PIQUENIQUE (1955)
Hal
Carter (William Holden) viaja à boleia numa carruagem de um comboio de carga e
desce numa pequena cidade do Kansas, para visitar um amigo dos tempos da
faculdade, Alan Benson (Cliff Robertson). Ambos foram amigos nesse tempo, mas
um seguiu os conselhos da família e tornou-se num herdeiro abastado, enquanto o
outro anda à deriva em busca da aventura. A cidadezinha é pequena, daquelas
onde todos se conhecem, e que prefiguram um microcosmo social que dá para
perceber as características da condição humana. Parece ser essa a ideia da peça
teatral de William Inge que Daniel Taradash adapta a argumento de cinema e
Joshua Logan realiza. Hal Carter começa por ser bem recebido pelas famílias da
região. Uma velhota aceita o seu trabalho, e, na casa do lado, Flo Owens (Betty Field) e as duas
filhas, a mais velha, Madge Owens (Kim Novak), e a mais nova, Millie Owens (Susan Strasberg), não
ficam indiferentes à presença deste estranho. Aliás o tema do “estranho (ou
estranha) na cidade” que vem desencadear um conjunto de reacções e precipitar
acontecimentos, pondo a descoberto traumas e frustrações recalcadas, é um
assunto bastante glosado em literatura, teatro e cinema. No dia seguinte à
chegada de Hal, comemora-se o dia do trabalhador, à americana, com piquenique e
festança, baile e animação pela noite dentro. Madge Owens, que vai ser eleita a
rainha das festividades, está prometida a Alan Benson, mas tudo parece um
arranjo de ocasião sem amor de permeio. Já Miss Rosemary Sydney (Rosalind
Russell), uma tia solteirona desesperadamente à procura de marido, não despega
do tímido e perplexo Howard Bevans (Arthur O'Connell), que ela jurou levar ao
altar. As desilusões e o desejo não satisfeito levam Rosemary Sydney ao
desespero e a tomar atitudes menos convenientes, numa noite de muito álcool e
pouco discernimento. O que acarreta um conjunto de situações que destroem a
aparente calma da cidadezinha.
O filme
foi rodado em Halstead, no Kansas, bem no centro dos EUA, e Tulsa, no Oklahoma,
é um destino de liberdade. O comboio atravessa a cidade e tem Tulsa como meta.
Haverá quem parta com esse destino, sem saber o que lhe reserva o futuro, mas
com o desejo de precipitar a aventura? Na própria família Owens há um pouco de tudo,
a cautelosa mãe, que quer assegurar o futuro da filha mais velha com o
casamento com Alan Benson, a filha mais jovem, rebelde e relegada para segundo
plano pela beleza da irmã, e Maggie, o centro das atenções, que oscila entre o
casamento seguro e a aventura sem garantia alguma. O filme parece jogar nesta
última opção, apostando numa paragem de autocarro que pode trazer a felicidade…
ou a desilusão. Mas a certeza de não ter perdido a oportunidade.
William
Holden é o herói romântico desta história de um dia do trabalhador, e Kim Novak
a rainha do cortejo ao longo do rio. Ambos se entendem às mil maravilhas e a
cena de baile, numa plataforma erguida sobre as águas do rio, com os balões da
festa a iluminar-lhes os olhos, é seguramente das mais belas sequências de
sedução da história do cinema. Os olhares, os gestos, as mãos que se agarram,
os braços que deslizam, a música que embala, o álcool que enlouquece, a volúpia
do ambiente que se torna cada vez mais escaldante, fazem deste momento um
instante cinematográfico inesquecível. Joshua Logan foi aqui tocado pela magia
e os actores ajudam e de que maneira. Mas se esta dupla é brilhante, não será
menos de destacar o casal Rosalind Russell e Arthur O'Connell, que são notáveis,
sem a sensualidade dos verdes anos, mas com as agruras do tempo a deixar
marcas, mas a permitir o persistir da esperança.
O filme
teve seis nomeações para os Oscars de 1956: Melhor Filme (produtor Fred
Kohlmar), Melhor Realizador (Joshua Logan), Melhor Actor Secundário
(O’Connell), Melhor Montagem (Charles Nelson, William A. Lyon), Melhor Direcção
Artística (William Flannery, Jo Mielziner, Robert Priestley) e Melhor Música
(George Duning). Ganhou dois: Melhor Montagem e Direcção Artística.
PIQUENIQUE
Título original: Picnic
Realização: Joshua Logan (EUA, 1955);
Argumento: Daniel Taradash, segundo peça teatral de William Inge; Produção:
Fred Kohlmar; Música: George Duning; Fotografia (cor): James Wong Howe;
Montagem: William A. Lyon, Charles Nelson; Design de produção: Jo Mielziner; Direcção
artística: William Flannery; Decoração: Robert Priestley; Guarda-roupa: Jean
Louis; Maquilhagem: Clay Campbell, Helen Hunt, Robert J. Schiffer; Assistentes
de realização: Carter De Haven Jr.; Som: George Cooper, John P. Livadary;
Coreografia: Miriam Nelson; Companhia de produção: Columbia Pictures
Corporation; Intérpretes: William
Holden (Hal Carter), Kim Novak (Madge Owens), Betty Field (Flo Owens), Susan
Strasberg (Millie Owens), Cliff Robertson (Alan Benson), Arthur O'Connell
(Howard Bevans), Verna Felton (Helen
Potts), Reta Shaw (Irma Kronkite), Rosalind Russell (Miss Rosemary Sydney),
Nick Adams, Raymond Bailey, Elizabeth Wilson, Warren Frederick Adams, Carle E.
Baker, George E. Bemis, Steve Benton, Harold A. Beyer, Paul R. Cochran, Adlai
Zeph Fisher, Don C. Harvey, Flomanita Jackson, Shirley Knight, Phyllis Newman,
Henry Pagueo, Harry Sherman Schall, Floyd Steinbeck, Wayne R. Sullivan, Henry
P. Watson, Abraham Weinlood, etc. Duração:
115 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia Filmes; Classificação etária:
M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 5 de Abril de 1956.
KIM NOVAK (1933- )
Kim Novak não tem uma
filmografia extensa, afirma que apareceu no cinema por acaso, mas deixa o seu
lugar bem marcado na história da sétima arte. Desde logo por ser uma das musas
louras de Htchcock, que a dirige naquele que hoje é considerado por alguns o
melhor filme de sempre, “A Mulher que Viveu Duas Vezes” (Vertigo). É dela
igualmente uma das cenas românticas mais sensuais do cinema, uma noite de baile
em “Piquenique”. Mas há muito mais a recordar desta actriz lindíssima que foi
igualmente uma das preferidas de Richard Quine (com quem chegou a viver, nos
anos 60, e com quem rodou “Tentação Loira”, “Sortilégio de Amor”, “Um Estranho
na Minha Vida, ou “Notável Senhoria”).
Marilyn Pauline Novak, mais
conhecida por Kim Novak, nasceu em Chicago, Illinois, EUA, no dia 13 de
Fevereiro de 1933, contando agora 82 anos. De origem checa, os pais tinham sido
professores, mas ela nunca foi uma boa estudante. Por isso, quando acabou os
estudos secundários, passou por vários ofícios, desde ascensorista a empregada
de loja e ajudante de dentista, mas foi como modelo de moda jovem que melhor se
sentiu. Ingressa mesmo numa escola de modelos, após o que viaja para Los
Angeles, onde lhe oferecem pequenos papéis na RKO e depois na Columbia. Como se
chamava Marilyn, mudou o nome para se distanciar de Marilyn Monroe, mas manteve
Novak. Em 1954, aparece em “Pushover”, ao lado de Fred MacMurray, num curto
papel que chamou a atenção. Tornou-se muito popular e começaram a surgir
grandes trabalhos, como “Picnic”, fazendo par com William Holden, sob as ordens
de Joshua Logan. Conhece um triunfo em toda a linha. Frank Sinatra é o seu
parceiro em “Pal Joey” e “The Man with the Golden Arm”, e James Stewart, em
“Vertigo”, de Hitch. Roda “The Amorous Adventures of Moll Flanders”, em 1965, e
decide afastar-se uns tempos do cinema. Novak já vivia desiludida com os papéis
que então lhe atribuíam. Regressa três anos depois com “The Legend of Lylah
Clare”, que foi um fracasso. Os filmes seguintes não lhe agradam e, em 1991,
depois de “Liebestraum”, de Mike Figgis, retira-se, dedica-se à pintura e cria
cavalos nas herdades no Oregon e na Califórnia. Em 1957, fez greve em protesto
contra o salário que recebia na época e mantém fama de rebelde e de difícil ao
longo de toda a sua carreira.
Foi casada com o actor Richard
Johnson durante um ano (1965-1966) e depois com o médico veterinário Robert
Malloy (1976-até ao presente). Foi muito notada uma relação com o actor Michael
Brandon (1973-1974), para lá de algumas outras mais (Frank Sinatra, Aly Khan,
Ramfis Trujillo, Sammy Davis, Jr….). Possui uma estrela na “Walk of Fame”,
localizada perto do nº 6336, em Hollywood Boulevard. Recebeu um Globo de Ouro,
como actriz revelação feminina, por “Piquenique” e um BAFTA, para “melhor
actriz estrangeira” pelo mesmo filme. Recolheu ainda um Urso de Ouro honorário
pela sua contribuição para a 7ª arte no 47º Festival de Cinema de Berlim.
Filmografia
Como Actriz: 1953: The French
Line (A Moda Vem de Paris), de Lloyd Bacon; 1954: Pushover (Tentação Loira), de
Richard Quine; 1954: Phffft! (Pffft... é o Amor Que Se Evapora), de Mark
Robson; 1955: Son of Sinbad (O Filho de Sinbad) de Ted Tetzlaff; 5 Against the
House (4 Homens e Uma Mulher), de Phil Karlson; Picnic (Piquenique), de Joshua
Logan; The Man with the Golden Arm (O Homem do Braço de Ouro), de Otto
Preminger; 1956: The Eddy Duchin Story (Melodia Fascinante), de George Sidney;
1957: Jeanne Eagels (Um Só Amor), de George Sidney; Pal Joey (O Querido Joey),
de George Sidney; 1958: Vertigo (A Mulher Que Viveu Duas Vezes), de Alfred
Hitchcock; Bell Book and Candle (Sortilégio de Amor),de Richard Quine; 1959:
Middle of the Night (A Meio da Noite), de Delbert Mann; 1960: Strangers When We
Meet (Um Estranho na Minha Vida), de Richard Quine; Pepe (Pepe), de George
Sidney; 1962: The Notorious Landlady (Notável Senhoria) de Richard Quine; Boys'
Night Out (Não Brinque com os Maridos), de Michael Gordon; 1964: Of Human
Bondage (Servidão Humana), de Bryan Forbes; Kiss Me Stupid (Beija-me, Idiota),
de Billy Wilder; 1965: The Amorous Adventures of Moll Flanders (A Vida Amorosa
de Moll Flanders), de Terence Young; 1968: The Legend of Lylah Clare (A Lenda
de uma Estrela), de Robert Aldrich; 1969: The Great Bank Robbery (Olhos Verdes,
Loira e Perigosa), de Hy Averback; 1973: Tales That Witness Madness, episódio "Luau" (TV); 1973: The
Third Girl from the Left, de Peter Medak (TV); 1975: Satan's Triangle, de
Sutton Roley (TV); 1977: The White Buffalo (A Carga do Búfalo Branco), de Jack
Lee Thompson; 1979: Schöner Gigolo, armer Gigolo (História de um Gigolo), de
David Hemmings; 1980: The Mirror Crack'd (Espelho Quebrado), de Guy Hamilton;
1983: Malibu (TV); 1985: Alfred Hitchcock Presents; episódio “Man from the
South”; 1987: Es hat mich sehr gefreut, de Mara Mattuschka (curta-metragem);
1986-1987: Falcon Crest (TV); 1987: Es hat mich sehr gefreut (curta-metragem);
1990: The Children, de Tony Palmer; 1991: Liebestraum, de Mike Figgis.
Documentários: 1959: Premier Khrushchev in the USA;
1963: Showman.
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