domingo, 14 de agosto de 2016

SESSÃO 30: 8 DE AGOSTO DE 2016


PIQUENIQUE (1955)

Hal Carter (William Holden) viaja à boleia numa carruagem de um comboio de carga e desce numa pequena cidade do Kansas, para visitar um amigo dos tempos da faculdade, Alan Benson (Cliff Robertson). Ambos foram amigos nesse tempo, mas um seguiu os conselhos da família e tornou-se num herdeiro abastado, enquanto o outro anda à deriva em busca da aventura. A cidadezinha é pequena, daquelas onde todos se conhecem, e que prefiguram um microcosmo social que dá para perceber as características da condição humana. Parece ser essa a ideia da peça teatral de William Inge que Daniel Taradash adapta a argumento de cinema e Joshua Logan realiza. Hal Carter começa por ser bem recebido pelas famílias da região. Uma velhota aceita o seu trabalho, e, na casa do lado, Flo Owens (Betty Field) e as duas filhas, a mais velha, Madge Owens (Kim Novak), e a mais nova, Millie Owens (Susan Strasberg), não ficam indiferentes à presença deste estranho. Aliás o tema do “estranho (ou estranha) na cidade” que vem desencadear um conjunto de reacções e precipitar acontecimentos, pondo a descoberto traumas e frustrações recalcadas, é um assunto bastante glosado em literatura, teatro e cinema. No dia seguinte à chegada de Hal, comemora-se o dia do trabalhador, à americana, com piquenique e festança, baile e animação pela noite dentro. Madge Owens, que vai ser eleita a rainha das festividades, está prometida a Alan Benson, mas tudo parece um arranjo de ocasião sem amor de permeio. Já Miss Rosemary Sydney (Rosalind Russell), uma tia solteirona desesperadamente à procura de marido, não despega do tímido e perplexo Howard Bevans (Arthur O'Connell), que ela jurou levar ao altar. As desilusões e o desejo não satisfeito levam Rosemary Sydney ao desespero e a tomar atitudes menos convenientes, numa noite de muito álcool e pouco discernimento. O que acarreta um conjunto de situações que destroem a aparente calma da cidadezinha.


O filme foi rodado em Halstead, no Kansas, bem no centro dos EUA, e Tulsa, no Oklahoma, é um destino de liberdade. O comboio atravessa a cidade e tem Tulsa como meta. Haverá quem parta com esse destino, sem saber o que lhe reserva o futuro, mas com o desejo de precipitar a aventura? Na própria família Owens há um pouco de tudo, a cautelosa mãe, que quer assegurar o futuro da filha mais velha com o casamento com Alan Benson, a filha mais jovem, rebelde e relegada para segundo plano pela beleza da irmã, e Maggie, o centro das atenções, que oscila entre o casamento seguro e a aventura sem garantia alguma. O filme parece jogar nesta última opção, apostando numa paragem de autocarro que pode trazer a felicidade… ou a desilusão. Mas a certeza de não ter perdido a oportunidade.
William Holden é o herói romântico desta história de um dia do trabalhador, e Kim Novak a rainha do cortejo ao longo do rio. Ambos se entendem às mil maravilhas e a cena de baile, numa plataforma erguida sobre as águas do rio, com os balões da festa a iluminar-lhes os olhos, é seguramente das mais belas sequências de sedução da história do cinema. Os olhares, os gestos, as mãos que se agarram, os braços que deslizam, a música que embala, o álcool que enlouquece, a volúpia do ambiente que se torna cada vez mais escaldante, fazem deste momento um instante cinematográfico inesquecível. Joshua Logan foi aqui tocado pela magia e os actores ajudam e de que maneira. Mas se esta dupla é brilhante, não será menos de destacar o casal Rosalind Russell e Arthur O'Connell, que são notáveis, sem a sensualidade dos verdes anos, mas com as agruras do tempo a deixar marcas, mas a permitir o persistir da esperança.
O filme teve seis nomeações para os Oscars de 1956: Melhor Filme (produtor Fred Kohlmar), Melhor Realizador (Joshua Logan), Melhor Actor Secundário (O’Connell), Melhor Montagem (Charles Nelson, William A. Lyon), Melhor Direcção Artística (William Flannery, Jo Mielziner, Robert Priestley) e Melhor Música (George Duning). Ganhou dois: Melhor Montagem e Direcção Artística.

PIQUENIQUE
Título original: Picnic
Realização: Joshua Logan (EUA, 1955); Argumento: Daniel Taradash, segundo peça teatral de William Inge; Produção: Fred Kohlmar; Música: George Duning; Fotografia (cor): James Wong Howe; Montagem: William A. Lyon, Charles Nelson; Design de produção: Jo Mielziner; Direcção artística: William Flannery; Decoração: Robert Priestley; Guarda-roupa: Jean Louis; Maquilhagem: Clay Campbell, Helen Hunt, Robert J. Schiffer; Assistentes de realização: Carter De Haven Jr.; Som: George Cooper, John P. Livadary; Coreografia: Miriam Nelson; Companhia de produção: Columbia Pictures Corporation; Intérpretes: William Holden (Hal Carter), Kim Novak (Madge Owens), Betty Field (Flo Owens), Susan Strasberg (Millie Owens), Cliff Robertson (Alan Benson), Arthur O'Connell (Howard Bevans), Verna Felton  (Helen Potts), Reta Shaw (Irma Kronkite), Rosalind Russell (Miss Rosemary Sydney), Nick Adams, Raymond Bailey, Elizabeth Wilson, Warren Frederick Adams, Carle E. Baker, George E. Bemis, Steve Benton, Harold A. Beyer, Paul R. Cochran, Adlai Zeph Fisher, Don C. Harvey, Flomanita Jackson, Shirley Knight, Phyllis Newman, Henry Pagueo, Harry Sherman Schall, Floyd Steinbeck, Wayne R. Sullivan, Henry P. Watson, Abraham Weinlood, etc. Duração: 115 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia Filmes; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 5 de Abril de 1956.


KIM NOVAK (1933- )
Kim Novak não tem uma filmografia extensa, afirma que apareceu no cinema por acaso, mas deixa o seu lugar bem marcado na história da sétima arte. Desde logo por ser uma das musas louras de Htchcock, que a dirige naquele que hoje é considerado por alguns o melhor filme de sempre, “A Mulher que Viveu Duas Vezes” (Vertigo). É dela igualmente uma das cenas românticas mais sensuais do cinema, uma noite de baile em “Piquenique”. Mas há muito mais a recordar desta actriz lindíssima que foi igualmente uma das preferidas de Richard Quine (com quem chegou a viver, nos anos 60, e com quem rodou “Tentação Loira”, “Sortilégio de Amor”, “Um Estranho na Minha Vida, ou “Notável Senhoria”). 
Marilyn Pauline Novak, mais conhecida por Kim Novak, nasceu em Chicago, Illinois, EUA, no dia 13 de Fevereiro de 1933, contando agora 82 anos. De origem checa, os pais tinham sido professores, mas ela nunca foi uma boa estudante. Por isso, quando acabou os estudos secundários, passou por vários ofícios, desde ascensorista a empregada de loja e ajudante de dentista, mas foi como modelo de moda jovem que melhor se sentiu. Ingressa mesmo numa escola de modelos, após o que viaja para Los Angeles, onde lhe oferecem pequenos papéis na RKO e depois na Columbia. Como se chamava Marilyn, mudou o nome para se distanciar de Marilyn Monroe, mas manteve Novak. Em 1954, aparece em “Pushover”, ao lado de Fred MacMurray, num curto papel que chamou a atenção. Tornou-se muito popular e começaram a surgir grandes trabalhos, como “Picnic”, fazendo par com William Holden, sob as ordens de Joshua Logan. Conhece um triunfo em toda a linha. Frank Sinatra é o seu parceiro em “Pal Joey” e “The Man with the Golden Arm”, e James Stewart, em “Vertigo”, de Hitch. Roda “The Amorous Adventures of Moll Flanders”, em 1965, e decide afastar-se uns tempos do cinema. Novak já vivia desiludida com os papéis que então lhe atribuíam. Regressa três anos depois com “The Legend of Lylah Clare”, que foi um fracasso. Os filmes seguintes não lhe agradam e, em 1991, depois de “Liebestraum”, de Mike Figgis, retira-se, dedica-se à pintura e cria cavalos nas herdades no Oregon e na Califórnia. Em 1957, fez greve em protesto contra o salário que recebia na época e mantém fama de rebelde e de difícil ao longo de toda a sua carreira.
Foi casada com o actor Richard Johnson durante um ano (1965-1966) e depois com o médico veterinário Robert Malloy (1976-até ao presente). Foi muito notada uma relação com o actor Michael Brandon (1973-1974), para lá de algumas outras mais (Frank Sinatra, Aly Khan, Ramfis Trujillo, Sammy Davis, Jr….). Possui uma estrela na “Walk of Fame”, localizada perto do nº 6336, em Hollywood Boulevard. Recebeu um Globo de Ouro, como actriz revelação feminina, por “Piquenique” e um BAFTA, para “melhor actriz estrangeira” pelo mesmo filme. Recolheu ainda um Urso de Ouro honorário pela sua contribuição para a 7ª arte no 47º Festival de Cinema de Berlim.


Filmografia
Como Actriz: 1953: The French Line (A Moda Vem de Paris), de Lloyd Bacon; 1954: Pushover (Tentação Loira), de Richard Quine; 1954: Phffft! (Pffft... é o Amor Que Se Evapora), de Mark Robson; 1955: Son of Sinbad (O Filho de Sinbad) de Ted Tetzlaff; 5 Against the House (4 Homens e Uma Mulher), de Phil Karlson; Picnic (Piquenique), de Joshua Logan; The Man with the Golden Arm (O Homem do Braço de Ouro), de Otto Preminger; 1956: The Eddy Duchin Story (Melodia Fascinante), de George Sidney; 1957: Jeanne Eagels (Um Só Amor), de George Sidney; Pal Joey (O Querido Joey), de George Sidney; 1958: Vertigo (A Mulher Que Viveu Duas Vezes), de Alfred Hitchcock; Bell Book and Candle (Sortilégio de Amor),de Richard Quine; 1959: Middle of the Night (A Meio da Noite), de Delbert Mann; 1960: Strangers When We Meet (Um Estranho na Minha Vida), de Richard Quine; Pepe (Pepe), de George Sidney; 1962: The Notorious Landlady (Notável Senhoria) de Richard Quine; Boys' Night Out (Não Brinque com os Maridos), de Michael Gordon; 1964: Of Human Bondage (Servidão Humana), de Bryan Forbes; Kiss Me Stupid (Beija-me, Idiota), de Billy Wilder; 1965: The Amorous Adventures of Moll Flanders (A Vida Amorosa de Moll Flanders), de Terence Young; 1968: The Legend of Lylah Clare (A Lenda de uma Estrela), de Robert Aldrich; 1969: The Great Bank Robbery (Olhos Verdes, Loira e Perigosa), de Hy Averback; 1973: Tales That Witness Madness,  episódio "Luau" (TV); 1973: The Third Girl from the Left, de Peter Medak (TV); 1975: Satan's Triangle, de Sutton Roley (TV); 1977: The White Buffalo (A Carga do Búfalo Branco), de Jack Lee Thompson; 1979: Schöner Gigolo, armer Gigolo (História de um Gigolo), de David Hemmings; 1980: The Mirror Crack'd (Espelho Quebrado), de Guy Hamilton; 1983: Malibu (TV); 1985: Alfred Hitchcock Presents; episódio “Man from the South”; 1987: Es hat mich sehr gefreut, de Mara Mattuschka (curta-metragem); 1986-1987: Falcon Crest (TV); 1987: Es hat mich sehr gefreut (curta-metragem); 1990: The Children, de Tony Palmer; 1991: Liebestraum, de Mike Figgis.

Documentários: 1959: Premier Khrushchev in the USA; 1963: Showman. 

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