segunda-feira, 21 de março de 2016

SESSÃO 15: 18 DE ABRIL DE 2016


PAGOS A DOBRAR (1944)

“Double Indemnity” pode traduzir-se por “dupla indemnização”, numa terminologia ligada a companhias de seguros. É o que se passa nesta obra retirada de um romance negro de James M. Cain (o mesmo de “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes”, com o qual a intriga deste “Pagos a Dobrar” tem muitos pontos de contacto), adaptado a cinema por um outro grande autor do policial negro, Raymond Chandler, argumento que contém ainda uma boa garfada do próprio Billy Wilder. Tal como em “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes”, o que aqui está em causa é a intenção de uma mulher (uma verdadeira “femme fatal” com uma ambição desmedida) em matar o marido para ficar com o seguro, enrolando no esquema um empregado de uma agência de seguros que se deixa prender de amores pela megera de falinhas mansas.
Há uma história curiosa de rivalidade entre produtores acerca desse filme: em 1944, David O. Selznick estreou com grande sucesso “Desde Que Tu Partiste”, e a campanha publicitária falava de "'Since You Went Away' como “as quatro mais importantes palavras no cinema desde 'Gone With the Wind'!", que também tinha sido produzido por Selznick. Billy Wilder não gostou da graça (o seu filme era do mesmo ano de 1944) e resolveu contra-atacar: "'Double Indemnity' são “as duas mais importantes palavras no cinema desde 'Broken Blossoms'!", referindo-se desta feita à obra prima de 1919  de D.W. Griffith. Selznick também não achou graça ao remoque e interpôs uma acção em tribunal por considerar ilegal este tipo de contra-publicidade. Mas há mais: Alfred Hitchcock, que tinha contas a ajustar com Selznick, acrescentou: "The two most important words in movies today are 'Billy Wilder'!"


E sim, Billy Wilder é um dos nomes mais representativos do cinema norte-americano entre os anos 40 e os anos 70. São dele algumas das pérolas daquela cinematografia, ele que nasceu austríaco, em 1906, numa aldeia que hoje é polaca (Sucha), para no início da década de 30 emigrar para a América, onde concretiza quase toda a sua filmografia como realizador. Antes, porém, na Alemanha, já adquirira prestígio como argumentista, depois de ter passado pela carreira de jornalista. Billy Wilder deu ao cinema títulos como “The Lost Weekend”, “Sunset Boulevard”, “The Big Carnival”, “Stalag 17”, “Same Like it Hot”, “The Apartment”, “The Front Page”, entre muitos outros igualmente meritórios, mas em 1944 afirmava-se já como um génio ao dirigir “Double Indemnity”, que ele disse não ter realizado a pensar que era um “filme negro”, mas que se afirma como um dos seus mais lídimos representantes. Na verdade, “Pagos a Dobrar” tem todas as características deste género, quer pelas situações, personagens, móbil do crime, mas sobretudo pela ambiência sombria e malsã em que decorre a acção, que liberta alguns dos piores sintomas de uma sociedade doente, obcecada pelo dinheiro, viciada pela ganância, corrupta e inebriada pelo sucesso fácil. Tudo isto são características que se adaptam bem à personagem principal, Phyllis Dietrichson (Barbara Stanwyck), que engendra todo o plano para matar o marido, depois de este ter assinado um chorudo seguro de vida que lhe foi proposto ardilosamente por Walter Neff (Fred MacMurray), com quem a viperina Phyllis Dietrichson mantinha um caso, obviamente muito conveniente para os seus intentos. No meio deste lamaçal de más intenções que idealizam o crime perfeito e a avultada recompensa financeira, aparece um astuto director de serviços da seguradora, Barton Keyes (um fabuloso Edward G. Robinson), que instintivamente descobre que nem tudo o que parece é.
O filme é admiravelmente contado, com uma magnífica fotografia preto e branco de John F. Seitz, uma iluminação que sublinha a sordidez dos ambientes, e uma partitura musical de Miklós Rózsa, daquelas que ficaram para a história.


Como nota João Benard da Costa num texto sobre  filme, “Double Indemnity” implica três leituras. É o nome da encruzilhada em que o corpo do marido de Barbara Stanwyck foi encontrado; é a referencia ao prémio do seguro que caberá a Phyllis por tal acidente; é ainda a inscrição da relação condenada em que os dois cúmplices se envolvem”. Esta óbvia e intencional sobrecarga de significados oferece ao filme uma tensão forte e obsessiva. Neste ambiente “negro” quase todas as personagens agem em função de desprezíveis intenções, não só o casal que imagina e executa o crime, mas a filha de Phyllis, o namorado desta, e quase todos os circundantes. O ambiente é de tal maneira doentio que Barbara Stanwyck, convidada para interpretar o papel principal, depois de ler o argumento o recusou, por o achar demasiado ignóbil. Foi Billy Wilder quem a convenceu, em boa hora: “És um rato ou uma actriz?”, ao que ela respondeu “quero ser uma actriz”. “Então aceita o papel”, ela aceitou e triunfou em toda a linha. Na verdade, a actriz tinha o perfil indicado para este trabalho.  Barbara Stanwyck atravessou todos os géneros, do melodrama à comédia, do western ao policial, mas terá sido no “filme negro” que melhor se identificou com figuras de “femme fatal” fria e calculista, mas de certa complexidade. Em “Pagos a Dobrar”, quem nos diz que Phyllis não está verdadeiramente interessada em Walter Neff? Recebeu quatro nomeações para o Oscar de Melhor Actriz, e foi-lhe atribuído um Oscar de carreira, em 1982.
Parece que a génese do filme não terá sido muito pacífica a nível de argumentistas. James M. Cain, o romancista, que se terá baseado num acontecimento verídico, ocorrido em 1920, e de que foi protagonista Ruth Snyder, não terá ficado muito satisfeito com a versão, e Raymond Chandler, o argumentista, quase terá cortado relações com Wilder, finda a rodagem. Diga-se que Chandler tem neste filme a sua única aparição no cinema: uma pequena figuração de um homem a ler um livro, enquanto Fred MacMurray desce uma escada (aproximadamente aos 16 minutos de projecção).
Em 2007, o American Film Institute organizou um inquérito sobre “Greatest Movie of All Time” e “Pagos a Dobrar” ficou em 29º lugar. Foi nomeado para sete Oscars, não tendo ganho nenhum: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor, Melhor Actriz, Melhor Argumento, Melhor Fotografia a preto e branco, Melhor Música e Melhor Som.

PAGOS A DOBRAR
Título original: Double Indemnity
Realização: Billy Wilder (EUA, 1944); Argumento: Billy Wilder, Raymond Chandler, segundo romance de James M. Cain; Produção: Buddy G. DeSylva, Joseph Sistrom; Música: Miklós Rózsa; Fotografia (p/b):  John F. Seitz; Casting: Harvey Clermont; Direcção artística: Hans Dreier, Hal Pereira; Decoração: Bertram C. Granger; Guarda-roupa:  Edith Head; Maquilhagem: Wally Westmore, Hollis Barnes, Robert Ewing, Charles Gemora; Direcção de Produção: Al Trosin; Assistentes de realização: Charles C. Coleman, Bill Sheehan; Departamento de arte: Jack Colconda, Jim Cottrell, Paul Tranz; Som: Stanley Cooley, Walter Obers; Efeitos visuais: Farciot Edouart; Companhia de produção: Paramount Pictures; Intérpretes: Fred MacMurray (Walter Neff), Barbara Stanwyck (Phyllis Dietrichson), Edward G. Robinson (Barton Keyes), Porter Hall (Mr. Jackson), Jean Heather (Lola Dietrichson), Tom Powers (Mr. Dietrichson), Byron Barr (Nino Zachetti), Richard Gaines (Edward S. Norton, Jr.), Fortunio Bonanova (Sam Garlopis), John Philliber (Joe Peters), James Adamson, John Berry, Raymond Chandler (homem a ler um livro), Edmund Cobb, Kernan Cripps, Betty Farrington, Bess Flowers, Miriam Franklin, Harold Garrison, Eddie Hall, Teala Loring, George Magrill, Sam McDaniel, Billy Mitchell, Clarence Muse, Constance Purdy, Dick Rush, Floyd Shackelford, Oscar Smith, Douglas Spencer, etc. Duração: 107 minutos; Distribuição em Portugal: Filmes Unimundos; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 24 de Agosto de 1945.
 

BARBARA STANWYCK (1907-1990)
Ruby Stevens, mais tarde conhecida por Barbara Stanwyck, nasceu a 16 de Julho de 1907, em Brooklyn, Nova Iorque, EUA, e viria a falecer a 20 de Janeiro de 1990, com 82 anos, em Santa Monica, Califórnia, EUA. Foi a mais nova de cinco irmãos, tendo ficado órfã de mãe aos dois anos, sendo depois abandonada pelo pai, que foi trabalhar para longe, precisamente para a região do canal do Panamá. Ruby foi criada por uma família amiga da família, e também por uma irmã mais velha, corista, com quem foi viajando e aprendendo o gosto pelo espectáculo. Ainda passou por uma família judaica, os Harold Cohens, de Flatbush, mas voltou a sentir-se rejeitada. Começou a trabalhar numa loja de Brooklyn, posteriormente na Companhia Telefónica de Nova York, dividindo o apartamento com uma amiga, Maude Groodie, actriz de Vaudeville. Aos 15 anos era corista, contratada por Billy Crisp e Earl Lindsay. Em 1926, passou a trabalhar para o produtor Willard Mack, tendo participado em “The Noose” (197 representações no Teatro Hudson), altura em que mudou o nome para Barbara Stanwyck, por sugestão de Willard, que olhou pra um cartaz onde se lia "Jane Stanwick in 'Barbara Frietchie” e juntou o nome da peça (“Barbara Fritchie”), ao da actriz que a interpretava (Jane Stanwick), alterando depois para Stanwyck. Assim surgiu Barbara Stanwyck. Em 1927, foi para Hollywood e estreou-se em “Broadway Nights”, mas o sucesso só viria quando começou a trabalhar com Frank Capra em “Ladies of Leisure” (1930). Rapidamente alcançaria o estatuto de vedeta, através de uma carreira carregada de triunfos em filmes dos mais variados géneros, sendo que o seu talento transparecia em todos eles, do melodrama, como “O Seu Grande Amor” (1932) ou “O Pecado das Mães” (1937), ao filme negro, em obras como “Pagos a Dobrar” (1944), um dos seus melhores filmes, da comédia, “Lembra-te Daquela Noite” (1940) ou “As Três Noites de Eva” (1941) ao western, onde nos deu trabalhos inesquecíveis como “Aliança de Aço” (1939), culminando na televisão, em séries como “The Big Valley” (1965), um dos seus desempenhos memoráveis, ou “Pássaros Feridos” (1983).

Quatro nomeações para Melhor Actriz, em “Stella Dallas” (1937), “Ball of Fire” (1941), “Double Indemnity” (1944) e “Sorry, Wrong Number” (1948). Em 1982, recebe um Oscar honorário, consagrando toda uma carreira. Nos Globos de Ouro, recebeu em 1986 o Cecil B. DeMille Award, de carreira, além de uma estatueta para Melhor Actriz Secundária de televisão em 1984, por “The Thorn Birds”, tendo ainda sido nomeada por mais três ocasiões, 1966, 1967 e 1968, por “The Big Valley”. De resto, acumulou prémios e nomeações ao longo de toda a sua carreira. Casada com Frank Fay (1928 - 1935) e Robert Taylor (1939 - 1952). Jurou nunca mais se casar. Cumpriu. Barbara Stanwyck faleceu de insuficiência cardíaca, aos 82 anos, no St. John's Hospital, tendo o corpo da actriz sido cremado, e suas cinzas espalhadas em Lone Pine, na Califórnia.
Os colegas de profissão elogiavam a sua maneira de ser, o carinho com que tratava os mais novos. Tinha muitos amigos entre os actores e realizadores (alguns: Julie London, John Forsythe, Jane Wyman, Loretta Young, Jean Arthur, Bette Davis, Frank Capra, Fred MacMurray, Lucille Ball, Bob Hope, Frank Sinatra, Tony Martin, Richard Basehart, Aaron Spelling, Robert Fuller, John McIntire, Denny Miller, Bruce Dern, Leif Erickson, Gavin MacLeod, Pernell Roberts, Jeanne Cooper, Richard Anderson, L.Q. Jones, Barry Sullivan, William Conrad, Joan Crawford, Bill Quinn, Harold Gould, James Whitmore). Era republicana, conservadora e membro da “The Motion Picture Alliance for the Preservation of American Ideals”, uma associação política que apoiava a acção do senador McCarthy durante o sinistro período da “caça às bruxas” em Hollywood. Outros membros conhecidos eram Ginger Rogers, Clark Gable, Gary Cooper, John Wayne ou Irene Dunne. No inquérito do American Film Institute sobre "100 Years of The Greatest Screen Legends", surge em11º lugar. O mesmo instituto organizou outro inquérito, sobre "100 Greatest Screen Heroes and Villains", onde aparece em 8º lugar. Ficou colocada em 40º lugar na votação da revista Entertainment Weekly dedicada à "Greatest Movie Star of All Time". A sua estrela no Hollywood Walk of Fame está localizada no nº 1751 de Vine St.

Filmografia

Como actriz: 1927: Broadway Nights ("Noites da Broadway") de Joseph C. Boyle; 1929: The Locked Door, de George Fitzmaurice; Mexicali Rose, de Sam Hardy; 1930: Ladies of Leisure, de Frank Capra; 1931: Illicit, de Archie Mayo; Ten Cents a Dance, de Lionel Barrymore; Night Nurse, de William A. Wellman; The Miracle Woman, de Frank Capra; The Stolen Jools (curta-metragem); 1932: Forbidden (O seu Grande Amor), de Frank Capra; Shopworn, de Nicholas Grinde; So Big!, de William A. Wellman; The Purchase Price, de William A. Wellman; 1933: The Bitter Tea of General Yen (A Grande Muralha), de Frank Capra; Ladies They Talk About, de  Howard Bretherton; Baby Face (A Mulher que nos Perde), de Alfred E. Green; Ever in My Heart, de Archie Mayo; 1934: Gambling Lady, de Archie Mayo; A Lost Lady, de Alfred E. Green; The Secret Bride, de William Dieterle; 1935: The Woman in Red, de Robert Florey; Red Salute, de Sidney Lansfield; Annie Oakley, de George Stevens; 1936: A Message to Garcia, de George Marshall; The Bride Walks Out (Uma Noiva em Férias), de Leigh Jason; His Brother's Wife (Febres Tropicais), de W.S. Van Dyke; Banjo on My Knee (A Canção do Rio), de John Cromwell; The Plough and the Star (A Primeira Batalha), de John Ford; 1937: Internes Can't Take Money, de Alfred Santell; This Is My Affair (Ordens Secretas), de William A. Seiter; Stella Dallas (O Pecado das Mães), de King Vidor; Breakfast for Two (Almoço para Dois), de Alfred Santell; 1938: Always Forever (Mãe Solteira), de Sidney Lansfield; The Mad Miss Manton (Oito Raparigas e Um Crime), de Leigh Jason; 1939: Union Pacific (Aliança de Aço), de Cecil B. DeMille; Golden Boy (Paixão Mais Forte), de Rouben Mamoulian; 1940: Remember the Night (Lembra-te Daquela Noite), de Mitchell Leisen; 1941: The Lady Eve (As Três Noites de Eva), de Preston Sturges; Meet John Doe (Um João Ninguém), de Frank Capra; You Belong to Me (Pertences-me), de Wesley Ruggles; Ball of Fire (Bola de Fogo), de Howard Hawks; 1942: The Great Man's Lady (A Mulher do Grande Senhor), de William A. Wellman; The Gay Sisters (As Três Herdeiras), de Irving Rapper; 1943: Lady of Burlesque (Noite Fantástica), de William A. Wellman; Flesh and Fantasy (Os Mistérios da Vida), de Julien Duvivier; 1944: Double Indemnity (Pagos a Dobrar), de Billy Wilder; Hollywood Canteen (Sonho em Hollywood), de Delmer Daves; 1945: Christmas in Connecticut (Indiscrição), de Peter Godfrey; Hollywood Victory Caravan (curta-metragem); 1946: My Reputation ( A Minha Reputação), de Curtis Bernhardt; The Bride Wore Boots, de  Irving Pichel; The Strange Love of Martha Ivers (O Estranho Amor de Martha Ivers), de Lewis Milestone; California (Califórnia), de John Farrow; 1947: The Two Mrs. Carrolls (Inspiração Trágica), de Peter Godfrey; The Other Love (A Orquídea Branca), de Andre de Toth; Cry Wolf' (A Mansão da Loucura), de Peter Godfrey; Variety Girl (Parada de Estrelas), de George Marshall; 1948: B. F.'s Daughter (A Rebelde), de Robert Z. Leonard; Sorry, Wrong Number (Três Minutos de Vida), de Anatole Litvak; 1949: The Lady Gambles (A Tentação do Jogo), de Michael Gordon; East Side, West Side (Mundos Opostos), de Mervyn LeRoy; The File on Thelma Jordon (Duas Confissões), de Robert Siodmak; 1950: No Man of Her Own (Nenhum Homem Era Dela), de Mitchell Leisen; The Furies (Almas em Fúria), de Anthony Mann; To Please a Lady (Medo de Amar), de Clarence Brown; 1951: The Man with a Cloak (O Homem das Sombras), de Fletcher Markle; 1952: Clash by Night (Desengano), de Fritz Lang; 1953: Jeopardy (Vida Contra Vida), de John Sturges; Titanic (A Tragédia do Titanic), de Jean Negulesco; All I Desire (Desejo de Mulher), de Douglas Sirk; The Moonlighter, de Roy Rowland; Blowing Wild (Vento Selvagem), de Hugo Fregonese; 1954: Witness to Murder (A Testemunha do Crime), de Roy Rowland; Executive Suite (Um Homem e Dez Destinos), de Robert Wise; Cattle Queen of Montana (A Rainha da Montanha), de Allan Dwan; 1955: The Violent Men (Homens Violentos), de Rudolph Maté; Escape to Burma (Os Rubis do Príncipe Birmano), de Alan Dwan; 1956: There's Always Tomorrow (A Vida Não Pára), de Douglas Sirk; The Maverick Queen (A Rainha do Mal), de Joseph Kane; These Wilder Years, de Roy Rowland; The Ford Television Theatre (TV) - episódio Sudden Silence; 1957: Crime of Passion (Da Ambição ao Crime), de Gerd Oswald; Trooper Hook, de Charles Marquis Warren; Forty Guns (Quarenta Cavaleiros), de Samuel Fuller; 1958: Alcoa Theatre (TV); Goodyear Theatre (TV); 1958-1959: Zane Grey Theater (TV); 1959: The Real McCoys (TV)  The McCoys Visit Hollywood; 1960-61: The Barbara Stanwyck Show (TV); 1961: General Electric Theater (TV); The Joey Bishop Show (TV); 1961-1964: Wagon Train (TV); 1962 - Walk on the Wild Side (Restos de Um Pecado), de Edward Dmytryk; Rawhide (TV); The Dick Powell Show (TV); 1962-1963: The Untouchables (TV); 1963: The Molly Kinkaid Story, de Virgil W. Vogel, episódio da série Wagon Trail (TV); The World’s Greatest Showman: a Legend of Cecil B. DeMille, de Boris Segal (TV) (Documentário);  1964: Roustabout (Romance no Luna Parque), de John Rich; The Night Walker (Passos na Noite), de William Castle; The Kate Crowley Story (TV) episódio de Wagon Trail; Calhoun: County Agent (TV);  1965-1969: The Big Valley (TV); 1970: The House That Would Not Die, de John Llowellyn Moxey (TV); 1971: A Taste of Evil, de J. L. Moxley (TV); 1973: The Parkingtons: Dear Penelope (TV) episódio de The Letters; 1980: Charlie's Angels (TV) The Male Angel Affair, de Ron Staloff; 1983: The Thorn Birds (Pássaros Feridos), de Daryl Duke (TV); 1985-86: Dynasty II – The Colbys (TV).

SESSÃO 14: 11 DE ABRIL DE 2016


SINFONIA DE ESTRELAS (1943)

“The Gang's All Here” é puro deleite no domínio do musical norte-americano, com o extra de ser interpretado pela luso-brasileira Carmen Miranda, neste caso muito bem acompanhada por um excelente elenco neste género de comédias musicais. O “gang” está reunido, é bem verdade. Não serão primeiras figuras, mas são daqueles actores de segundo plano que quando aparecem enchem o ecrã: Alice Faye, Phil Baker, Eugene Pallette, Charlotte Greenwood, Edward Everett Horton, Benny Goodman e a sua orquestra e o bailarino Tony De Marco.
A história não existe e quem se importa com isso? É mais um daqueles casos em que “boy meets girl”, há pelo meio uns desencontros e, no final, tudo acaba bem. Happy End. O filme é de 1943 e termina com uma frase que alerta para o facto de o espectador poder, à saída da sala, contribuir para o esforço de guerra. Tudo preparado para um filme patriótico, exaltando as virtudes do soldado americano, a defender a liberdade em terra europeia ou no oceano Pacífico. Portanto, ela é corista, ele soldado que vai partir para a frente de batalha, ela jura esperar por ele, mas ele tem outra namorada comprometida. Pelo meio deste entrecho que relembra milhares de outros, está a pepita de ouro, ou seja os números musicais onde impera Carmen Miranda, e a fabulosa genialidade de Busby Berkeley, como coreógrafo e também como realizador, neste caso. A obra abre com uma sequência que põe qualquer um que goste de musicais a vibrar: um navio vindo do Brasil chega ao porto de Nova Iorque e começa a descarregar açúcar, café, frutas… e Carmen Miranda, com um daqueles turbantes “tutti frutti” que deslumbram. Alguém canta “Brasil, meu Brasil brasileiro” e Carmen Miranda pega na deixa e vai por ali fora, sem que ninguém a consiga parar. Até que surge uma parada ianque, com música alusiva, e o delírio instala-se. É Busby Berkeley no seu melhor. Mas, mais adiante, temos a celebérrima sequência onde as bananas imperam, numa coreografia absolutamente de loucos, como só o génio de Berkeley conseguiria imaginar. E temos de novo Carmen Miranda, agora a cantar um dos seus hits, “The Lady in the Tutti Frutti Hat”. Apoteótico. Tudo isso se passa no Club New Yorker, com Benny Goodman “and his orquestra” a abrilhantar o conjunto. Na sequência final, em que coreógrafo e realizador voltam a endoidecer, o tema será um bailado em caleidoscópio, que tende a certa altura para a arte abstracta e que é outro momento memorável deste filme absolutamente imperdível para quem gosta do género.


Por entre este turbilhão de som e luz, de movimento e música, uns quantos apontamentos humorísticos a cargo dos excelentes Eugene Pallette, Charlotte Greenwood e Edward Everett Horton, e a presença “cativante” de Alice Faye, com os seus belos olhos azuis, que tenta temperar o desregramento tumultuoso dessa fabulosa Cármen Miranda, aqui no auge da sua glória nas telas norte-americanas.
Don Ameche, que fez vários filmes ao lado de Alice Faye, e também de Carmen Miranda,  era para ser o habitual parceiro galã de “Sinfonia de Estrelas”. Mas Ameche estava ocupado a filmar, com Ernest Lubitsch, “O Céu Pode Esperar” (1943). Por isso foi substituído pelo simpático e discreto James Ellison, a quem a certa altura, Alice Faye diz "stop acting like Don Ameche!". Uma "inside joke" bem divertida, que ajuda a dar o tom a esta despreocupada comédia musical que cumpre cabalmente as funções para que foi criada: divertir com graça e talento o público que ficava na retaguarda, e ajudar ao esforço de guerra.

SINFONIA DE ESTRELAS
Título original: The Gang's All Here
Realização: Busby Berkeley (EUA, 1943); Argumento: Walter Bullock, Nancy Wintner, George Root Jr., Tom Bridges; Produção: William Goetz, William LeBaron; Música: Hugo Friedhofer, e ainda Arthur Lange, Cyril J. Mockridge, Alfred Newman, Gene Rose (não creditados); Fotografia (cor):  Edward Cronjager; Montagem: Ray Curtiss; Design de produção: James Basevi, Joseph C. Wright; Decoração: Thomas Little; Guarda-roupa: Yvonne Wood; Maquilhagem: Guy Pearce; Coreografia: Busby Berkeley; Departamento de arte: Paul S. Fox; Som: Roger Heman Sr., George; Efeitos especiais: Fred Sersen; Companhias de produção: Twentieth Century Fox Film Corporation; Intérpretes: Alice Faye (Edie Allen), Carmen Miranda (Dorita), Phil Baker (Phil Baker), Benny Goodman (Benny Goodman), Benny Goodman Orchestra (Orquestra de Benny Goodman), Eugene Pallette (Andrew Mason Sr.), Charlotte Greenwood (Mrs. Peyton Potter), Edward Everett Horton (Peyton Potter), Tony De Marco (Tony), James Ellison (Andy Mason), Sheila Ryan (Vivian Potter), Dave Willock (Sgt. Pat Casey), Bando da Lua (Orquestra de Dorita), Leon Belasco, Brooks Benedict, Lee Bennett, Ruth Brady, Lorraine Breacher, Gabriel Canzona, Brooke Chapin, Jeanne Crain, Frank Darien, Aloysio De Oliveira, Jo-Carroll Dennison, George Dobbs, Johnny Duncan, etc. Bailarinos: Tony De Marco ("A Journey to a Star", "No Love, No Nothin" e "Paducah"), Charlotte Greenwood (The Jitters), Bobby Somers  (“Polka Dot Polka"); Duração: 103 minutos; Distribuição em Portugal: inexistente; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 17 de Fevereiro de 1944.      



CARMEN MIRANDA (1909-1955)
Nascida em Portugal, Carmen Miranda foi considerada uma das maiores cantoras da América Latina, durante muitos anos “a voz” do Brasil no mundo e certamente um símbolo da cultura popular no Brasil. Arrebatou durante décadas o coração de plateias internacionais com o génio do seu talento, a sua inconfundível voz e aquele “it” que a tornou excepcional.
Portuguesa por nascimento, brasileira por coração, apesar de nunca ter renunciado à sua condição de portuguesa (tinha dupla nacionalidade), era filha de José Maria Pinto da Cunha, barbeiro, e de Maria Emília Miranda, doméstica, como se dizia na altura. Nasceu em Marco de Canaveses, a 9 de Fevereiro de 1909, em plena agonia da Monarquia, pouco menos de um ano de ser implantada a República em Portugal. Foi baptizada com o nome de Maria do Carmo Miranda da Cunha, na igreja da freguesia de Várzea da Ovelha e Aliviada. Nesse tempo, Portugal era um país muito pobre e a emigração para o Brasil era intensa. A família tinha organizado tudo para procurar sustento e uma vida melhor em terras de Vera Cruz. O casal e a filha mais velha, Olinda, estavam de malas aviadas para a viagem, quando a mãe ficou grávida. Foi assim que José Maria Pinto da Cunha seguiu sozinho, deixando para trás mulher e filhas, esperando que rapidamente se juntassem a ele no Rio de Janeiro, onde montou estabelecimento de barbearia. Em 1910, Maria Emília seguiu o marido, acompanhada da filha mais velha, Olinda, e de Carmen, que ganhou este nome no Brasil, graças ao gosto que um tio tinha por óperas. Carmen tinha menos de um ano de idade e nunca voltou ao seu país natal. No Brasil, nasceram mais outros quatro filhos do casal: Amaro (1911), Cecília (1913-2011), Aurora (1915 - 2005) e Oscar (1916). Carmen estudou numa escola de freiras, Santa Teresa, e teve o seu primeiro emprego aos 14 anos, numa loja de gravatas, e depois numa chapelaria. Contam que foi despedida por passar o tempo cantando, mas o seu biógrafo Ruy Castro diz que ela cantava por influência de sua irmã mais velha, Olinda, e que assim atraía clientes. Em 1925, Olinda, doente com tuberculose, voltou a Portugal para tratamento, onde morreu em 1931. Entretanto, a mãe passou a dirigir uma pensão doméstica que servia refeições para empregados de comércio. Em 1926, Carmen, que tentava ser artista, apareceu incógnita numa fotografia da revista “Selecta”, do jornalista Pedro Lima. Em 1929, foi apresentada ao compositor Josué de Barros, que, encantado com o seu talento, passou a promovê-la em editoras e teatros. No mesmo ano, gravou, na editora alemã Brunswick, os primeiros discos com o samba “Não Vá Sim'bora” e o choro “Se o Samba é Moda”. O primeiro grande sucesso veio com “Ta-hi!”, de Joubert de Carvalho, tema lançado em 1930 e que foi recorde de vendas, com mais de 36 mil cópias vendidas. Em seis meses, Carmen Miranda já era a cantora mais famosa do Brasil. Por essa altura, ajudou a lançar a irmã Aurora Miranda na carreira artística, tendo actuado algumas vezes conjuntamente. Em 1931, viajou pela primeira vez para a Argentina, com os cantores Francisco Alves, Mário Reis e com o bandolinista Luperce Miranda. Voltaria à Argentina mais oito vezes, entre os anos de 1933 e 1938. Com um pouco mais de um metro e meio de altura, franzina e de olhar gaiato, Carmen Miranda cedo se transformou numa coqueluche no Brasil, sendo mais tarde conhecida internacionalmente como “The Brazilian Bombshell”.
No cinema, depois de figurações, faz a uma estreia no documentário “A Voz do Carnaval” (1933) e, dois anos depois, surge no seu primeiro filme, “Alô, Alô, Brasil” (1935). Em 1939, na comédia musical “Banana da Terra”, Carmem Miranda apareceu pela primeira vez caracterizada de baiana, personagem que a lançou internacionalmente. O filme apresentava clássicos como “O que é que a Baiana tem”, que lançou Dorival Caymmi no cinema. O sucesso como cantora é retumbante. No disco, na rádio, nos shows de casinos, no cinema. Rapidamente o seu êxito extravasa fronteiras. Quando actuava no Cassino da Urca, foi contratada pelo magnata do show business, Lee Shubert, para ser uma das atracções do seu próximo espectáculo “The Streets of Paris”, que estrearia na Broadway. Em 1939, Carmen viaja para Nova Iorque, onde é recebida apoteoticamente pela imprensa. Estreia-se em espectáculos da Broadway e, no ano seguinte, contratada pela Twentieth Century-Fox, lança-se no cinema norte-americano, com “Sinfonia dos Trópicos” (1940), ao lado de Betty Grable e Don Ameche. No mesmo ano, foi eleita a terceira personalidade mais popular nos Estados Unidos, e apresenta-se, juntamente com o seu grupo privativo, o “Bando da Lua”, na Casa Branca, a convite do presidente Franklin Roosevelt. Carmen Miranda torna-se particularmente conhecida pela exuberância dos seus vestidos, pelos chapéus carregados de frutas tropicais, pelos saltos altíssimos dos seus sapatos, pelos penduricalhos ao pescoço. Segue-se um período longo nos EUA, com apenas algumas escapadas ao Brasil, onde chegou a ser criticada por se ter “americanizado”. O triunfo é fulgurante. Carmen Miranda é uma das mais requisitadas vedetas de musicais da época. Trabalha ininterruptamente no cinema até 1953, quando intervém no seu último filme, “O Castelo do Terror”, ao lado de Jerry Lewis e Dean Martin. As aparições na televisão tinham-se igualmente multiplicado. A sua actividade era transbordante e em cada actuação a artista colocava toda a sua energia. A 4 de Agosto de 1955, sofre um ataque de coração em pleno “The Jimmy Durante Show”. Não se apercebe da gravidade do ocorrido, volta para casa depois de passar por uma festa, e na manhã seguinte sofre um segundo ataque, desta feita fatal. Morre com 46 anos, o corpo regressa ao Brasil, que lhe dedica exéquias como raras vezes se viram no Rio de Janeiro. Milhões de admiradores cerram fileira para verem passar o enterro daquela que para sempre ficou como a rainha do samba e da música brasileira. Casada com David Alfred Sebastian (1947-1955). Em Junho de 1946, o Tesouro americano divulgou o que arrecadou do ano fiscal de 1945, referente aos ganhos dos contribuintes em 1944. Com os 201.458 dólares que lhe tinham sido pagos pela Fox “em salários, bónus e outras compensações”, Carmen Miranda foi considerada a mulher mais bem paga nos Estados Unidos - talvez no mundo - naquele ano. Ela foi a primeira estrela latino-americana a ser convidada a imprimir as mãos e os pés no pátio do Grauman's Chinese Theatre, em 1941, e tornou-se igualmente a primeira sul-americana a ser homenageada com uma estrela no Passeio da Fama. Carmen é considerada ainda a precursora do Tropicalismo no Brasil, movimento cultural da década de 1960. Nos 20 anos de carreira deixou sua voz registada em 279 gravações no Brasil e mais 34 nos EUA, num total de 313 gravações. Um museu foi construído mais tarde, no Rio de Janeiro, em sua homenagem. Um cruzamento de Hollywood Boulevard e de Orange Drive, bem na frente do Teatro Chinês em Hollywood, foi oficialmente denominado Carmen Miranda Square, em Setembro de 1998. Até hoje, nenhum artista brasileiro teve tanta projecção internacional como ela.


Filmografia:
Como actriz (no Brasil): 1926: La Mujer de Medianoche (no Brasil: A Esposa do Solteiro), de Carlo Campogalliani (figurante); 1930: Degraus da Vida, de Lourival Agra (aparece apenas numa cena); 1932: O Carnaval Cantado de 1932, de Vital Ramos de Castro; 1933: A Voz do Carnaval, de Adhemar Gonzaga, Humberto Mauro; 1935: Alô, Alô, Brasil, de João de Barro, Wallace Downey, Alberto Ribeiro; Estudantes, de Wallace Downey; 1936: Alô, alô, Carnaval, de Adhemar Gonzaga; 1939: Banana da Terra, de Ruy Costa; 1940: Laranja-da-China, de Ruy Costa; (nos EUA): 1940: Down Argentine Way (Sinfonia dos Trópicos), de Irving Cummings; 1941: That Night in Rio (Uma Noite no Rio), de Irving Cummings; Week-end in Havana (Férias em Havana), de Walter Lang; 1942: Springtime in the Rockies (Primavera nas Montanhas), de Irving Cummings; 1943: The Gang's all Here (Sinfonia das Estrelas), de Busby Berkeley; 1944: Greenwich Village (Serenata Boémia), de Walter Lang; Four Jills in a Jeep" (Quatro Raparigas Encantadoras), de William A. Seiter; Something for the Boys (Alegria, Rapazes),  de Lewis Seiler; 1945: Doll Face (Sonho de Estrelas), de Lewis Seiler; 1946: If I'm Lucky (A Canção da Felicidade),  de Lewis Seiler; 1947: Copacabana (Copacabana), de Alfred E. Green; 1948: A Date with Judy (A Professora de Rumba), de Richard Thorpe; 1950: Nancy Goes to Rio (Festa no Brasil),  de Robert Z. Leonard; 1953: Scared Stiff (O Castelo do Terror), de George Marshall; 1995: Carmen Miranda: Banana is My Business, de Helena Solberg (documentário); 1996: Carmen Miranda: The South American Way, de Elizabeth Bronstein (documentário);
Teatro: 1939 a 1940: The Streets of Paris, com Bobby Clark, Luella Gear e Abbott & Costello; 1941 a 1943: Sons o' Fun, com Olsen & Johnson e Ella Logan;

Televisão: 1949: The Ed Wynn Show (1º Temporada, Episódio #2); Texaco Star Theater (1º Temporada, Episódio #33); 1950: Texaco Star Theater (3º Temporada, Episódio #10); 1951: TV Club (1º Temporada, Episódio #25); Texaco Star Theater (4º Temporada, Episódio #8); What's My Line? (Episódio de 18 de Novembro de 1951); The Colgate Comedy Hour (2º Temporada, Episódio #16); Four Star Revue (1º Temporada, Episódio #25); 1952: The Colgate Comedy Hour (2º Temporada, Episódios #25 e #26); Texaco Star Theater (5º Temporada, Episódio #2); 1953: Four Star Revue (3º Temporada, Episódio #27); Toast of the Town (7º Temporada, Episódio #1); 1955: The Jimmy Durante Show (2º Temporada, Episódio #2). 

SESSÃO 13: 4 DE ABRIL DE 2016


A FAMÍLIA MINIVER (1942)

Será interessante começar por lembrar-se que este filme, datado de 1942, foi rodado antes dos EUA terem entrado na II Guerra Mundial. No fim do conflito, Winston Churchill terá dito que “este filme fez mais pela causa dos Aliados do que uma frota de caças”. Quanto ao realizador, William Wyler, que era judeu nascido alemão, mas posteriormente naturalizado norte-americano, também ele afirmou que concebeu esta obra com intenções de propaganda, procurando convencer o governo americano a deixar a neutralidade que até ali mantinha e a juntar-se aos Aliados. As suas razões eram tão profundas que, mal acabou de rodar “Mrs. Miniver”, se alistou no exército para declarar no fim que “ as suas experiências de guerra o fizeram perceber quanto o seu filme mostrava a guerra de forma superficial”.
Olhando hoje para o filme, não será essa “forma superficial” o que prevalece, mas sobretudo um outro aspecto, que terá concorrido em muito para o seu sucesso junto do público mundial (sobretudo na América e em Inglaterra, como se compreenderá), mas o facto de mostrar a guerra vista de casa e não das trincheiras. Filmes espectaculares que mostram o horror da guerra há muitos. Obras que põem a descoberto as feridas e a dor das famílias no seu dia-a-dia não haverá assim tantos, e não havia muitos nesse início da década de 40 do século XX. Foi esse intimismo que terá tocado os espectadores e que levou Churchill a perceber o seu impacto e a sua importância na mobilização das consciências. Mas mesmo o Presidente Roosevelt incentivou a ida ao cinema para ver este filme. O Departamento de Informação de Guerra dos EUA terá mesmo “colaborado” no argumento, ao sugerir que a tradicional imagem sedutora da sociedade inglesa oferecida por Hollywood nos seus filmes fosse “humanizada”, tornada mais “normal”, atenuando diferenciações sociais, o que é visível sobretudo no estatuto da família Miniver, mais aproximado da classe média no filme do que no romance que lhe está na base.
William Wyler foi um dos mais importantes cineastas norte-americanos, com uma carreira iniciada ainda durante o mudo e que se prolongaria até à década de 70. Ele e John Ford disputavam o lugar de número um no ofício e o seu significado no interior da indústria cinematográfica era enorme.


Este filme de Wyler, uma produção de Sidney Franklin, parte de um argumento assinado por Arthur Wimperis, George Froeschel, James Hilton e Claudine West, baseado num romance homónimo de Jan Struther, pseudónimo literário da escritora inglesa Joyce Anstruther, que ficou na história da literatura essencialmente pelo seu romance “Mrs. Miniver”, uma obra que teve uma curiosa génese. Na verdade, depois de uma colaboração regular na revista “Punch”, em meados dos anos 30, foi convidada a escrever uma coluna no “The Times” sobre "uma mulher normalíssima que levava uma vida igualmente normal, tal como a sua própria vida”. Foi assim que surgiu a personagem de Mrs Miniver, que mais tarde inspiraria o romance publicado em 1939 (portanto, numa altura em que a Inglaterra declarava guerra à Alemanha de Hitler).
Quem acusou o filme de “patriótico e sentimental” acertou por completo na mouche, mas esta não pode ser considerada uma crítica negativa. Era essa a intenção do romance e posteriormente do filme. Mas caracterizá-lo como uma obra romântica ficará mais correcto. Como era pretendido pelo “The Times” Mrs. Miniver (Greer Garson, no filme) era uma vulgar mulher de classe média inglesa, com uma boa família, que vive numa confortável casa, “Starlings”, em Belham, uma pequena cidade imaginada, nos subúrbios de Londres, com saída para o rio Tamisa, que por ali passa. Casada com Clem (Walter Pidgeon), um arquitecto, tem três filhos, Toby, Judy e Vin (Richard Ney), este o mais velho, a estudar na universidade. De visita a casa dos pais, em férias, conhece Carol Beldon (Teresa Wright), por quem se apaixona, apesar deste namoro não ser bem visto por Lady Beldon (Dame May Whitty), uma velhota rabugenta e muito ciosa da sua árvore genealógica e dos seus pergaminhos e privilégios. Tudo parece correr, apesar disso, no melhor dos mundos, quando a guerra rebenta e Vic se oferece como piloto e passa a descolar para perigosos voos de uma base militar próxima de sua casa. Seguem-se alguns episódios de guerra, que na Inglaterra foram sobretudo bombardeamentos alemães sobre as cidades, com o cotejo consequente de feridos, mortes e também de pilotos nazis abatidos, o que o filme vai testemunhando sempre sob a perspectiva da família que habita “Starlings”, e vai assistindo à guerra no interior das paredes do seu lar ou no jardim que dá para o Tamisa. O comportamento das personagens terá contribuído para o mito de que os ingleses são fleumáticos e que defrontam a adversidade com uma aparente calma, pois é isso mesmo que acontece, com um ou outro lampejo de maior emotividade. Mas é sobretudo de sublinhar a coragem de quem vive o dia-a-dia sem dramatismos escusados e vai ultrapassando os obstáculos com o sangue-frio possível, mesmo quando os obstáculos são as paredes esventradas da sua própria casa atingida pelos bombardeamentos.
William Wyler conduz o filme com a serenidade de um britânico, evitando o melodrama estridente, mantendo a emoção bem doseada, aproveitando-se da belíssima fotografia a preto e branco de Joseph Ruttenberg e da partitura musical de Herbert Stothart. Mas Wyler torna-se notado por pequeníssimos apontamentos de vida diária, que tornam a obra particularmente tocante e original. Esse sentido do pormenor que parece nada acrescentar à obra, mas que finalmente lhe traz uma genuína e autêntica humanidade, é seguramente um dos toques pessoais deste cineasta invulgar, admirável director de actores, como o demonstra todo o elenco deste título. Greer Garson e Walter Pidgeon comandam, muito bem acompanhados de perto por Teresa Wright, Dame May Whitty, Reginald Owen, Henry Travers, Richard Ney ou Henry Wilcoxon.


O filme custou 1.34 milhões, mas angariou 8.878.000, para lá da sua contribuição para a entrada dos EUA na guerra. De resto, os Oscars do ano compensaram bem o empreendimento, outorgando-lhe seis estatuetas: Melhor Filme (na altura chamado “Outstanding Motion Picture”), Melhor Realização (William Wyler), Melhor Actriz (Greer Garson), Melhor Actriz Secundária (Teresa Wright), Melhor Argumento (George Froeschel, James Hilton, Claudine West, Arthur Wimperis      ) e Melhor Fotografia a preto e branco (Joseph Ruttenberg). Esteve nomeado ainda para outras seis categorias: Melhor Actor (Walter Pidgeon), Melhor Actor Secundário (Henry Travers), Melhor Actriz Secundária (Dame May Whitty), Melhor Som (Douglas Shearer), Melhor Montagem (Harold F. Kress) e Melhor Efeitos Especiais (A. Arnold Gillespie, Warren Newcombe e Douglas Shearer).
Devido ao sucesso, em 1950 surgiu uma sequela, com os mesmos actores como protagonistas, “The Miniver Story” (A História dos Miniver), com realização de H.C. Potter e Victor Saville (este não creditado). Interessante, mas sem o sucesso do original que, em 2006, quando o American Film Institute estabeleceu a lista dos filmes mais inspiradores de sempre, apareceu colocado num muito honroso 40º lugar. Em 2009, como resultado desta importância e significado, foi escolhido pelo National Film Registry da Library of Congress para ser preservado pelo seu interesse "cultural, histórico e estético”. A qualidade do filme nunca esteve em causa: no próprio ano de estreia, 592 críticos de cinema norte-americanos escolhera o melhor filme do ano na revista “Film Daily”, e desses 555 optaram por apontar “Mrs. Miniver”. O filme teve uma versão radiofónica, em 1943, produzida pelo Lux Radio Theatre e, em 1960, uma nova versão, desta feita televisiva, dirigida por Marc Daniels para a CBS, com Maureen O'Hara (Mrs. Miniver) e Leo Genn (Clem Miniver).
Diga-se ainda que, como resultado de ser rodado durante um período de grandes transformações, o argumento e as próprias filmagens se foram adaptando a essas mudanças. Por exemplo, o confronto de Mrs Miniver com o piloto alemão caído em território inglês teve sucessivas versões, até à final, posto que a posição dos americanos quanto aos alemães ia endurecendo, sobretudo depois do episódio de Pearl Harbour.
Duas curiosidades, a fechar: Greer Garson, que não foi a primeira escolha para o papel de Mrs. Miniver (teria sido Norma Shearer, que recusou por não querer aparecer como mãe),logo após o fim das filmagens, casou-se com Richard Ney, que interpreta o seu filho Vin no filme. Mais uma história sobre a mesma actriz: o discurso de Greer Garson quando recebeu o Oscar de Melhor Actriz foi o mais longo da história destas cerimónias: durou mais de uma hora. Percebe-se porque a organização terá introduzido a já habitual musica de fundo em crescendo, para anunciar o fim dos agradecimentos.

A FAMÍLIA MINIVER
Título original: Mrs. Miniver
Realização: William Wyler (EUA, 1942); Argumento: Arthur Wimperis, George Froeschel, James Hilton, Claudine West, Paul Osborn, R.C. Sherriff, segundo romance de Jan Struther; Produção: Sidney Franklin, William Wyler; Música: Herbert Stothart; Fotografia (p/b): Joseph Ruttenberg; Montagem: Harold F. Kress; Direcção artística: Cedric Gibbons; Decoração: Edwin B. Willis; Guarda-roupa: Robert Kalloch; Maquilhagem: Sydney Guilaroff; Assistentes de realização: Walter Strohm; Departamento de arte: Urie McCleary; Som: Douglas Shearer; Efeitos especiais: A. Arnold Gillespie, Warren Newcombe; Efeitos visuais: Max Fabian; Companhia de produção: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM); Intérpretes: Greer Garson (Mrs. Miniver), Walter Pidgeon (Clem Miniver), Teresa Wright (Carol Beldon), Dame May Whitty (Lady Beldon), Reginald (Foley), Henry Travers (Mr. Ballard), Richard Ne (Vin Miniver), Christopher Severn (Toby Miniver), Clare Sandars (Judy Miniver), Henry Wilcoxon, Brenda Forbes, Marie De Becker, Helmut Dantine, John Abbott, Connie Leon, Rhys Williams, Harry Allen, Frank Atkinson, Sybil Bacon, Frank Baker, Virginia Bassett, Louise Bates, Guy Bellis, Charles Bennett, Florence Benson, Art Berry Sr., Tom Conway, Sidney Franklin, Douglas Gordon, Eddie Hall, Henry King, Peter Lawford, Eric Lonsdale, Clara Reid, Leslie Vincent, Ian Wolfe, etc. Duração: 134 minutos; Distribuição em Portugal: MGM; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 28 de Fevereiro de 1944.


GREER GARSON (1904-1996)
Em finais dos anos 50, era eu ainda um jovem estudante liceal, vi num cinema da Ericeira, onde passava férias, um filme de que gostei, “Uma Estranha na Cidade”, e uma actriz que me ficou na memória, Greer Garson. Nunca mais voltei a rever o filme, não sei qual seria hoje a minha impressão, mas continuo a gostar da actriz, que depois revi nalguns outros títulos, não muitos, que ela foi parca em criações. Nascida em Manor Park, Newham, Londres, Inglaterra, com o nome de Eileen Evelyn Greer Garson, a 29 de Setembro de 1904, viria a falecer em Dallas, nos EUA, a 6 de Abril de 1996, com 91 anos de idade. Os pais foram George e Nancy Sophia, que tinham ascendência irlandesa e escocesa, e talvez por isso Greer Garson pôs a circular que era irlandesa. Estudou na universidade de Londres, depois em Grenoble, em França, parecia destinada a ser professora, mas começou a trabalhar numa agência de publicidade e depois interessou-se pelo teatro, nomeadamente no Birmingham Repertory Theatre, sobretudo reportório clássico, ao lado de Laurence Olivier, por exemplo em “Golden Arrow”. Em finais da década de 30 era assídua na televisão. 


Ganha fama nos palcos de West End e, em 1933, casa com Alec Abbot Snelson, de quem se divorcia em 1940. Foi o produtor Louis B. Mayer que a viu trabalhar em Londres e lhe ofereceu um contrato na Metro-Goldwyn-Mayer, para onde roda o seu primeiro filme, “Adeus, Mr. Chips”, em 1939, ainda em estúdios ingleses. Apesar de o papel ser curto, ao lado de Robert Donat, faz sucesso e é nomeada para o Oscar de Melhor Actriz, pela primeira vez. Entre 41 e 45, não deixa de ser sempre indicada, igualando o record de Bette Davis. Seguem-se “Flores do Pó”, “A Família Miniver”, “Madame Curie”, “A Srª. Parkington” e “O Vale do Destino”, cinco nomeações e um Oscar, em Mrs. Miniver. Voltaria a ser nomeada em 1961, por “Sunrise at Campobello”. Foi um período de grande actividade e deslumbramento. Greer Garson era, à falta de concorrentes, a grande vedeta da MGM, com uma silhueta de grande senhora, muito longe da mulher fatal que outras encarnavam nessa época. A esposa dedicada e a mãe de família que todos queriam ter. Trabalhando muito sob a direcção de alguns realizadores (Robert Z. Leonard, Mervyn LeRoy, Tay Garnett, por exemplo), estabeceu com Waler Pidgeon uma parelha (oito filmes) que fez furor nos corações românticos. Quando acabou de filmar “Mrs. Miniver” não se casou com ele, mas sim com Richard Ney, o actor que fazia de seu filho na obra, e que era 24 anos mais novo. Com o seu trabalho nesse título, ganhou o seu Oscar de Melhor Actriz e levou mais de 50 minutos no discurso de agradecimento. Um record.
O seu casamento com Richard Ney durou quatro anos, e em 1949, Garson opta por um milionário texano, Buddy Fogelson, com quem ficará até final da vida deste (1987). Deixa a MGM e entra para a Warner Bros., onde protagoniza um western pouco ortodoxo, “Uma Estranha na Cidade”, de novo sob as ordens de Mervyn LeRoy. A sua carreira passa depois para a televisão, para o teatro, onde, em 1958, obtém um triunfo total, com “Auntie Mame”, na Broadway, substituindo a intérprete original, Rosalind Russell. Após o que se retira cada vez mais para os seus ranchos no Novo México e em Dallas, onde viria a falecer, em 1996, de ataque cardíaco, aos 91 anos.

Filmografia

Como actriz: 1934: Inasmuch... (curta-metragem); 1937: How He Lied to Her Husband (TV); Theatre Parade (TV); The School for Scandal (TV); 1939: Goodbye, Mr. Chips (Adeus, Mr. Chips), de Sam Wood; Remember? (Três sem Juízo), de Norman Z. McLeod; 1940: Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito) de Robert Z. Leonard; 1941: Blossoms In the Dust (Flores do Pó) de Mervyn LeRoy; When Ladies Meet (Quando Elas se Encontram), de Robert Z. Leonard; 1942: Mrs. Miniver (A Família Miniver), de William Wyler; Random Harvest (A Noiva Perdida), de Mervyn LeRoy; 1943: Madame Curie (Madame Curie), de Mervyn LeRoy; 1944: Mrs. Parkington (A Srª. Parkington), de Tay Garnett; 1945: The Valley of Decision (O Vale do Destino), de Tay Garnett; Adventure (Aventura), de Victor Fleming; 1947: Desire me (A Mulher do Outro), de George Cukor; 1948: Julia Misbehaves (Travessuras de Júlia), de Jack Conway; 1949: That Forsyte Woman (A Glória de Amar), de Compton Bennett; 1950: The Miniver Story (A História dos Miniver), de H.C. Potter; 1951: The Law and the Lady (Pomo de Discórdia),  de Edwin H. Knopf; 1952: Scandal at Scourie (Aventureira de Ocasião), de Jean Negulesco; 1953: Julius Caesar (Júlio César), de Joseph L. Mankiewicz; 1954: Her Twelve Men (Entre Doze Homenzinhos), de Robert Z. Leonard; 1955: Strange Lady in Town (Uma Estranha na Cidade), de Mervyn LeRoy; Producers' Showcase (TV); 1956: The Little Foxes (TV); Star Stage (TV); 1956-1960 General Electric Theater (TV); 1957 Father Knows Best (TV); Telephone Time (TV); 1960: Pepe (Pepe), de George Sidney (caméo); Sunrise at Campobello (Dez Passos Imortais), de Vincent J. Donehue; Captain Brassbound's Conversion (TV): 1962: The DuPont Show of the Week (TV); 1963: The Invincible Mr. Disraeli, de George Schaefer (TV); 1966: The Singing Nun (A Irmã Sorriso) de Henry Koster; 1967: The Happiest Millionaire (O Milionário Mais Feliz), de Norman Tokar; 1968: The Little Drummer Boy (voz); 1970: The Virginian (TV); 1974: Crown Matrimonial (TV); 1976: That's Entertainment, Part II (Hollywood, Hollywood); 1976: The Little Drummer Boy Book II (voz); 1978: Little Women, de David Lowell Rich (TV); Rockette: A Holiday Tribute to Radio City Music Hall; 1981: A Gift of Music, de Jeff Margolis (TV); 1982: The Love Boat (O Barco do Amor) (TV).

SESSÃO 12: 28 DE MARÇO DE 2016


A ESTRANHA PASSAGEIRA (1942)

Irving Rapper (1898-1999), nascido em Londres, mas respeitado cineasta norte-americano, para todos os efeitos, não se pode considerar um dos seus grandes autores, mas a verdade é que assinou alguns dos sucessos dos anos 40, estando muito associado a triunfos de Bette Davis, enquanto ambos trabalharam para a Warner Bros. Começou a carreira como actor, depois encenador na Broadway, enquanto estudava na Universidade de Nova Iorque, passando ao cinema, em 1936, como dialoguista e assistente de realização contratado pela Warner Bros. Entre 1942 e 1952 dirigiu Bette Davis em quatro filmes, considerados dos melhores desta primeira fase da actriz: “Now, Voyager” (1942), “The Corn Is Green” (1945), “Deception” (1946), e “Another Man's Poison” (1952). Mas Rapper dirigiu outros filmes particularmente interessantes, como “The Adventures of Mark Twain” (1944), o dedicado a George Gershwin, “Rapsódia em Blue” (1945), “One Foot in Heaven” (1941), “The Brave One” (1956), com o qual Dalton Trumbo ganhou um Oscar da Academia, assinando com o pseudónimo Robert Rich, pois estava inscrito nas listas negras do macarthismo, ou “The Glass Menagerie” (1950), primeira adaptação ao cinema de uma peça teatral de Tennessee Williams. Morreu dias antes de completar 102 anos.
Entretanto, Bette Davis, que entrara para a Warner em 1932, depois de uma curta passagem pela Universal, sem qualquer relevo, torna-se num dos rostos da produtora, possivelmente a sua vedeta de maior sucesso. Em 1934, consegue a primeira das suas onze nomeações para Melhor Actriz, em “Of Human Bondage”, no ano seguinte ganhou o seu primeiro Oscar com “Dangerous” e, três anos depois, repete o feito com “Jezebel”. No seu período Warner surge ainda em “Dark Victory”, “The Old Maid”, “The Letter”, “The Little Foxes”, “The Great Lie”, ou “Mr. Skeffington”. “Deception” (1946) marca o início de um curto período de apagamento, regressando em glória em “All About Eve” (1951).


“Now, Voyager” parte de um romance de Olive Higgins Prouty que integra uma saga familiar em cinco volumes, “The White Fawn” (1931), “Lisa Vale” (1938), “Now, Voyager” (1941), “Home Port” (1947), e “Fabia” (1951). Ambientado em Boston, esta terceira etapa da história da família Vale andou em bolandas pelo estúdio Warner durante vários anos. Inicialmente seria o realizador Edmund Goulding a dirigi-la com Irene Dunne como protagonista, depois coube a vez a Michael Curtiz, que pretendia trabalhar com Norma Shearer. Mas o produtor Hal B. Wallis acabou por achar que Bette Davis seria a melhor aposta, escolhendo o jovem Irving Rapper para concretizar o projecto. Bette Davis era já conhecida pelo seu mau feitio, por um lado, e perfeccionismo por outro. Apanhando pela frente um director tenrinho, terá manobrado a seu belo prazer. Parece que escolheu o guarda-roupa, seu e de outros actores, interferiu no penteado de Paul Henreid, discutiu o argumento e não seria surpresa para ninguém se tivesse dado os seus palpites à iluminação do director de fotografia, Sol Polito. Afinal ela sabia muito bem qual o seu melhor ângulo e o seu perfil predilecto. Irving Rapper ter-se-á lamentado da sua relação com Davis, o que já não era novidade, no filme anterior a actriz cortara relações com Michael Curtiz, mas sempre elogiou o extraordinário talento da actriz. Pelo resultado final, não se pode dizer que Bette Davis e Irving Rapper não tenham, em conjunto, funcionado bem, pelo menos para o espectador, dado que o resultado final acabaria por ser um dos mais belos e modelares melodramas desta época no cinema americano.
“Estranha Passageira” é uma daquelas obras onde tudo parece harmonizar-se de forma perfeita, onde o toque de magia terá imperado, onde a soma de todos os elementos acaba por ser superior ao que se poderia esperar. O argumento é extremamente interessante e desenvolve-se de forma coerente, mantendo o espectador envolvido pelo ambiente e pelo destino das personagens. Deve dizer-se que a realização é sóbria e profundamente eficaz, com momentos de subtil toque de classe, quer pelos enquadramentos, pelos movimentos discretos, pela tonalidade escolhida. Muito contribui a excelente fotografia de Sol Polito, num preto e branco particularmente sugestivo, e a partitura musical de Max Steiner, que se tornou um clássico. 
 

A protagonista é Charlotte Vale (Bette Davis), que no início nos surge como uma jovem mulher perfeitamente subjugada ao domínio tirânico de uma mãe possessiva e arrogante. Mrs. Henry Vale (Gladys Cooper) é uma velha empertigada e opressiva que encerra a filha num colete-de-forças que a leva à esquizofrenia. O retrato então composto por Bette Davis é notável, desde o cabelo aos sapatos, dos óculos ao vestidinho de ramagens que só pode ser a preto e branco ou em tons de cinzentos, passando pela postura das mãos, à forma como anda ou se senta, culminando com o tom de voz, entre o hesitante, o indeciso e o reprimido. Um dia, encontra o Dr. Jaquith (Claude Rains), que a convida a passar uns dias na sua clínica, onde reabilita Charlotte, instilando-lhe confiança, independência de movimentos, a liberta de constrangimentos, insuflando-lhe nova vida. Afasta-se da casa materna, adquire nova postura, muda de visual, transforma-se, dir-se-ia uma outra mulher. Viaja, donde o título “Now, Voyager”, citação de um verso de um poema de Walt Whitman, incluído no seu livro “Leaves of Grass” (The Untold Want/ By Life and Land Ne'er Granted/ Now, Voyager/ Sail Thou Forth to Seek and Find). Durante um cruzeiro que termina no Rio de Janeiro (a viagem era para ser pela Europa, mas o facto desta se encontrar devastada pela guerra, mudou o rumo da viagem, segundo os produtores), encontra Jerry Durrance (Paul Henreid), um arquitecto, casado e pai de uma filha com problemas. Do encontro resulta uma paixão que atravessará toda a acção restante do filme. Estamos numa época em que o código Hays imperava, por isso tudo parece permanecer no mais rígido registo da moral dominante, mas, sob a aparência desse “nada acontecer de mal”, palpita uma sensualidade fortíssima, lateja um erotismo que tudo deixa supor. Por vezes é mais forte o que se elide do que o que se mostra. É o caso, servido por actores que sabem usar as palavras, os olhares, os gestos, os subentendidos para gerarem um clima de paixão libidinal indesmentível.
Num tempo em que a psicanálise entusiasmava Hollywood, este melodrama admiravelmente concebido sobre a emancipação de uma mulher (sobre a emancipação “da” mulher) permanece um marco de invejável modernidade.

A ESTRANHA PASSAGEIRA
Título original: Now, Voyager
Realização: Irving Rapper (EUA, 1942); Argumento: Casey Robinson, segundo romance de Olive Higgins Prouty; Produção: Hal B. Wallis;  Música: Max Steiner; Fotografia (p/b): Sol Polito; Montagem: Warren Low; Direcção artística: Robert M. Haas; Decoração:  Fred M. MacLean; Guarda-roupa:  Orry-Kelly; Maquilhagem: Perc Westmore, Martha Acker, Edwin Allen; Direcção de Produção Al Alleborn; Assistentes de realização: Emmett Emerson, Sherry Shourds; Departamento de arte: Scotty Moore, John More; Som: Robert B. Lee; Efeitos especiais: Willard Van Enger; Companhia de produção: Warner Bros.; Intérpretes: Bette Davis  (Charlotte Vale), Paul Henreid (Jerry Durrance), Claude Rains (Dr. Jaquith), Gladys Cooper (Mrs. Henry Vale), Bonita Granville (June Vale), John Loder (Elliot Livingston), Ilka Chase (Lisa Vale), Lee Patrick, Franklin Pangborn, Katharine Alexander, James Rennie, Mary Wickes, Tod Andrews, Brooks Benedict, David Clyde, Yola d'Avril, Frank Dae, Donald Douglas, Charles Drake, Claire Du Brey, etc. Duração: 117 minutos; Distribuição em Portugal: Warner Bros (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 21 de Janeiro de 1947.


BETTE DAVIS (1908 - 1989)
Ruth Elizabeth Davis ou Bette Davis, também conhecida como “The Fifth Warner Brother” ou “The First Lady of Film”, nasceu a 5 de Abril de 1908, em Lowell, Massachussets, EUA, e viria a falecer, aos 81 anos, em Neuilly-sur-Seine, França, no dia 6 de Outubro de 1989. Foi casada com Harmon Nelson (1932 - 1938), Arthur Farnsworth (1940 - 1943), William Grant Sherry (1945 - 1950) e Gary Merrill (1950 - 1960). Foram conhecidos os seus relacionamentos com William Wyler e Howard Hughes.
Ganhou dois Oscars da Academia, como Melhor Actriz em 1936, para “Mulher Perigosa” e, em 1939, para “Jezebel, a Insubmissa”, mas foi nomeada por mais nove vezes: 1934: “Of Human Bondage”, 1939: “Dark Victory”, 1940: “The Letter”, 1941: “The Little Foxes”, 1942: “Now, Voyager”, 1944: “Mr. Skeffington”, 1950: “All About Eve”, 1952: “The Star” e 1962: “What Ever Happened to Baby Jane?. Globos de Ouro, como Melhor Actriz, em 1950, por “All About Eve”, em 1961, por “A Pocketful of Miracles”, em 1962, por “What Ever Happened to Baby Jane?” e em 1974, Prémio Cecil B. DeMille pelo conjunto da sua obra. Prémio de Melhor Actriz para o Círculo de Críticos de Nova York, em 1950, por “All About Eve”. Foi “Emmy Awards”, como Melhor Actriz em Mini série ou Filme, em 1979, pelo trabalho em “Strangers: The Story of a Mother and Daughter”. Prémio Cecil B. DeMille. Prémio Honorário do “Screen Actors Guild Life Achievement”. Melhor Actriz, no Festival de Cannes de 1951, em “All About Eve”. Cesar honorário em 1974 (França). Melhor Actriz, no Festival de Veneza (Itália), em 1937, por “Kid Galahad”.
Bette Davis foi uma actriz muito versátil e particularmente dotada, que gostava sobretudo de interpretar personagens algo antipáticas, percorrendo dramas e melodramas, policiais, comédias ou filmes históricos. Trabalhou no teatro, no cinema e na televisão, quase até ao fim da sua vida, apesar de doente (cancro da mama). Estreou-se no teatro, passou pela Broadway, antes de aparecer em Hollywood, em 1930. As produções da Universal Studios onde participou não faziam prever o sucesso futuro, que começa logo que passa para a Warner Bros. em 1932. Foi uma diva incontestada durante os anos 40 e 50, facilmente reconhecida pelo estilo muito pessoal, pela frontalidade e coragem demonstrada nalguns confrontos com estúdios e mesmo com realizadores. Com voz forte, cigarro na mão, e imagem desembaraçada, impôs uma personagem inesquecível.
Foi uma das co-fundadoras da Hollywood Canteen, juntamente com John Garfield, Cary Grant e Jule Styne, uma iniciativa criada para angariar fundos para o Exército e entreter soldados norte-americanos durante a II Guerra Mundial e foi a primeira presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Os pais foram Harlow Morrell Davis, um advogado, e Ruth ("Ruthie") Augusta. A família era protestante, de origem inglesa, francesa e escocesa. Em 1915, depois do divórcio dos pais, “Betty”, como era carinhosamente conhecida, estudou num internato de Crestalban, em Lanesborough, cidade do planalto de Berkshire. Em 1921, Ruth Davis mudou-se com as filhas para Nova Iorque, onde trabalhou como retratista. Após assistir às representações de Rudolph Valentino em “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse” (1921), e Mary Pickford em “O Pequeno Lord” (1921), Betty sentiu que a sua vocação era o teatro e o cinema, no que foi incentivada pela mãe. Frequentou o internato Cushing Academy, em Ashburnham, Massachusetts, onde conheceu seu primeiro marido, Harmon O. Nelson. Em 1926, assistiu a uma representação da peça “O Pato Selvagem”, de Henrik Ibsen, e "mesmo antes de a peça começar, eu queria ser actriz. Quando ela terminou, eu tinha que ser uma actriz… exactamente como Peg Entwistle", a protagonista do espectáculo. Tentou entrar no Civic Repertory Theatre, uma companhia de teatro dirigida por Eva LeGallienne, em Manhattan, mas foi rejeitada pela própria LeGallienne, que a acusou de ser "frívola" e "falsa". Pouco depois, seria aceite na John Murray Anderson School of Theatre, onde estudou dança com Martha Graham. Depois de um teste não muito conclusivo na companhia de teatro de George Cukor, este deu-lhe um papel, o de uma corista, numa peça da Broadway, durante uma semana. Depois de andar por Filadélfia, Washington D.C. e Boston, Bette Davis estreou-se na Broadway, em 1929, com a peça “Pratos Quebrados”, sendo notada por um caçador de talentos da Universal Pictures, que a convidou para um teste em Hollywood. Em “The Bad Sister” (1931), Davis fez sua primeira aparição nos cinemas, num papel insignificante. O filme, de série B, é hoje recordado por assinalar as estreias de Bette Davis e Humphrey Bogart no cinema, marcando o nascimento de dois dos mitos maiores da cinematografia mundial. Já sob contrato da Warner, Bette Davis convence os directores a cedê-la à RKO Pictures, para a produção de “Of Human Bondage”, em 1934. O filme, uma adaptação do romance homónimo do britânico W. Somerset Maugham, com Leslie Howard, obteve grande sucesso crítico. A “Life” escrevia que a Mildred Rogers de Bette Davis talvez fosse "a melhor interpretação de uma actriz americana registada em filme". Como o filme não foi nomeado para os Oscars, a actriz Norma Shearer iniciou uma campanha pela nomeação, pressionando a academia, alterando as regras para a votação do ano, permitindo que nomes não presentes nos boletins pudessem ser votados. No ano seguinte, a Warner Bros. deu-lhe o papel principal em “Dangerous”, sendo desta feita oficialmente candidata, e premiada pela primeira vez com o Oscar.
A partir daí, coleccionou trabalhos empolgantes, em “Jezebel”, de William Wyler (que foi o grande amor da sua vida, segundo ela própria confessou), “Dark Victory”, “The Private Lives of Elizabeth and Essex”, “All This and Heaven Too”, “The Letter”, “The Little Foxes”; “Now, Voyager”, “Watch on the Rhine”, “Mrs. Skeffington”, “All About Eve”, “The Star”, “A Pocketful of Miracles” ou “What Ever Happened to Baby Jane?” que a juntou à sua rival de estimação, Joan Crawford. Foi a actriz mais rentável da Warner, mas conheceu igualmente um período de apagamento, onde os fracassos se sucederam. O “Los Angeles Examiner” chegou a escrever sobre um filme seu: "um infeliz final de uma carreira brilhante".
Encarnou mais de cem papéis no cinema, na televisão e no teatro. Em 1999, no inquérito promovido pelo American Film Institute destinado a seleccionar as maiores actrizes de todos os tempos, Bette Davis ficou em segundo lugar, logo a seguir a Katharine Hepburn. No Hall of Fame, possui duas estrelas, uma relativa ao cinema, outra à televisão. Podem ser vistas frente aos nºs 6225 e 6233, em Hollywood Boulevard. Após a sua morte, Steven Spielberg comprou em leilões os dois Óscares ganhos por Bette Davis, entregando ambos à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Kim Carnes fê-la regressar à fama mundial, sobretudo entre as gerações mais jovens, com a canção “Bette Davis Eyes”, em 1981.

Filmografia

1931: The Bad Sister, de Hobart Henley; Seed (Os Filhos), de John M. Stahl; Waterloo Bridge, de James Whale; Way Back Home, de William A. Seiter; 1932: The Menace, de Roy William Neill; Hell's House (Casa de Correcção), de Howard Higgin; The Man who Played God (O Regresso duma Alma), de John G. Adolfi; So Big!, de William Wellman; The Rich Are Always With Us, de Alfred E. Green; The Dark Horse, de Alfred E. Green; The Cabin in the Cotton, de Michael Curtiz; Three on a Match, de Mervyn LeRoy; 1933: 20.000 Years in Sing Sing (20.000 Anos em Sing Sing), de Michael Curtiz; Just Around the Corner (curta-metragem); Parachute Jumper (Em Plenas Nuvens), de Alfred E. Green; The Working Man, d'Alfred E. Green; Ex-Lady (A Intrusa), de Robert Florey; Bureau of Missing Persons (Perdidos para o Mundo), de Roy Del Ruth; The Big Shakedown, de John Francis Dillon; 1934: Fashions of 1934 (Música e Mulheres), de William Dieterle; Jimmy the Gent, de Michael Curtiz; Fog Over Frisco (Nevoeiro em São Francisco), de William Dieterle; Of Human Bondage (Escravos do Desejo), de John Cromwell; Housewife, de Alfred E. Green; 1935: Bordertown (Um Vencido da Vida), de Archie Mayo; The Girl form Tenth Avenue, de Alfred E. Green; Front Page Woman, de Michael Curtiz; Special Agent (Agente Especial), de William Keighley; Dangerous (Mulher Perigosa), de Alfred E. Green; 1936: The Petrified Forest (A Floresta Petrificada), de Archie Mayo; The Golden Arrow (A Flecha de Ouro), de Alfred E. Green; Satan Met a Lady (Relíquia Fatal), de William Dieterle; 1937: Kid Galahad (O Mais Forte), de Michael Curtiz; That Certain Woman (Cinzas do Passado), de Edmund Goulding; Marked Woman (A Mulher Marcada), de Lloyd Bacon; It's Love I'm After (A Comédia do Amor), de Archie Mayo; 1938: Jezebel (Jezebel, a Insubmissa), de William Wyler; The Sisters (As Irmãs), d'Anatole Litvak; 1939: The Old Maid (A Velha Ama), de Edmund Goulding; Juarez (A Derrocada de um Império), de William Dieterle; The Private Lives of Elizabeth and Essex (Isabel de Inglaterra), de Michael Curtiz; Dark Victory (Vitória Negra), de Edmund Goulding; 1940: If I Forget You (curta-metragem); All This, and Heaven Too (Tudo Isto e o Céu Também), de Anatole Litvak; The Letter (A Carta), de William Wyler; 1941: The Little Foxes (Raposa Matreira), de William Wyler; Shining Victory (Amargo Triunfo), de Irving Rapper; The Great Lie (A Grande Mentira), de Edmund Goulding; The Bride Came C.O.D. (Uma Noiva Caiu do Céu), de William Keighley; 1942: The Man Who Came to Dinner (Hóspede Indesejável ou O Homem que Veio para Jantar), de William Keighley; Now, Voyager (A Estranha Passageira), de Irving Rapper; In This Our Life (Nascida para o Mal); 1943: Watch on the Rhine (Horas de Tormenta), de Herman Shumlin; Old Acquaintance (Velha Amizade), de Vincent Sherman; Thank You Lucky Stars (Brilham as Estrelas), de David Butler; 1944: Mr. Skeffington (A Vaidosa), de Vincent Sherman; Hollywood Canteen (Um Sonho de Hollywood), de Delmer Daves; The Corn Is Green (O Coração Não Morre), de Irving Rapper; 1946: A Stolen Life (Uma Vida Roubada), de Curtis Bernhardt; Deception (Que o Céu a Condene), de Irving Rapper; 1948: Winter Meeting (Encontro no Inverno), de Bretaigne Windust; June Bride (Noiva da Primavera), de Bretaigne Windust; 1949: Beyond the Forest (A Filha de Satánas), de King Vidor; 1950: All About Eve (Eva), de Joseph L. Mankiewicz; 1951: Payment on Demand (A Ambiciosa), de Curtis Bernhardt; Another Man's Poison, de Irving Rapper; 1952: Phone Call from a Stranger (Chamada de um Desconhecido), de Jean Negulesco; Four Star Revue (série de TV); The Star (A Estrela), de Stuart Heisler; 1955: The Virgin Queen (A Rainha Virgem), de Henry Koster; 1956: The Catered Affair, de Richard Brooks; Storm Center (Tempestade), de Daniel Taradash; The 20th Century-Fox Hour (série de TV) – episódio Crack-Up; 1957: Telephone Time (série de TV) – episódio Stranded; The Ford Television Theatre (série de TV) – episódio Footnote on a Doll; Schlitz Playhouse of Stars (série de TV) – episódio For Better, for Worse; The Ford Television Theatre (série TV); 1957-1958: General Electric Theater (série de TV) – episódios The Cold Touch e With Malice Toward One; 1958: Studio 57 (série de TV) – episódio The Starmaker; Suspicion (série de TV) – episódio Fraction of a Second; 1959: The DuPont Show with June Allyson (série de TV) – episódio Dark Morning; The Alfred Hitchcock Hour (série de TV) – episódio Out There – Darkness; John Paul Jones (O Capitão Paul Jones), de John Farrow; The Scapegoat (O Outro Eu), de Robert Hamer; 1959-1961 Wagon Train (série de TV) – episódios The Bettina May Story, The Elizabeth McQueeny Story e The Ella Lindstrom Story; 1961: Pocketful of Miracles (Milagre Por Um Dia), de Frank Capra; 1962: What Ever Happened to Baby Jane? (Que Teria Acontecido à Baby Jane?), de Robert Aldrich; The Virginian (série de TV) – episódio The Accomplice; 1963: Perry Mason (série de TV) – episódio The Case of Constant Doyle; La Noia, de Damiano Damiani; 1964: Dead Ringer (A Morte Bate Três Vezes), de Paul Henreid; Where Love Has Gone (Para Onde Foi o Amor?), de Edward Dmytryk; Hush...Hush, Sweet Charlotte (Com a Maldade na Alma), de Robert Aldrich; 1965: The Nanny (A Velha Ama), de Seth Holt; 1966: Gunsmoke (série de TV) – episódio The Jailer; 1968: The Anniversary, de Roy Baker; 1970: Connecting Rooms (O Quarto ao Lado), de Franklin Gollings; It Takes a Thief (série de TV) Touch of Magic; 1971: Bunny O'Hare; 1972: Madame Sin (Madame Sin), de David Greene; Lo Scopone scientifico (O Jogo da Fortuna e do Azar), de Luigi Comencini; And Presumed Dead, de Morton da Costa; The Judge and Jake Wyler, David Lowell Rich (telefilme); 1973: Scream, Pretty Peggy, de Gordon Hessler David Lowell Rich; 1974: Hello Mother, Goodbye! (telefilme); 1976: Burnt Offerings (Férias Macabras) de Gerd Oswald; The Disappearance of Aimee, de Anthony Harvey (telefilme); 1977: Laugh-In (série de TV); 1978: Return from Witch Mountain () de John Hough; Death on the Nile (Morte no Nilo), de John Guillermin; The Children of Sanchez (Conflito de Gerações), de Hall Bartlett; The Dark Secret of Harvest Home (mini série de TV); 1979: Strangers: The Story of a Mother and Daughter, de Milton Katselas (telefilme); 1980: White Mama, de Jackie Cooper (telefilme); The Watcher in the Woods, de John Hough; Skyward, de Ron Howard (telefilme); 1981: Family Reunion, de Fielder Cook (telefilme); 1982: A Piano for Mrs. Cimino, de George Schaefer (telefilme); Little Gloria... Happy at Last, de Waris Hussein (telefilme); 1983: Hotel, de Jerry London (série de TV); Right of Way (O Direito de Escolher), de George Schaefer (telefilme); 1985: Murder with Mirrors, de Dick Lowry (telefilme); 1986: As Summers Die, de Jean-Claude Tramont (telefilme) ; 1987: The Whales of August (As Baleias de Agosto), de Lindsay Anderson; 1989: Wicked Stepmother (A Madrasta), de Larry Cohen.