinema, descontente com a sua imagem, passou a viver em Madrid,
padecendo de um cancro no estômago, sofrendo de insónias e de depressão, e
nunca esquecendo a morte do filho Federico que, aos 25 anos (em 1981), faleceu
vítima de uma acidente de aviação no Alasca. Ainda surgiu em “Duna” (1984), de
David Lynch, a pedido de sua filha Raffaella, produtora do filme, e ao lado de
Marcello Mastroianni, no filme de Nikita Mikhalkov, “Olhos Negros” (1987).
Morreu em casa da filha Francesca, em 16 de Dezembro de 1989, na capital de
Espanha, onde se entreteve a fazer tapeçaria nos últimos anos de vida.
Reconciliada com De Laurentiis e Mastroianni, seus maiores amigos.
Entregaram-lhe
os maiores prémios do cinema italiano: o David di Donatello, o Nastro
d'Argento, ou o do Sindicado dos Jornalistas Italianos de Cinema. Nunca se
impôs nos EUA, como outras suas conterrâneas, Sophia Loren ou Anna Magnani, que
lograram Oscars.
Filmografia
Com actriz:
1945: Le Jugement Dernier, de René Chanas; 1946: L'Elisir d'Amore (O Elixir do
Amor), de Mario Costa; 1947: Il Delitto di Giovanni Episcopo, de Alberto
Lattuada; 1948: Gli Uomini sono Nemici (Lisboa, Encruzilhada de Paixões), de
Ettore Giannini; 1949: Il Lupo della Sila (O Lobo da Calábria), de Duilio
Coletti; Cagliostro ou Gli Spadaccini della Serenissima ou Black Magic
(Cagliostro), de Gregory Ratoff e Orson Welles; Riso amaro (Arroz Amargo), de
Giuseppe de Santis; 1950: Il Brigante Musolino (Não Matei!), de Mario Camerini;
1951: Anna (Ana), de Alberto Lattuada; 1953: Il Più Comico Spettacolo del Mondo
(O Mais Cómico Espectáculo do Mundo), de Mario Mattoli (não creditada); 1954:
Mambo (Mambo), de Robert Rossen; 1954: Ulisses (Ulisses), de Mario Camerini; 1954:
L'Oro di Napoli (O Ouro de Nápoles), de Vittorio de Sica (episódio
"Teresa"); 1956: Uomini e Lupi (Homens e Lobos), de Giuseppe de
Santis e Leopoldo Savona; 1957: La Diga sul Pacifico ou This Angry Age, de René
Clement; 1958: La Tempesta, de Alberto Lattuada; 1959: La Grande Guerra (A
Grande Guerra) de Mario Monicelli; 1960: Jovanka e le Altre (Jovanka e as
Outras), de Martin Ritt; 1961: Crimen (Crime), de Mario Camerini; 1961: Il
Giudizio Universale (O Último Julgamento), de Vittorio De Sica; 1961: Barabba
(Barrabás),de Richard Fleischer; 1963: Il Processo di Verona, de Carlo Lizzani;
1964: La Mia Signora (A Minha Senhora), de Mauro Bolognini, Tinto Brass e Luigi
Comencini (episódios "L'Uccellino", "L'Automobile", "I
Miei Cari", “Eritrea"); Il Disco Volante, de Tinto Brass; 1966: Io, io, io... e gli
altri (Eu, Eu, Eu... e os Outros), de Alessandro Blasetti; 1967: Scusi, lei è
Favorevole o Contrario? (Como casar a nossa filha?), de Alberto Sordi; Le
Streghe (A Magia da Mulher), de Mauro Bolognini, Vittorio De Sica, Pier Paolo
Pasolini, Franco Rossi e Luchino Visconti (episódios "La Strega Bruciata
Viva", "Senso civico" e "La Terra vista dalla Luna");
1967: Édipo re (Édipo Rei), de Pier Paolo Pasolini; 1968: Capriccio all'Italiana
- episódios “La Bambinaia”, de Mario Monicelli, “Perché?”, de Mauro Bolognini e
“Viaggio di Lavoro”, de Pino Zac; 1968: Teorema (Teorema), de Pier Paolo
Pasolini; 1971: Scipione detto anche l'africano (Cipião Dito o Africano), de
Luigi Magni; 1971: Morte a Venezia (Morte em Veneza), de Luchino Visconti;
1971: Il Decameron (Decameron), de Pier Paolo Pasolini (não creditada); 1972:
D'Amore si Muore de Carlo Carunchio; 1972: Lo Scopone Scientifico (O Jogo da
Fortuna e do Azar), de Luigi Comencini; 1972: Ludwig (Luís da Baviera), de Luchino
Visconti; 1974: Gruppo di Famiglia in un Interno (Violência e Paixão), de
Luchino Visconti; 1984: Dune (Duna), de David Lynch; 1987: Oci Ciornie (Olhos
Negros), de Nikita Mikhalkov.
SOPHIA LOREN (1934 - )
“Nascida”
num concurso de beleza, “Miss Itália 1950”, Sophia Loren consegue em três ou
quatro décadas de carreira no cinema, tornar-se na actriz mais premiada de
sempre do cinema italiano, uma cinematografia onde abundam as grandes actrizes
e as grandes vedetas. Sophia Villani Scicolone, também conhecida por Sophia
Lazzaro, Sofia Scicolone e, finalmente, Sophia Loren, nasceu a 20 de Setembro
de 1934, em Roma. Ainda muito jovem transferiu-se com a família para o
município de Pozzuoli, em Nápoles, onde viveu uma adolescência difícil. O pai,
o engenheiro Riccardo Scicolone, abandonou a mãe de Sofia, Romilda Villani, uma
professora de piano, sem se casar com ela, apesar de lhe ter feito duas filhas,
Sofia e a irmã mais nova, Maria Scicolone. 1950 marca uma data importante na
sua carreira. Concorre a Miss Itália, fica em segundo ou quarto lugar (as
fontes divergem!), mas é considerada Miss Elegância. Os focos centram-se nela.
Ainda com o nome de Sophia Scicolone estreia-se no cinema, como figurante e em
pequenos papéis, em obras muito desiguais, onde no entanto são notados os seus
seios nus, nalguns deles. No ano seguinte, passa a assinar como Sophia Lazzaro
e faz fotonovelas. Só em 1953 aparece como Sophia Loren. Durante a rodagem de
“Africa sotto i Mari” (Abismos Africanos), de Giovanni Roccardi, em 1952, é
“descoberta” pelo produtor Carlo Ponti, que assina com ela um contrato de sete
anos e a lança em obras de outra dimensão, como “L'Oro di Napoli” (O Ouro de
Nápoles), de Vittorio De Sica. Casam em 1957, uma união que dura até 1962, data
em que o casamento é considerado nulo pelas autoridades, pois Carlo Ponti não
se tinha divorciado legalmente de um antigo casamento. Voltam a casar em 1966,
e estão juntos até 2007, data da morte de Ponti, 22 anos mais velho que Sophia
Loren. Tiveram dois filhos, Carlo e Edoardo. Foi cunhada de Romano Mussolini,
filho de Benito Mussolini. Entre 1957 e 1961 instala-se em Hollywood, onde roda
sob a direcção de cineastas como Jean Negulesco, Stanley Kramer, Henry
Hathaway, Delbert Mann, Carol Reed, George Cukor, Melville Shavelson, Sidney
Lumet, Michael Curtiz ou Chalie Chaplin, ao lado de actores como Cary Grant,
Frank Sinatra, John Wayne, Anthony Perkins, William Holden, Trevor Howard,
Marlon Brando, Anthony Quinn, George Sanders, Peter Sellers, Clark Gable, John
Gavin ou Charlton Heston. Em 1962, recebe o Oscar de Melhor Actriz pelo filme
“Duas Mulheres”, que também lhe valeu o prémio de Melhor Actriz no Festival de
Cannes. A partir daí continua a trabalhar com grandes realizadores, como
Vittorio De Sica, para quem ela era a sua actriz fetiche, Federico Fellini,
Ettore Scola, Robert Altman, Lina Wertmüller, entre outros. Construiu uma
sólida carreira, que se prolonga até hoje, apesar de quase ter abandonado o
cinema no final da década de 70. Daí até ao presente, surge num ou outro filme
e nalguns telefilmes, mas vai aparecendo regularmente em festivais e outras
manifestações sociais sobretudo ligadas ao cinema. Existe uma estrela no
Hollywood Walk of Fame, em Los Angeles, com o seu nome. Encontra-se frente ao
nº 7050, em Hollywood Boulevard. Ganhou um Oscar, além de 57 outros prémios de
grande relevo internacional, e mais 27 nomeações.
Filmografia
Como actriz / sob o nome de Sophia Scicolone: 1950: Il Voto, de Mario Bonnard; Totòtarzan (ToTò Tarzan), de Mario
Mattoli; Le Sei Moglie di Barbablù (ToTò e o Barba Azul), de Carlo Ludovico
Bragaglia; 1950: Io sono il Capataz (O Capataz Sou Eu), de Giorgio Simonelli;
Cuori sul mare, de Giorgio Bianchi; Luci del Varietà, de Federico Fellini e
Alberto Lattuada; 1951: Quo Vadis (Quo Vadis), de Mervyn LeRoy; Il Padrone del
Vapore, de Mario Mattoli; Milano Miliardaria, de Marcello Marchesi, Marino
Girolami e Vittorio Metz; Il mago per Forza, de Marcello Marchesi, Marino
Girolami e Vittorio Metz; Lebbra Bianca, de Enzo Trapano; Anna (Ana), de
Alberto Lattuada; 1952: È Arrivato l'Accordatore, de Duilio Coletti;
- Sob o nome de Sophia Lazzaro: 1951: Era lui...si, si (O Rei dos Pândegos) de Vittorio Metz, Marino
Girolami e Marcello Marchesi; Il sogno di Zorro (O Neto do Zorro), de Mario
Soldati; La tratta delle bianche, de Luigi Comencini; 1953: La Favorita, de
Cesare Barlacchi;
- Sob o nome de Sophia Loren: 1953: La Domenica della Buona Gente, de Anton Giulio Majano; Africa sotto i Mari (Abismos Africanos), de
Giovanni Roccardi; 1953: Due notti con Cleopatra (A Rival de Cleópatra), de
Mario Mattoli; Aïda (Aida), de Clemente Fracassi; Ci Troviamo in Galleria (A
Bela Napolitana), de Mauro Bolognini; 1954: Tempi Nostri (Os Nossos Tempos), de
Alessandro Blasetti (episódio "La macchina fotografica"); L'Oro di
Napoli (O Ouro de Nápoles), de Vittorio De Sica (episódio "Pizze a
credito"); Un Giorno in Pretura (No Banco dos Réus), de Steno; Attila (Átila), de Pietro Francisi;
Peccato che sia una Canaglia (Que Pena Seres Vigarista!), de Alessandro
Blasetti; Carosello Napoletano (Carrocel Napolitano), de Ettore Giannini;
Pellegrini d'amore (O Que Faz o Amor), de Andrea Forzano; Miseria e nobiltà
(ToTò Rico e Pobre), de Mario Mattoli;
1955: La Donna del Fiume (A Rapariga do Rio Pó) de Mario Soldati; 1955:
Il Segno di Venere (O Signo de Vénus), de Dino Risi; La Bella Mugnaia (A Bela
Moleira), de Mario Camerini; Pane, amore, e... (Pão, Amor e...) de Dino Risi;
1956: La Fortuna di Essere Donna (A Sorte de Ser Mulher), de Alessandro
Blasetti; 1957: Boy on a Dolphin (A Lenda da Estátua Nua), de Stanley Kramer;
The Pride and the Passion (Orgulho e Paixão), de Stanley Kramer; Legend of the
Lost (A Cidade Perdida), de Henry Hathaway; 1958: Desire Under the Elms (Desejo
Sob os Ulmeiros), de Delbert Mann; The Key (A Chave), de Carol Reed; Black
Orchid (Orquídea Negra), de Martin Ritt; Houseboat (Quase nos Teus Braços) de
Melville Shavelson; 1959: That Kind of Woman (Uma Certa Mulher), de Sidney
Lumet; 1960: Heller in Pink Tights (Agarrem Essa Loira), de George Cukor; A
Breath of Scandal (Escândalo na Corte), de Michael Curtiz; It Started in Naples
(Aconteceu em Nápoles), de Melville Shavelson; The Millionairess (A Milionária)
de Anthony Asquith; 1960: La Ciociara (Duas Mulheres), de Vittorio De Sica;
1961: Le Cid (El Cid), de Anthony Mann; Madame Sans-Gêne (Madame Sans-Gêne), de
Christian-Jaque; 1961: Boccace 70 (Boccaccio '70), de Federico Fellini, Mario
Monicelli, Luchino Visconti, Vittorio De Sica (episódio “La Riffa”, de Vittorio
De Sica); 1962: Le Couteau dans la Plaie (A Fronteira da Noite), de Anatole
Litvak; 1962: I Sequestrati di Altona (Os Sequestrados de Altona) de Vittorio
De Sica; 1963: Ieri, oggi, domani (Ontem, Hoje e Amanhã), de Vittorio De Sica;
1964: The Fall of the Roman Empire (A Queda do Império Romano), de Anthony
Mann; Matrimonio all'italiana (Matrimónio à Italiana), de Vittorio De Sica;
1965: Opération Crossbow (Operação V-2), de Michael Anderson; Lady L (Lady L),
de Peter Ustinov; La Comtesse de Hong-Kong (A Countess from Hong Kong), de
Charles Chaplin; 1966: Judith (Judith), de Daniel Mann; Arabesque (Arabesco),
de Stanley Donen; 1967: C'era una Volta... (Felizes Para Sempre), de Francesco
Rosi; Questi Fantasmi (Dois à Italiana), de Renato Castellani; 1968: Sophia: A
self-portrait documentaire, de Mel Stuart e Robert Abel; 1970: I Girasoli (O
Último Adeus) de Vittorio De Sica; 1971: La Moglie del Prete (A Mulher do
Padre), de Dino Risi; La Mortadela (Mortadela), de Mario Monicelli; 1972:
Bianco, Rosso e... (O Pecado), de Alberto Lattuada; Man of La Mancha (O Homem
da Mancha), de Arthur Hiller; 1974: Il Viaggio (A Viagem), de Vittorio De Sica;
Verdict (Veredicto), de André Cayatte; Brief Encounter (Breve Encontro), de
Lina Wertmüller (TV); 1975: La Pupa del Gangster, de Giorgio Capitani; 1977:
The Cassandra Crossing (Cassandra Crossing), de George Pan Cosmatos; Una
Giornata Particolare (Um Dia Inesquecível), de Ettore Scola; 1978: Angela
(Angela: O Amor Impossível), de Boris Sagal; Fatto di sangue fra due uomini per
causa di una vedova - si sospettano moventi politici (Pacto de Sangue), de Lina
Wertmuller; Brass Target (O Grande Golpe do Ouro), de John Hough; 1979:
Firepower (A Ferro e Fogo), de Michael Winner; 1980: Sophia Loren: Her Own
Story (TV); 1984: Qualcosa di Biondo (TV);
1986: Courage (TV); 1988: Mamã Lúcia (TV); 1989: La Ciociara (TV); 1990:
Sabato, Domenica e Lunedì, de Lina Wertmüller; 1994: Prêt-à-Porter (Prêt-à-Porter),
de Robert Altman; 1995: Grumpier Old Men (Como Pescar Uma Italiana Sem Partir a
Cana), de Howard Deutch; 1997: Soleil, de Roger Hanin; 2001: Francesca e
Nunziata de Lina Wertmüller (TV); 2002: Between Strangers (Entre Estranhos), de
Edoardo Ponti: 2004: Peperoni ripieni e pesci in faccia, de Lina Wertmüller;
2004: Lives of the Saints, de Jerry Ciccoritti (TV); 2009: Nine (Nove), de Rob
Marshall; 2010: La mia casa è piena di specchi, de Vittorio Sindoni (TV); 2014:
La Voce Umana, de Edoardo Ponti (curta-metragem).
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