domingo, 14 de agosto de 2016

SESSÃO 34: 12 DE SETEMBRO DE 2016


A RAPARIGA DA MALA (1961)

Existe uma meia dúzia de génios na história do cinema italiano (Felllini, De Sica, Visconti, Rossellini, Antonioni, Pasolini, Bertolucci…), que ofusca muitos outros cineastas com imenso talento mas não tão bem reconhecidos internacionalmente. Um entre muitos outros, é Valério Zurlini, um homem nascido em Bolonha, em 1926, e falecido em Verona, em 1982, e que deixou uma obra extremamente valiosa e muito solitária no interior da filmografia transalpina. Estudou Direito, passou pelo teatro, entrou no cinema pela porta do documentarismo e, em 1954, estreia-se na longa-metragem com a adaptação de um romance de Vasco Pratolini, “Le Ragazze di San Frediano” (As Raparigas de San Frediano), que é relativamente bem acolhido. Mas será com as duas obras seguintes, ambas interpretadas por Claudia Cardinale, que entrará na História, “Estate Violenta” (Verão Violento, 1959), e sobretudo “La Ragazza con la Valigia” (A Rapariga da Mala, 1961).
Pode falar-se de alguma influência do neo-realismo, mas Zurlini tem uma voz muito pessoal e um posicionamento diverso. A sua curta filmografia prossegue com outra adaptação de Pratolini, “Cronaca Familiare” (Dois Irmãos, Dois Destinos, 1962) a que se seguem títulos com recepção de público e crítica muito diversa, “Le Soldatesse” (1965), “Seduto alla sua Destra” (1968), “La Prima Notte di Quiete” (Outono Escaldante, 1972), culminando com “Il Deserto dei Tartari” (1976), uma versão muito aplaudida do romance de Dino Buzzati. Zurlini morre cedo, vítima de uma hemorragia gástrica, a sua obra nunca foi devidamente avaliada, apesar de muito amada por alguns, poucos, que lhe reconhecem a importância e o significado na renovação da cinematografia italiana. “A Rapariga da Mala” é um bom exemplo do seu talento, da sua sensibilidade, do seu olhar muito particular perante a realidade social do seu país, mas igualmente sobre as emoções e os sentimentos das suas personagens. Zurlini é um homem discreto, subtil, que desenha grandes paixões e grandes desesperos com a delicadeza necessária e o pudor que se impõe.
“A Rapariga da Mala” fala de Aida Zepponi (Claudia Cardinale), que chega a Parma no carro de Marcello Fainardi (Corrado Pani) e que é abandonada por este. Fica numa estação de comboios, só, com uma mala e o desespero de se saber traída. Procura reencontrar o playboy que a deixou, vai ter a sua casa, um belo palacete onde se encontra Lorenzo Fainardi (Jacques Perrin), o irmão mais novo de Marcello, que percebe toda a extensão da perfídia  deste e procura ajudar a “rapariga da mala” a descobrir uma solução. Mas a cada vez que se encontram, Lorenzo mais e mais se apaixona por Aida. Ele é ainda um adolescente, despertando para a vida, mas o amor invade-o e o ciúme instala-se quando vê Aida a ser galanteada e a dançar com outros.


Há neste filme da descoberta do amor uma cena absolutamente de antologia. Lorenzo leva Aida para sua casa, que nesse dia se encontra sem ninguém, e ela vai tomar um banho no andar de cima, enquanto o jovem coloca a tocar uma ária da ópera “Aida”. Quando a belíssima Claudia Cardinale desce a escadaria, envolta num roupão banco, ao som da música de Verdi, os olhos de Lorenzo brilham de encantamento e também todos os do público que assiste a esta cena inesquecível. Mas há mais. Por exemplo: Lorenzo, assistindo à sedução de Aida por um grupo de desconhecidos que a cortejam, à noite, junto à piscina do hotel, é outro momento magnífico de cinema, num filme que todo ele se impõe como uma lição na arte de exprimir por imagens emoções sem nunca cair na facilidade ou no sentimentalismo gratuito.
Para lá da qualidade sensível da realização de Zurlini, há ainda que referir a fotografia a preto e branco de Tino Santoni que, quer em exteriores como em interiores, consegue sempre apoiar as intenções dramáticas da obra, sem as tornar demasiado ostensivas, e ainda a excelente interpretação de Claudia Cardinale e Jacques Perrin, sobretudo estes dois, mas todo o elenco é perfeito. Cardinale terá uma das suas interpretações inesquecíveis, no apogeu da sua beleza e no início de uma retumbante carreira, e Jacques Perrin, que lançava já os alicerces de um percurso invulgar que o levaria a produtor de obras de autores importantes, e a papéis como o de “Cinema Paraíso”. Deve ainda sublinhar-se a banda sonora de “A Rapariga da Mala”, que oferece uma panorâmica invulgar de sucessos musicais desse período. A partitura original é de Mario Nascimbene, acompanhado por Bruno Nicolai e Mario Gangi, mas dispersos pela intriga, funcionando como comentário subtil, além do Verdi já citado, temos Peppino Di Capri, Dimitri Tiomkin, Fausto Papetti, Mina, Adriano Celentano, Umberto Bindi, Nico Fidenco, Chuck-Locatelli, não esquecendo a famosa “Tintarella di luna”.

A RAPARIGA DA MALA
Título original: La Ragazza con la Valigia
Realização: Valerio Zurlini (Itália, França, 1961);  Argumento: Leonardo Benvenuti, Piero De Bernardi, Enrico Medioli, Giuseppe Patroni Griffi, Valerio Zurlini; Produção: Charles Delac, Maurizio Lodi-Fè; Música: várias Mario Nascimbene supervisor; Fotografia (p/b): Tino Santoni; Montagem: Mario Serandrei; Design de produção: Flavio Mogherini; Guarda-roupa: Gaia Romanini; Maquilhagem: Giovanni Ranieri, Vasco Reggiani; Assistentes de realização: Mario Maffei, Piero Schivazappa; Som: Enzo Silvestri; Companhias de produção: Titanus, Société Générale de Cinématographie (S.G.C.); Intérpretes: Claudia Cardinale (Aida Zepponi), Jacques Perrin (Lorenzo Fainardi), Luciana Angiolillo (Tia de Lorenzo), Renato Baldini (Francia), Riccardo Garrone (Romolo), Elsa Albani (Lucia), Corrado Pani (Marcello Fainardi), Gian Maria Volonté (Piero Benotti), Romolo Valli (Don Pietro Introna), Enzo Garinei (Pino), Ciccio Barbi (Crosia), Nadia Bianchi (Nuccia), Angela Portaluri, Edda Soligo (professora), etc. Duração: 121 minutos; Distribuição em Portugal: Costa do Castelo Filmes; Cópia DVD: Versatil Home Vídeo, Brasil; Classificação etária: M/ 12 anos.
 

CLAUDIA CARDINALE (1938 - )
É uma das mulheres mais bonitas da História do Cinema e tem uma característica invulgar: tanto é credível como uma sofisticada aristocrata, como uma camponesa da província ou uma burguesa da cidade. Não é só a beleza que a identifica, mas também uma forte personalidade e um talento imenso. Claude Josephine Rose Cardinale nasceu a 15 de Abril de 1938, em Túnis, na Tunísia,  contando agora 77 anos. Os pais eram sicilianos, ela estudou no liceu Cambon, e ganhou um concurso de beleza, que a considerava “a mais bela italiana de Túnis”. A língua familiar era o dialecto siciliano, e a língua aprendida na escola o francês. O italiano só o começou a dominar muito mais tarde. Nos seus primeiros filmes, era dobrada. Os primeiros contactos com o cinema, em 1955, resultam dessa eleição, que a leva ao Festival de Veneza, onde se faz desde logo notar. Mas Claudia queria ser professora, recusa propostas e apenas aceita interpretar uma curta-metragem, “Anneaux d'or”, de René Vautier. Só em 1958 se estreia na longa-metragem, em “Goha”, de Jacques Baratier, mas é sobretudo em “Gangsters Falhados”, de Mario Monicelli, que ela se afirma plenamente. Franco Cristaldi é o produtor, que será, a partir de 1966 até 1975, o primeiro marido de Cardinale. Os anos 60 são de triunfo constante, trabalhando sob as ordens de alguns dos mais importantes cineastas, como Luchino Visconti, Valerio Zurlini, Mauro Bolognini, Abel Gance, Henri Verneuil, Philippe de Broca, Luigi Comencini, Federico Fellini, Blake Edwards, Henry Hathaway, ou Sergio Leone. Até 1963, em “Fellini 8 ½”, Claudia Cardinale era dobrada. Em “O Leopardo” foi dobrada por Solveyg D’Assunta, mas falou francês nas cenas com Alain Delon, e inglês quando contracenava com Burt Lancaster. Nos anos 60 e 70 atingiu o estrelato internacional, em obras de Visconti, “Rocco e os Seus Irmãos” ou “O Leopardo”, ao lado de Jean-Paul Belmondo, em “Cartouche”,  no já referido “8 ½” ou em “O Mundo do Circo”, de Henry Hathaway, ou “Era uma vez no Oeste”, de Sergio Leone. Cuidando particularmente bem da sua carreira, quase só trabalhou a partir daí com grandes cineastas, como Marco Ferreri, Luigi Comencini, Franco Zeffirelli, Marco Bellocchio, Luchino Visconti (para quem  interpretou quatro filmes), Jerzy Skolimowski, Mikhaïl Kalatozov, George P. Cosmatos, Alan Bridges, Werner Herzog, Christian-Jaque, José Giovanni, Michel Lang, Nadine Trintignant, Diane Kurys ou Robert Enrico, e muitas vezes para o seu segundo marido, o produtor e realizador  Pasquale Squitieri (1975 até ao presente). A partir dos anos 90 a sua participação no cinema é espaçada, mas intensifica a televisão, ao teatro e à escrita. Nos anos 2000, em Paris, interpreta, “La Vénitienne”, de um anónimo do século XVI (2000), e “Sweet Bird of Youth” de Tennessee Williams (2005). De espírito liberal, empenhada politicamente, defendendo causas humanitárias, foi Embaixadora de Boa Vontade da UNESCO, em 1999. Escreveu uma autobiografia, lançada em 2005, “Mes étoiles” (Ed.Michel Lafon) e, em 2009, um livro de fotografias,  “Ma Tunisie” (Ed. Timée). Uma das suas últimas interpretações no cinema foi em 2012, “O Gebo e a Sombra”, de Manoel de Oliveira. A 20 de Maio de 2015, espalhou-se a notícia de que Claudia Cardinale teria falecido. Mais uma daquelas brincadeiras de mau gosto que só tem um lado positivo: o desmentido. Felizmente, Claudia Cardinale, uma das mais belas e talentosas actrizes do cinema, está viva.



Filmografia:

Como actriz: 1955: Anneaux de Or, de René Vautier (curta-metragem); 1958: Goha le simple, de Jacques Baratier; 1958: Tre straniere a Roma, de Claudio Gora; I soliti ignoti (Gangsters Falhados),de Mario Monicelli; 1959: Vento del Sud, de Enzo Provenzale; Un maledetto imbróglio (A 3 ª Chave), de Pietro Germi; Il magistrato (Todos foram culpados), de Luigi Zampa; Audace colpo dei soliti ignoti (Golpe Audacioso), de Nanni Loy; La prima notte (Amor e Vigarice), de Alberto Cavalcanti;  Upstairs and Downstairs (Escada Acima, Escada Abaixo), de Ralph Thomas; 1960: La Ragazza con la valigia (A Rapariga da Mala), de Valerio Zurlini; I Delfini, de Francesco Maselli;  Rocco e i suoi fratelli (Rocco e os Seus Irmãos), de Luchino Visconti; Le Bel Antonio (O Belo António), de Mauro Bolognini; Austerlitz (Austerlitz), de Abel Gance; 1961: La Viaccia (A Herança), de Mauro Bolognini; Les Lions sont Lâchés, de Henri Verneuil; Auguste, de Pierre Chevalier; 1962: Cartouche (Cartouche), de Philippe de Broca; Senilità (Beleza Perversa), de Mauro Bolognini; 1963: La ragazza di Bube (A Rapariga de Bube), de Luigi Comencini; 1963: Otto e mezzo (Fellini Oito e Meio), de Federico Fellini; 1963: Il Gattopardo (O Leopardo), de Luchino Visconti; 1963: The Pink Panther (A Pantera Cor-de-Rosa), de Blake Edwards; 1964: Il Magnifico Cornuto (A eterna dúvida), de Antonio Pietrangeli; Gli indifferenti (Os Indiferentes), de Francesco Maselli; Circus World (O Mundo do Circo), de Henry Hathaway; 1965: Vaghe stelle dell'Orsa (Estrelas Vagas de Ursa Sandra), de Luchino Visconti; Blindflod (Com os Olhos Vendados), de Philip Dunne; 1966: Le Fate (As Feiticeiras), (epidódio "Fata Armenia"), de Mauro Bolognini; Lost Command (Os Centuriões), de Mark Robson; The Professionals (Os Profissionais), de Richard Brooks; 1967: Don't Make Waves (Não Faças Ondas), de Alexander Mackendrick; Una Rosa per tutti (Uma rosa para todos), de Francesco Rosi; 1968: La Amante Estelar, de Antonio de Lara (curta-metragem); Il giorno della civetta (O Dia da Vergonha),  de Damiano Damiani; The Hell With Heroes (Vidas Perigosas) de Joseph Sargent; C'era una volta il West (Aconteceu no Oeste), de Sergio Leone; Ruba al prossimo tuo (Que rico par!), de Francesco Maselli; 1969: Nell'anno del Signore, de Luigi Magni; Krasnaya palatka (A Grande Odisseia), de Mikhaïl Kalatozov; Certo, certissimo anzi probabile (Certo, Certíssimo, ou... Talvez Não), de Marcello Fondato; 1970: The Adventures of Gerard (Aventuras de Gerard),  de Jerzy Skolimowski; 1971: L'Udienza (A Audiência) de Marco Ferreri; Bello, onesto, emigrato Australia sposerebbe compaesana illibata (Casamento por Procuração),  de Luigi Zampa; Popsy Pop, de Jean Herman; Les Pétroleuses (As Rainhas do Petróleo), de Christian-Jaque; 1972: La Scoumoune (O Bandido Bem-Amado),  de José Giovanni; 1973: Libera, amore mio... (Libera, Meu Amor...),  de Mauro Bolognini; I guappi, de Pasquale Squitieri; Il giorno del furore, de Antonio Calenda; 1974: Gruppo di famiglia in un interno (Violência e Paixão), de Luchino Visconti; 1975: A mezzanotte va la ronda del piacere (Meia-Noite de Prazer), de Marcello Fondato; 1976: La lozana andaluza, de Vicente Escrivá; Il Comune senso del pudore (O Discreto Sentido do Pudor), de Alberto Sordi; 1977: Qui comincie l'avventura (Aqui Começa a Aventura), de Carlo Di Palma; Il prefetto di ferro (O Governador de Ferro), de Pasquale Squitieri; Jesus de Nazaré (TV); Corleone (O Último Padrinho), de Pasquale Squitieri; 1978: Goodbye & Amen (O Homem da CIA), de Damiano Damiani; 1978: L'arma (A Arma), de Pasquale Squitieri; La Part du feu, de Étienne Périer; Escape to Athena (Fuga para Atenas), de George P. Cosmatos; 1979: Little Girl in Blue Velvet (A Rapariga do Vestido Azul), de Alan Bridges; 1980: Si salvi chi vuole, de Roberto Faenza; 1981: The Salamander (O Esquadrão Salamandra), de Peter Zinner: Elena Leporello; La pelle (A Pele) de Liliana Cavani; 1982: Fitzcarraldo (Fitzcarraldo), de Werner Herzog; 1982: Le Cadeau (O Presente), de Michel Lang; 1983: Le Ruffian (Os Grandes Aventureiros), de José Giovanni; Princess Daisy, de Marco Bellocchio(TV); 1984: Claretta,  de Pasquale Squitieri;  1984: Enrico IV (Henrique IV), de Marco Bellocchio; 1985: La donna delle meraviglie, de Alberto Bevilacqua; L'Été prochain, de Nadine Trintignant; 1986:  Naso di cane (TV); La storia (A História), de Luigi Comencini (TV); 1987: Un uomo innamorato (Homem Apaixonado), de Diane Kurys; 1989: La Révolution française de Robert Enrico e Richard T. Heffron (episódio "Les Années Lumière"); Hiver 54, l'abbé Pierre, de Denis Amar; Atto di dolore, de Pasquale Squitieri; Blu elettrico,  de Elfriede Gaeng (TV); 1990: La batalla de los tres reyes, de Souheil Ben-Barka e Uchkun Nazarov; 1991: Mayrig, de Henri Verneuil; 588, rue Paradis, de Henri Verneuil; 1993: Flash - Der Fotoreporter - Das Zweite Gesicht der Aida; 1993: Son of the Pink Panther (O Filho da Pantera Cor-de-Rosa) de Blake Edward; Mayrig (TV); 1994: Elles ne pensent qu'à ça..., de Charlotte Dubreuil; 1995: 10-07: L'affaire Zeus (TV); 1996: Un été à La Goulette, de Férid Boughedir; Nostromo (TV); 1997: Sous les pieds des femmes, de Rachida Krim; Riches, belles, etc., de Bunny Godillot (ou Bunny Schpoliansky, ou Harmel Sbraire); Il deserto di fuoco (TV); 1998: Mia, Liebe meines Lebens (TV); 1999: Un café... l'addition, de Félicie Dutertre e François Rabes (curta-metragem; 1999: Li chiamarono... briganti!, de Pasquale Squitieri; 2000: Élisabeth - Ils sont tous nos enfants (TV); 2001: And now... Ladies and Gentlemen (Amantes Sem Passado), de Claude Lelouch; 2005: Le Démon de midi, de Marie-Pascale Osterrieth; 2007: Cherche fiancé tous frais payés de Aline Issermann; 2008: Hold-up à l'italienne, de Claude-Michel Rome (TV); 2009: Le Fils (O Meu Filho), de Mehdi Ben Attia; 2010: Un balcon sur la mer (Uma Vista Para o Mar), de Nicole Garcia; Sinyora Enrica ile Italyan Olmak, de Ali Ilhan; Il giorno della Shoah (TV); 2011: Joy de V., de Nadia Szold; 2012: O Gebo e a Sombra de Manoel de Oliveira; El artista y la Modelo, de Fernando Trueba; 2013: Effie Gray, de Richard Laxton; 2014: The Silent Mountain de Ernst Gossner; Ultima  Fermata, de Giambattista Assanti;  Les Francis, de Fabrice Begotti; 2015: Piccolina bella, de Anna Scaglione; All Roads Lead to Rome, de Ella Lemhagen; Twice Upon a Time in the West, de Boris Despodov.

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