domingo, 19 de junho de 2016

SESSÃO 23: 20 DE JUNHO DE 2016


ENTRE DUAS LÁGRIMAS (1952)

“Carrie” (Entre Duas Lágrimas) parte de um romance de Theodore Dreiser ("Sister Carrie"), um dos mais importantes escritores norte-americanos do início do século XX. Theodore Herman Albert Dreiser (1871—1945) pertenceu ao naturalismo social, de tendência socialista e mesmo comunista (filiou-se no partido comunista norte-americano alguns meses antes de morrer), sendo “Sister Carrie” (1900) o seu primeiro romance, a que se seguiram outros que tiveram igualmente adaptações cinematográficas, como “An American Tragedy”, de Josef von Sternberg (1931), mais tarde outra vez adaptado, em 1951, com o título “A Place in the Sun”, por George Stevens.
"Sister Carrie", passado ao cinema por Ruth Goetz e Augustus Goetz, sofreu várias alterações, desde logo no título que, no cinema, perdeu o “Sister” para não ser tomado como obra religiosa. Mas o férreo código Hays exerceu ainda forte censura durante a adaptação que inicialmente foi proibida. Mas, de concessão em concessão, lá se conseguiu um argumento que passou, surgindo sobretudo muitos acertos na figura de Carrie, que foi muito nuanceada na descrição da sua personalidade. Carrie Meeber (Jennifer Jones) é uma jovem que vive numa pequena cidade da província e parte para Chicago para melhorar a sua vida. Instala-se em casa de uma irmã, mas rapidamente se deixa seduzir por um pequeno industrial, Charles Drouet (Eddie Albert), que a põe por conta e a leva a jantar a um restaurante sofisticado, dirigido por George Hurstwood (Laurence Olivier), homem muito mais velho que ela, casado com Julie Hurstwood (Miriam Hopkins) e pai de filhos, que se apaixona e deixa a família para vir viver com ela. O desenrolar da trama funciona como um melodrama de paixões intensas, com trajectos de vida desencontrados, enquanto Carrie sobe na vida como artista de music-hall, George afunda-se na mais completa indigência moral e física. A história, sem a grandeza “épica” de um “O Anjo Azul”, aproxima-se deste, com a figura feminina a ostentar um comportamento de compaixão muito diferente. Mas a grandeza da obra está na forma como descreve o ambiente social do século XIX nos EUA, como acompanha a evolução das personagens, mas também na hábil realização de William Wyler e dos seus colaboradores, desde o director de fotografia, Victor Milner, magnífico na fotografia a preto e branco, ao compositor David Raksin, aos directores artísticos Roland Anderson e Hal Pereira, aos figurinos da eterna Edith Head. Todos concorrem para uma obra de grande qualidade plástica, que se pressente, aqui e ali, quase totalmente rodada em estúdio (Paramount Studios - 5555 Melrose Avenue, Hollywood, Los Angeles), mas que mantém uma plausibilidade evidente.
Curiosamente, e apesar do rigor da censura, “Entre Duas Lágrimas” ainda deixa passar muitos sintomas de uma sociedade hipócrita e de falsa moral, onde a chantagem económica prevalece e arruína estatutos sociais, onde a mulher é vista como elemento a valorizar em função do seu físico, onde a vida familiar vive da aparência, onde a miséria se instala em todos os estratos sociais, da miséria económica à miséria moral.
William Wyler é um cineasta dos mais interessantes neste período (dos anos 40 a 60), com uma filmografia que fez frente a John Ford, causando até certa polémica nos meios da crítica internacional, que opunha um ao outro, como o mestre incontestável do cinema norte-americano. Na verdade, a sua obra é impressionante de qualidade e vigor, de sensibilidade e de interesse humano e social, denotando mesmo um certo estilo muito próprio, pela delicadeza dos movimentos de câmara, a justeza dos planos-sequência, e sobretudo a discreta mas perturbante direcção de actores. Tudo o que se pode admirar nesta obra de uma envolvência emocional extrema, galopando serenamente para o melodrama, sem nunca retirar os pés de uma sólida crítica social. Atente-se na sequência que assinala o encontro de Carrie e George no interior do restaurante, com a câmara a acompanhar o movimento de ambos, divididos por uma parede de vidro que os separa (e os une). Veja-se o excelente desempenho de todo o elenco, com particular destaque para Jennifer Jones, Laurence Olivier e Eddie Albert, todos eles em momentos altos das suas carreiras.
Como curiosidade, diga-se que Laurence Olivier aceitou interpretar o papel de George Hurstwood para poder estar em Hollywood ao mesmo tempo que a mulher, Vivien Leigh, que nessa altura criava a fabulosa personagem de Blanche, em “Um Eléctrico Chamado Desejo” (1951). Conhecido o clima de turbulência sentimental que o casal atravessava e as crises de instabilidade de Vivien Leigh, esta terá sido uma boa opção de Olivier que, todavia, não evitou o divórcio, tempos depois.

ENTRE DUAS LÁGRIMAS
Título original: Carrie
Realização: William Wyler (EUA, 1952); Argumento: Ruth Goetz, Augustus Goetz, segundo romance de Theodore Dreiser ("Sister Carrie"); Produção: Lester Koenig, William Wyler; Música: David Raksin;  Fotografia (p/b): Victor Milner; Montagem: Robert Swink; Direcção artística: Roland Anderson, Hal Pereira; Decoração: Emile Kuri; Guarda-roupa: Edith Head; Maquilhagem: Larry Germain, Wally Westmore; Som: Leon Becker, John Cope, Hugo Grenzbach; Efeitos visuais: Farciot Edouart; Companhia de produção: Paramount Pictures; Intérpretes: Laurence Olivier (George Hurstwood), Jennifer Jones (Carrie Meeber), Miriam Hopkins (Julie Hurstwood), Eddie Albert (Charles Drouet), Basil Ruysdael (Mr. Fitzgerald), Ray Teal (Allen), Barry Kelley (Slawson), Sara Berner (Mrs. Oransky), William Reynolds (George Hurstwood, Jr.), Mary Murphy (Jessica Hurstwood), Harry Hayden (O'Brien), Charles Halton, Walter Baldwin, Dorothy Adams, Jacqueline deWit, Harlan Briggs, Melinda Plowman, Donald Kerr, Don Beddoe, John Alvin, Charles Smith, Frank Wilcox, etc. Duração: 117 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Paramount / Lusomundo Audiovisuais; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 29 de Abril de 1953.


JENNIFER JONES (1919-2009)
Poucas actrizes se podem gabar de terem sido nomeadas quatro anos sucessivos para o Oscar de Melhor Actriz. Poucas se podem gabar igualmente de ganhar a estatueta logo na sua primeira interpretação como protagonista. Jennifer Jones ganhou o Oscar de Melhor Actriz em 1944, com “A Canção de Bernardette”, e recebeu mais quatro nomeações para o mesmo troféu: 1945, “Desde Que Tu Partiste”; 1946: “Cartas de Amor”; 1947: “Duelo ao Sol”; e 1956: “A Colina da Saudade”. Ganhou ainda o Globo de Ouro de Melhor Actriz num filme dramático, ainda em 1944, para “A Canção de Bernardette”.
Jennifer Jones nasceu com o nome de Phylis Lee Isley, em Tulsa, Oklahoma, EUA, a 2 de Março de 1919, tendo falecido em Malibu, EUA, a 17 de Dezembro de 2009. Os pais, Flora Mae e Phillip Ross Isley, viajaram pelo interior do país com uma barraca de espectáculos que dirigiam. Jennifer Jones estudou na Faculdade Monte Cassino Junior, em Tulsa, e na Universidade Northwestern, em Illinois, onde foi membro da irmandade Kappa Alpha Theta, antes de se transferir para a Academia Americana de Artes Dramáticas de Nova Iorque, em 1938. Foi aqui que conheceu Robert Walker, com quem se casou a 2 de Janeiro de 1939. Ainda como Phylis Isley, e já em Hollywood, conseguiu dois papéis pequenos, primeiro no western de 1939 “New Frontier”, e no serial “Dick Tracy's G-Men”, antes de ser recusada pela Paramount Pictures. Em Nova Iorque foi modelo de chapéus, da agência de John Robert Powers, quando percebeu que o produtor David O. Selznick fazia testes para encontrar a protagonista de “Claudia”, peça teatral de Rose Franken, de grande êxito. Ela apreceu, mas sentiu-se tão mal no teste que fugiu, em lágrimas. Selznick, entretanto, ficou de tal forma impressionado que a mandou regressar, assinando um contrato de sete anos com ela (mais tarde assinaria um de vida intera, casando com a actriz, provocando o divórcio de Robert Walker, que irá falecer pouco depois, vítima de álcool e drogas). Foi Henry King quem a contratou, já sob o nome de Jennifer Jones, para o seu novo filme, “A Canção de Bernardette”, entregado-lhe o papel de Bernadette Soubirous, o que a leva ao Oscar de Melhor Actriz, alcançado no dia em que completava 25 anos. A concorrer com ela estava Ingrid Bergman (em “For Whom the Bell Tolls”), a quem pediu desculpa por lhe “roubar” a estatueta. Mas Bergman respondeu-lhe: "Não, Jennifer, sua Bernadette foi melhor do que a minha María". No ano seguinte, com as duas novamente nomeadas, Ingrid Bergman receberia o Oscar por “Gaslight” das mãos da amiga. Foi o início de uma carreira carregada de sucessos, sempre orientada pela visão de Selznick. Em “Duel in the Sun”, escrito e produzido por Selznick para glória de Jennifer, esta brilha a grande altura, num registo completamente diferente de Bernardette, fogosa e sensual. “Since You Went Away” (1944), “Love Letters” (1945), “Cluny Brown” (1946), “Portrait of Jennie” (1948), “Madame Bovary” (1949), “Carrie” (1952), “Ruby Gentry” (1952), “Beat the Devil” (1953), “Good Morning Miss Dove” (1955), “Love is a Many-Splendored Thing” (1955), “The Man in the Gray Flannel Suit” (1956) ou “A Farewell to Arms” (1957) são momentos altos na sua filmografia. O seu derradeiro papel no cinema surge no filme catástrofe “The Towering Inferno” (1974), retirando-se depois, após o seu terceiro casamento, com o industrial multimilionário e coleccionador de arte Norton Simon. O casal sobreviveu a várias mortes violentas: um filho de Jennifer e de Robert Walker suicidou-se. Robert Walker, como já vimos, não sobreviveu muito tempo ao divórcio de Jennifer. A filha resultante do seu segundo casamento, Mary Jennifer Selznick, suicidou-se, em 1976, lançando-se da janela do vigésimo andar de um prédio. Um filho de Norton Simon, de um anterior casamento, suicidou-se igualmente. Em Novembro de 1967, ela própria tentou suicidar-se, num hotel de Malibu. Preocupada com as doenças mentais e dada à psicologia, em 1980 doou um milhão de dólares para criar a “Jennifer Jones Simon Foundation for Mental Health and Education”. Jennifer e Norton casaram em 1971, depois de se terem conhecido numa festa-leilão em que era posto à venda o quadro de Jennifer Jones que aparece em “Portrait of Jennie”. Norton Simon morreu em Junho de 1993, e a mulher passou a presidente e administradora emérita do Museu Norton Simon, em Pasadena. Viveu os últimos anos no Sul da Califórnia, depois de ultrapassar um cancro de mama, recusando-se a dar entrevistas e raramente aparecendo em público. Morreu de causas naturais, a 17 de Dezembro de 2009, aos 90 anos de idade. Encontra-se sepultada no Forest Lawn Memorial Park (Glendale), Glendale, Los Angeles, EUA. Casada com Robert Walker (1939 - 1945), David O. Selznick (1949 - 1965) e Norton Simon (1971 - 1993).



Filmografia:

Como actriz: 1939: New Frontier, de George Sherman; The Streets of New York (TV); Dick Tracy's G-Men (O Espião Assassino), de William Witney e John English; 1943: The Song of Bernadette (A Canção de Bernadette), de Henry King; 1944: Since You Went Away (Desde Que Tu Partiste), de John Cromwell; The Fighting Generation (curta-metragem); 1945: Love Letters (Cartas de Amor), de William Dieterle; 1946: Duel in the Sun (Duelo ao Sol) de King Vidor; Cluny Brown (O Pecado de Cluny Brown), de Ernst Lubitsch; 1948: Portrait of Jennie (O Retrato de Jennie), de William Dieterle; 1949: We Were Strangers (Os Insurrectos), de John Huston; Madame Bovary (Madame Bovary), de Vincente Minnelli; 1950: Gone to Earth (A Raposa) de Michael Powell e Emeric Pressburger; The Wild Heart (nova versão de A Raposa, imposta por Selznick), de Michael Powell, Emeric Pressburger e Rouben Mamoulian (para a versão americana); 1952: Carrie (Entre Duas Lágrimas), de William Wyler; Ruby Gentry (A Fúria do Desejo), de King Vidor; 1953: Stazione Termini (Estação Terminus), de Vittorio De Sica; Beat the Devil (O Tesouro de África) de John Huston; 1955: Love Is a Many-Splendored Thing (A Colina da Saudade), de Henry King; Bonjour Miss Dove (Bons Dias, Miss Dove), de Henry Koster; 1956: The Man in the Gray Flannel Suit (O Homem de Fato Cinzento), de Nunnally Johnson; 1957: The Barretts of Wimpole Street (Miss Bá), de Sidney Franklin; A Farewell to Arms (O Adeus às Armas), de Charles Vidor; 1962: Tender is the Night (Terna é a Noite), de Henry King; 1966: The Idol (O Ídolo Quebrado), de Daniel Petrie; 1969: Angel, Angel, Down We Go de Robert Thom; 1974: The Towering Inferno (A Torre do Inferno), de John Guillermin; 1989: The American Film Institute Salute to Gregory Peck (TV), de Louis J. Horvitz.

sábado, 11 de junho de 2016

SESSÃO 29: 1 DE AGOSTO DE 2016





O PECADO MORA AO LADO (1955)

“The Seven Year Itch” tem argumento de Billy Wilder e George Axelrod, partindo de uma peça de George Axelrod, que se baseia num tema muito trabalhado no campo do espectáculo, sobretudo na comédia: a crise dos sete anos num matrimónio. Segundo consta das estatísticas dos psicólogos, as relações no interior de um casamento sofrem períodos de forte quebra de estabilidade, a cada série de sete anos. Chamam-lhe os americanos qualquer coisa como “o desejo intenso dos sete anos”, desejo de novidade, de transgressão. Com esta base, Billy Wilder constrói uma comédia deliciosamente perversa, como só ele sabe fazer.
Abre com um prólogo “histórico” no qual se recordam os costumes que existiam na ilha de Manhattan quando, há 500 anos, esta era habitada por índios que tinham o costume de mandar as mulheres para locais mais frescos, quando o calor ali apertava a partir do início do verão. Elas iam, nem todas, claro, e eles ficavam a trabalhar, isto é, caçar, lançar armadilhas, pescar. Tudo ideias que podem conter um duplo sentido, e que, neste caso, tinham. 500 anos depois, numa estação de caminhos de ferro, os hábitos mantêm-se.
Richard Sherman (Tom Ewell) trabalha numa editora de livros de bolso, onde tem de tornar “atractivos” os clássicos. Colocando, por exemplo, grandes decotes nas capas das “Mulherzinhas”. Para lá disso, está casado há sete anos, com Helen (Evelyn Keyes). Nesse verão tórrido, ela parte para férias com o filho, Ricky, e deixa o marido só, na grande metrópole, entregue ao trabalho (e à tão falada crise dos sete anos). Para cúmulo, quando chega a casa Richard descobre que o andar de cima foi subalugado a um modelo de televisão, que no filme será conhecida apenas por “The Girl”, mas que todos reconhecem ser Marilyn Monroe num dos seus trabalhos míticos, aquele em que ela aparece com uma belíssima saia rodada sobre um dos ventiladores do metropolitano de Nova Iorque, flutuando a saia ao sabor da ventania e do desejo dos observadores (neste caso, o atarantado Richard, e nós, espectadores do filme). A cena foi filmada primeiramente num cruzamento da rua 54 com a Maddison Avenue, ao longo de várias horas, sempre com para cima de cinco mil mirones a rodear o exterior (entre os quais o então marido de Marilyn, Joe Di Maggio, que não suportava os ciúmes e com esta missão acrescentava mais achas à fogueira do próximo divórcio). Tornou-se impossível rodar a cena, que teve de ser repetida em interiores, no estúdio da Fox. Diz-se que todos as americanos esperavam ansiosamente este filme desde que as fotografias desta cena apareceram nos jornais, publicitando a obra. Philip Strassberg, crítico do “New Iork Daily Mirror”, terminava dizendo: “A paciência foi recompensada.”


Voltando ao filme, para agravar as coisas e pôr à prova a pouca resistência do patético Richard, a rapariga perde a chave da porta da rua, deixa cair uma planta (um tomateiro!) no terraço deste, procura desculpar-se, é convidada para um “drink” (diz que desce já, é “só ir buscar o vestido que está a refrescar no congelador”!), e vai ficando para aproveitar a frescura, agora do frigorífico do vizinho (que é sempre melhor que a nossa), desencadeando as mais loucas fantasias em Richard.
O que levanta uma questão muito curiosa: a peça de George Axelrod é um longo monólogo de Richard imaginando fantasias com uma inexistente rapariga, depois de rememorar várias cenas onde se sente o homem mais sexy do planeta que tenta afastar sempre as tentativas violentamente apaixonadas de algumas mulheres por si seduzidas (o que o leva a inventar mesmo uma réplica da célebre cena da praia de “Até à Eternidade”). No filme de Billy Wilder, porém, a presença de Marilyn Monroe é tão obsidiante que se torna o centro de atenção do filme, tornando Richard um espectador apenas. Truffaut vai mais longe e compara esta bela comédia de Billy Wilder a um documentário sobre Marilyn. Marilyn, o objecto do desejo.

O PECADO MORA AO LADO
Título original: The Seven Year Itch
Realização: Billy Wilder (EUA, 1955); Argumento: Billy Wilder & George Axelrod, segundo peça de George Axelrod ("The Seven Year Itch"); Produção: Charles K. Feldman, Doane Harrison, Billy Wilder; Música: Alfred Newman, Sergei Rachmaninov ("Second Piano Concerto"); Fotografia (cor): Milton R. Krasner; Montagem: Hugh S. Fowler; Direcção artística: George W. Davis, Lyle R. Wheeler; Decoração: Stuart A. Reiss, Walter M. Scott; Guarda-roupa: Travilla; Maquilhagem: Ben Nye, Helen Turpin, Allan Snyder; Direcção de produção: A.F. Erickson, Saul Wurtzel; Assistentes de realização: Joseph E. Rickards; Som: Harry M. Leonard, E. Clayton Ward; Efeitos Especiais: Ray Kellogg; Genérico: Saul Bass; Companhias de produção: Charles K. Feldman Group, Twentieth Century Fox Film Corporation; Intérpretes: Marilyn Monroe (a rapariga), Tom Ewell (Richard Sherman), Evelyn Keyes (Helen Sherman), Sonny Tufts (Tom MacKenzie), Robert Strauss (Mr. Kruhulik), Oskar Homolka (Dr. Brubaker), Marguerite Chapman (Miss Morris), Victor Moore, Roxanne (Dolores Rosedale), Donald MacBride, Carolyn Jones, Butch Bernard, Dorothy Ford, Kathleen Freeman, Ralph Littlefield, Doro Merande, Ron Nyman, Ralph Sanford, Mary Young, etc. ; Duração: 105 minutos; Distribuição em Portugal: Distribuição em Portugal: Fox Filmes.; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 6 de Fevereiro de 1956.


MARILYN MONROE (1926-1962)
Falar de Marilyn Monroe é tarefa quase impossível no que diz respeito à sua biografia. Se a sua morte está ainda hoje envolta num manto de opaca dúvida (seria suicídio ou assassinato?), tudo o mais se rege pelos mesmos princípios. Nada é certo na sua vida e quase apetece perguntar se Marilyn existiu realmente. Há os seus filmes, uma das poucas realidades palpáveis e definitivas, mas, quanto ao resto, cada biografia aponta num sentido, refuta as outras, acrescenta um ponto. Uma afirma que foi o marido da melhor amiga da mãe que a viola aos nove anos, outra que foi aos catorze um Zé-ninguém, o primeiro marido garante que casou com ela virgem. Mas há quem diga que tudo principiou aos seis anos. E que aos dois a tentaram matar, asfixiando-a com um travesseiro. Uns afirmam que o primeiro contrato com a Fox foi celebrado em Junho, um outro em Agosto, e há também quem garanta que foi em Setembro, coincidindo todos no ano, 1946, mas divergindo nas importâncias: um contrato que valia para uns 125 dólares, para outros 75… Há quem diga que foi o agente Hyde que a lançou, outros afiançam que ele nada teve a ver com o facto. Enfim, restam os filmes, as fotos, e a lenda. A lenda que por vezes é mais forte que a verdade, como dizia o director do jornal do filme de John Ford, “O Homem que Matou Liberty Valance”: “Quando a lenda é mais forte que a História, imprime-se a lenda!”
No controverso plano da biografia de Marilyn Monroe, a ideia não foi optar pela lenda, mas tentar tecer um conjunto de factos plausíveis, retirados de várias biografias manuseadas. A maioria delas não possui qualquer credibilidade. E mesmo as mais credíveis, assinadas por nomes como Norman Mailer ou Arthur Miller, são textos com muito de subjectivo e, nalguns casos, obviamente tendenciosos. Resta-nos tentar uma aproximação possível da vida de Marilyn, com todas as inexactidões e erros prováveis, e falar sobretudo do mais importante, o que permanece para lá da morte, a lenda, o mito, e os filmes.
De nome de baptismo chamava-se Norma Jean Mortensen, mas começou por ser conhecida por Norma Jean Baker. Nasceu a 1 de Junho de 1926, no Los Angeles General Hospital, em Los Angeles, Califórnia, EUA, e teve uma infância difícil. A mãe, Gladys Baker Monroe, chegou a trabalhar no cinema, como montadora de negativo, teve problemas psiquiátricos, esteve presa várias vezes e vivia permanentemente em condições de quase penúria extrema. Morreu num asilo psiquiátrico, com o diagnóstico de esquizofrénica-paranóica, e há quem diga que matara com uma facada, a melhor amiga, Grace McKee. A mesma cujo marido terá abusado sexualmente de Norma Jean, quando esta tinha apenas nove anos. As recordações de infância não poderiam, no entanto, ser mais dramáticas.
Já a avó materna fora internada num hospício depois de ter tentado sufocar a neta com um travesseiro. Do pai, Norma Jean pouco soube e nenhuma certeza teve. Há quem fale num tal Edward Mortensen, que garantem ter sido padeiro e que morrera vítima de um acidente de viação, antes de Marilyn nascer. Mas um outro biógrafo afirma que este mesmo Mortensen morreu aos 81 anos, em Riverside, de um ataque de coração. Há quem afirme, todavia, que o pai era um amigo desse Edward, colega da mãe na Consolidated Film Industries, e que se chamava Charles Stanley Gifford. Quando o tentou encontrar, ainda no início da sua carreira, este mandou dizer pelo telefone que se tinha alguma reclamação a apresentar se dirigisse ao seu advogado. Mais tarde, no auge da sua fama, Gifford tentou a aproximação, mas Norma Jean recordou-lhe então esta conversa.
Atendendo à instabilidade emocional da mãe, e ao facto de esta ser mãe solteira, Norma Jeane foi para casa de uma família adoptiva, a do muito religioso (fundamentalista!) casal Albert e Ida Bolender. Foi aqui que viveu os primeiros sete anos da sua vida: “Eram terrivelmente severos… não era por mal… era a sua religião. Educaram-me com muita severidade.” Mas à severidade de uns correspondia a depravação de outros. Em Outubro de 1933, com as finanças mais equilibradas, Gladys passa a viver por algum tempo com a filha Norma Jean. Em Setembro de 1935, com nove anos de idade, depois de ter sido (novamente?) violada (fala-se de um enigmático Mr. Kimmell, que poderia ter sido o actor inglês Murray Kinnell), foi para um orfanato, o Los Angeles Orphan’s Home, onde permaneceu até Junho de 1937, em condições, relatadas por ela, dignas de um romance de Dickens. Jura que teve de lavar quantidades enormes de louça e se banhava em água suja, apanhava surras com escovas de cabelo e vivia infeliz: “Nessa altura, o mundo à minha volta era deprimente. Tive de aprender a fingir para… não sei… afastar a tristeza. O mundo todo parecia que me estava fechado… (Sentia-me) de fora de tudo e a única coisa que eu podia fazer era sonhar uma espécie de mundo de faz-de-conta.”
Em Setembro de 1941, Norma Jean, depois de várias outras peripécias, estava a viver com Grace McKee que a encorajou a casar com o jovem Jim Dougherty, cinco anos mais velho do que ela. Casaram no dia 19 de Junho de 1942: “Grace McKee arranjou-me o casamento, eu não tive alternativa. Não há muito a dizer acerca disso. Eles não me podiam sustentar e tinham que arranjar qualquer coisa. E foi assim que me casei”. Compreende-se que, com apenas 16 anos, Norma Jean se case com Jimmy Dougherty, um jovem de 21 anos que conheceu quando trabalhava na Rádio Plane, em Van Nuys, Califórnia, uma fábrica de construção de aeronaves. O casamento funcionou como uma forma de libertação, um escape. De pouca duração. Dougherty alistou-se na Marinha em 1943 e, no ano seguinte, foi enviado para a frente da batalha. Ela ficou. Divorciaram-se em Junho (ou Setembro?) de 1946. Antes, em 1944, Marilyn foi fotografada na fábrica de material militar por David Conover um repórter fotográfico. O Exército encomendara as fotos com o intuito de divulgar o papel e a contribuição das mulheres durante a guerra. O fotógrafo, que havia sido enviado nessa missão pelo capitão Ronald Reagen, pediu permissão para fazer mais fotos e Marilyn dava início à sua carreira de modelo. Emmeline Snively, directora do “Blue Book Modeling Agency” ficou entusiasmada com o que viu e contratou-a como modelo. Cinco dólares por hora. A primeira capa foi a de “Family Circle”, aparecida a 26 de Abril de 1946. No ano seguinte, a beleza de Norma Jean tornou-se imensamente popular, sendo capa de 33 das revistas mais famosas. Entretanto, deixara o trabalho na fábrica e assume a tempo inteiro uma carreira de modelo. O seu fito é, no entanto, chegar ao cinema.


O sucesso como modelo fotográfico leva a 20th Century-Fox a contratá-la no dia 26 de Agosto de 1946 (admitamos como certa esta data!). Foi Howard Hughes quem a notou antes e lhe propôs uns testes. Zanuck, o patrão da Fox, não estava muito inclinado sequer para o teste, mas quando o viu ficou entusiasmado e Marilyn assina um contrato de 75 dólares por semana (admitamos como certa esta importância!). Billy Wilder, mais tarde, diria que Zanuck ficou particularmente tentado pelo “impacto sensual”, e acrescentou: “Há raparigas que têm uma pele que parece viver na fotografia. Temos a impressão de que as podemos tocar.” Norma Jean era uma delas. Pouco depois, e por sugestão da Fox (dizem que por sugestão de Bent Lyon), Norma Jean começou a assinar o nome Marilyn Monroe. Monroe vem da sua mãe e Marilyn da actriz Marilyn Miller. A primeira aparição de Marilyn foi numa pequena cena, em 1947, no filme "The Shocking Miss Pilgrim". Seguiu-se-lhe “Scudda Hoo! Scudda Hay!” onde a sua contribuição a nível de diálogo se resumia a um “Hi!”, ainda assim cortado na montagem definitiva. “Dangerous Years” mostra-a num grande plano, o que não foi suficiente para a Fox manter o contrato. Dispensada, foi para a Columbia, em cujo primeiro filme, “Ladies of the Chorus”, interpreta a personagem secundaríssima da “strip-teaseuse” Peggy Martin, que canta a famosa canção “Every Baby Needs a Da-Da-Daddy”. Mas também a Columbia não ficou entusiasmada com o concurso de Marilyn, e foi de novo dispensada, depois de algumas outras curtas aparições. Voltou a trabalhar como modelo, até que respondeu a um anúncio para um papel num filme que seria o último dos Irmãos Marx: “Love Happy”. Ela recorda o episódio: “Éramos três e Groucho pedia a cada uma para dar alguns passos à sua frente. Eu fui a única que ele pediu para recomeçar, segredando-me antes ao ouvido: “Tu tens o mais belo rabo da profissão!” Era um cumprimento, não uma grosseria.” Uma cena de minuto e meio, e foi tudo. Continuou a representar pequenos papéis, mas surge então (1949) uma personagem que irá ter algum significado na vida de Marilyn, Johnny Hyde, agente da William Morris Agency e rapidamente seu amante, que encontra numa recepção em Palm Springs e que se mostra entusiasmado com o futuro da prometedora actriz. Hyde está profundamente apaixonado por Marilyn, propõe-lhe casamento. Ela recusa, apesar da fortuna que poderia herdar rapidamente. Hyde estava gravemente doente do coração, explica-lhe que terá pouco tempo de vida, mas Marilyn confessa-lhe que “tem muita afeição por ele, que o acha um homem delicado, meigo, brilhante, um amigo querido, mas que não está apaixonada.” A família do defunto pede-lhe para não ir ao enterro. Mas ela vai. É ainda em 1949 que Marilyn aceita posar nua para um calendário, facto que mais tarde irá acarretar inúmeras críticas e contestação, quando a actriz era já uma vedeta, o que lhe valeu uma réplica célebre: “Hollywood é um lugar onde te pagam mil dólares por um beijo e cinquenta cêntimos pela tua alma.” Na verdade, a foto de Tom Kelley deu-lhe 50 dólares a ganhar e conseguiu um lucro de mais de 750.000.
Foi Johnny Hyde quem, em 1950, chamou a atenção do realizador John Huston para Marilyn. Ele viu uma das suas “aparições” no ecrã e resolve dar-lhe uma oportunidade de maior relevo em "Asphalt Jungle", depois de um teste lendário: Marilyn aparece com os peitos reforçados por “kleenexs” para causar melhor impressão, John Huston, ele próprio, alivia-a desses apêndices e diz-lhe para ela “passar o texto”. Marilyn pede para se deitar no chão, pois a cena seria passada numa cama, e não se cansa de repetir a “deixa”. Será Huston a mandá-la calar, dizendo “Basta, o papel é teu. Aparece segunda-feira no estúdio às nove horas.” Será a “sobrinha” de Louis Calhern, um advogado corrupto num grupo de “gansgters”, que ela atraiçoa, neste “filme negro” que se tornou um clássico do género.
Esta obra abre-lhe as portas para novas oportunidades, cada vez mais influentes. O seu desempenho em "All About Eve", também em 1950, gerou alguma notoriedade, e ficou a dever-se ao facto de Joseph L. Mankiewicz a ter visto em “Quando a Cidade Dorme”. Nesta obra-prima que aborda o universo do cinema, Marilyn é uma jovem estudante de arte dramática e aparece ao lado de nomes consagrados como os de Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Gary Merrill ou Celeste Holm. Quem a viu nos primeiros dias de filmagens percebeu o terror em que a mesma vivia. Chegava com horas de atraso ao estúdio, não conseguia fixar uma linha de texto, obrigava cada plano a ser filmado para cima de vinte vezes. Seria o início de um longo calvário (que se iria prolongar nos mesmos termos até ao fim da sua carreira) para os realizadores, produtores e colegas actores que consigo contracenavam, mas seria igualmente um pesadelo para a própria Marilyn, vítima da insegurança e da fragilidade psicológica de uma Norma Jean nunca amada, nunca desejada como pessoa, apenas cobiçada como corpo erótico para satisfação de sonhos de homens (e mulheres) que viam nela apenas um objecto sexual facilmente descartável depois de utilizado.


Toda a vida de Marilyn parece evoluir entre duas realidades psicológicas contraditórias: por um lado a necessidade de ser desejada a todo o preço, de se sentir cortejada, adulada, nem que para tal se tenha de converter num mero “sex symbol” de uma geração (ou de várias); por outro lado a imperiosa exigência de romper com esse estatuto de mulher-brinquedo, loura e desmiolada, apenas desejada pelo seu busto, o seu andar, a generosidade da sua sensualidade explosiva. Neste caso, Marilyn pretendia acima de tudo ser olhada como mulher, como actriz, como alguém que pensa e sente, que lê bons livros e é capaz de ser amada por um dos mais prestigiados escritores norte-americanos do seu tempo (Arthur Miller, vítima de perseguições durante o “machartismo”, e a quem Marilyn soube apoiar nos momentos de crise), ou pelos presidenciáveis Kennedys. Esta duplicidade de desejo nunca resolvida, este esboço de esquizofrenia latente, ficou marcada no seu corpo pelas mãos dos mais importantes homens da América, desde presidentes a escritores, de produtores a cantores, de actores a realizadores, de agentes a multimilionários.
Marilyn queria ser a um tempo “maravilhosa” e/ou “apenas uma mulher” e uma “boa actriz”. O espantoso, porém, e talvez seja essa a razão maior da criação de um mito que nada irá apagar nunca, é a permanência de uma inocência inatacável no seu olhar, a fragilidade doce e etéreo de um corpo que todos desejam e ninguém parece macular. Para lá de todas as feridas que os anos vão acumulando, a sua pele continua “a apetecer ser tocada”, tal como uma deusa misteriosa de desígnios insondáveis. O mito nasce.
"Clash By Night", de Fritz Lang, em 1952, merece igualmente boas referências da crítica. Marilyn conhece Joe DiMaggio no início de 1952, ela tem 25 anos, ele 37. DiMaggio tinha-se retirado do basebol norte-americano, concluindo uma carreira de astro. Há tempos que manifestara o desejo de conhecer a sua actriz preferida e em Fevereiro desse ano o romance explode nas páginas das revistas. “Fiquei surpreendida por me apaixonar de tal maneira por Joe, disse Marilyn. Esperava que ele fosse do género do desportista flamejante de Nova Iorque, e em vez disso deparei com um tipo reservado que não se atirou a mim logo imediatamente. Joe é um homem muito decente que faz as outras pessoas sentirem-se decentes também.” 1952 marca ainda pontos na carreira cinematográfica de Marilyn, que filma "Niagara", de Henry Hathaway, com Joseph Cotten, uma obra que ajuda a consolidar o seu estatuto de vedeta. "Gentlemen Prefer Blondes", de Howard Hawks, é o título seguinte, que a reúne a Jane Russell. Ambas irão assinar e deixar as marcas de mãos e pés no cimento que fica no passeio frente ao Chinese Theatre, em Hollywood Boulevard. Este tinha sido o local que Marilyn havia visitado quando criança, acompanhada pela mãe e pela amiga Grace. Tinha sido ali que havia jurado a si própria: “Quero ser uma grande estrela para lá de tudo o resto!" Conseguira-o. Em 14 de Janeiro de 1954, Marilyn casa-se pela segunda vez, desta feita com Joe DiMaggio. Apenas nove meses depois, a 27 de Outubro de 1954, divorciaram-se. O advogado de Marilyn explicou, em conferência de imprensa, que o motivo da separação foi “um conflito entre de carreiras”. Ou apenas mais um equivoco.
A celebridade da actriz é total e isso mesmo fica demonstrado na visita que Marilyn Monroe faz às tropas americanas deslocadas na Coreia. São 60.000 mil militares em estado de completa euforia que a recebem em apoteose. Após participar em vários filmes como apenas mais um belo rosto de Hollywood, Marilyn Monroe estava pronta para transformar a sua imagem através de uma séria actuação profissional. Queria deixar os papéis de tontinha e interpretar Dostoievski. Em 1956, Marilyn parte para Nova Iorque e dá início aos seus estudos sob a direcção de Lee Strasberg, no Actors Studio, uma casa que formara Marlon Brando, James Dean ou Paul Newman, entre tantos outros. Nesse mesmo ano, junto com o fotógrafo Milton Greene, Marilyn lançou a “Marilyn Monroe Productions”, uma produtora que irá intervir na concretização de alguns projectos futuros, como "Bus Stop", de Joshua Logan, (1956) e "The Prince and the Showgirl", de Laurence Olivier (1957). Em ambos os filmes ficam documentados os progressos da actriz em importantes papéis que exigem mais do que um rosto bonito e um corpo escultural. Em Londres, com Laurence Olivier como actor e realizador, Marilyn protagoniza um dos episódios mais desequilibrados da sua carreira, chegando sempre ao estúdio fora de horas e provocando a ira de Olivier. Tudo indica que será a partir desta época que a sua instabilidade psicológica se agrava.No dia 29 de Junho de 1956, depois de vários casos sentimentais, amplamente testemunhados pela imprensa de coração de todo o mundo, Marilyn Monroe casa com o dramaturgo Arthur Miller.
Entretanto, Billy Wilder, outro dos grandes cineastas norte-americanos, ainda que de origem europeia (austríaco), o que lhe confere um tipo de humor diferente, mais adulto e cínico, dirige Marilyn em duas das suas melhores comédias, “The Seven Year Itch” (1955) e, sobretudo, “Some Like it Hot” (1959). Em 1960, outro mestre americano, George Cukor realiza “Let’s Make Love”, onde Marilyn contracena com Yves Montand e nova situação explosiva se insinua durante a rodagem. A proximidade de Montand e Monroe não deixa ninguém indiferente, a começar pelos próprios. Durante as filmagens, Arthur Miller parte subitamente para o Nevada, deixando o par de actores entregue ao seu romance. Explosivo. Yves Montand, acabado o filme, regressa a Paris e à sua mulher, a actriz Simone Signoret. Marilyn sofre novo abalo.
O filme "The Misfits", último trabalho terminado da actriz, é escrito propositadamente por Miller para Marilyn, colocando-a ao lado de Clark Gable, que desde a infância, era o seu actor preferido e o homem que ela gostaria de ter tido como pai, ou algo mais. Tudo indica que Marilyn teria um problema edipiano mal resolvido, e toda a sua vida emocional e sexual parece ser uma longa procura do pai que nunca teve. Não será necessário ser um psiquiatra muito atento para inferir desta vida consumida em excessos uma conclusão destas. Um conjunto invulgar de episódios trágicos marca “Os Inadaptados”, que mantinha constantemente em estúdio, durante as filmagens, médicos para acompanharem quer Marilyn Monroe quer Montgomery Clift. Em Agosto de 1960, Marilyn é hospitalizada e as filmagens suspensas. Retomadas pouco depois, são concluídas em 4 de Novembro. A 11 do mesmo mês anuncia-se a separação de Marilyn e Miller e, a 16, Clark Gable morre vítima de um ataque cardíaco. Marilyn é acusada por Kay Gable, mulher do actor, de ter sido a causa da sua morte. O casamento entre Miller e Marilyn teve fim com o divórcio de 20 de Janeiro de 1961. Em Fevereiro, Marilyn tenta suicidar-se atirando-se de uma janela, mas fracassa nos seus intentos, sendo internada novamente numa clínica psiquiátrica de Nova Iorque. A dependência de drogas e do álcool acentua-se dramaticamente.
Em 1962, Marilyn foi considerada a estrela mais popular do mundo ("World's Most Popular Star"), demostrando a sua fama e o reconhecimento internacional. No dia 5 de Agosto do mesmo ano, com apenas 36 anos de idade, Marilyn Monroe morreu enquanto dormia, na sua casa de Brentwood, Califórnia. Tinha o telefone a seu lado. Uma dose excessiva de barbitúricos foi a causa apontada na autópsia. Mas a sua morte continua envolta em mistério. Fala-se em assassinato. O seu romance com os Kennedys vem à baila. O envolvimento com John F. Kennedy iniciara-se em finais de 1961. Na gala da celebração do aniversário do Presidente, no Madison Square Garden, a 6 de Maio de 1962, Marilyn canta o famoso "Happy Birthday To Mr. Presidente.” Também Bobby Kennedy ficou ligado a Marilyn com a suspeita de um “affair” numa data já muito próxima da sua morte. Por tudo isto, há quem fale de um silenciamento para impedir a revelação de algo comprometedor para alguém envolvido emocional e sexualmente com a actriz. O seu corpo foi sepultado no Westwood Memorial Park, em Los Angeles, Corridor of Memories, 24. Deixou atrás de si trinta filmes, entre os quais um, inacabado, "Something's Got to Give". “Sei que pertenço ao público e ao mundo, não porque seja especialmente talentosa e bela, mas porque nunca pertenci a nada ou ninguém mais.”



Filmografia:

Como actriz: 1947: The Shocking Miss Pilgrim (Sua Alteza a Secretária), de George Seaton; Dangerous Years, de Arthur Pierson; 1948: Scudda Hoo! Scudda Hay! ou Summer Lightning (Encanto da Mocidade), de F. Hugh Herbert; Ladies of the Chorus, de Phil Karlson; 1950: Love Happy ou Kleptomaniacs (Loucos por Mulheres), de David Miller, Leo McCarey (não creditado); A Ticket to Tomahawk, de Richard Sale; The Asphalt Jungle (Quando a Cidade Dorme), de John Huston; All About Eve (Eva), de Joseph L. Mankiewicz; The Fireball ou The Challenge, de Tay Garnett; Right Cross (Por um Amor), de John Sturges; 1951: Home Town Story, de Arthur Pierson; As Young as You Feel (Tão Jovem Quanto Possível), de Harmon Jones (TV); Love Nest (Um Ninho de Amor), de Joseph M. Newman (TV); Let's Make It Legal (Reconciliação), de Richard Sale (TV); 1952: Clash by Night (Conflito Nocturno), de Fritz Lang; We're Not Married! (Não Estamos Casados), de Edmund Goulding; Don't Bother to Knock (Os Meus Lábios Queimam), de Roy Ward Baker; Monkey Business (A Culpa Foi do Macaco), de Howard Hawks; O. Henry's Full House (Páginas da Vida), de Henry Hathaway, Howard Hawks, Henry King, Jean Negulesco e Henry Koster (episódio "The Cop and the Anthem", com Marilyn Monroe); 1953: Niagara (Niagara), de Henry Hathaway; Gentlemen Prefer Blondes (Os Homens Preferem as Loiras), de Howard Hawks; How to Marry a Millionaire (Como se Conquista um Milionário), de Jean Negulesco; 1954: River of No Return (Rio sem Regresso), de Otto Preminger e Jean Negulesco (este não creditado); There's No Business Like Show Business (Parada de Estrelas), de Walter Lang; 1955: The Seven Year Itch (O Pecado Mora ao Lado), de Billy Wilder; 1956: Bus Stop (Paragem de Autocarros), de Joshua Logan; 1957: The Prince and the Showgirl (O Príncipe e a Corista), de Laurence Olivier; 1959: Some Like It Hot (Quanto Mais Quente, Melhor), de Billy Wilder; 1960: Let's Make Love ou The Millionaire (Vamo-nos Amar), de George Cukor; 1961: The Misfits (Os Inadaptados), de John Huston; 1962: Something's Got to Give, de George Cukor (inacabado). 

SESSÃO 28: 25 DE JULHO DE 2016


LADRÃO DE CASACA (1955)

Na filmografia de Alfred Hitchcock, “To Catch a Thief” funciona quase como um divertimento. Não tem a densidade dramática, nem a intensidade de suspense, nem a profundidade de análise psicológica das obras maiores do mestre, mas aproxima-se muito do que era para si o cinema, um entretenimento de massas. “Não faço filmes para a crítica, não faço filmes para os produtores, faço filmes para distrair o público”. “Ladrão de Casaca” é uma excelente distracção, e não deve ter sido (e continua a não ser) só para os espectadores, mas também para quem o rodou em exteriores na Riviera Francesa, entre Cannes e Mónaco. Todo o filme reflecte o ambiente de uma contagiante boa disposição, de descontracção, de alegria a que a paisagem e o clima predispunham.
O argumento de John Michael Hayes e Alec Coppel (este não creditado) parte de um romance de David Dodge, que, de certa forma, consciente ou inconscientemente, parece prolongar as aventuras de Arsène Lupin, o sedutor ladrão de jóias que o popular escritor francês Maurice Leblanc imortalizou. Neste caso temos "Robie The Cat" (Cary Grant), outrora célebre ladrão de alta sociedade, agora confessadamente retirado das lides, mas que é obrigado a voltar a trepar aos telhados da Riviera Francesa, desta feita não para penetrar nos hotéis e nos palacetes mais cobiçados pelo seu recheio, mas para tentar surpreender alguém que lhe anda a usurpar os métodos, a indumentária, o objecto dos seus roubos. Claro que a polícia se coloca no seu encalço o que é mais uma razão para o elegante Robie trepar pelas paredes para não ir parar aos calabouços. Entre as muitas possíveis vítimas encontra-se Frances (Grace Kelly), a belíssima americana em viagem de turismo, acompanhada pela mãe, que sente uma profunda atracção por este gatuno de luvas brancas (por acaso são pretas) cuja vida aventurosa a seduz.
Mais uma vez temos alguns temas constantes da filmografia de Hitch, entre eles o falso culpado que tenta defender-se e a bela loura que protagoniza tantas das suas obras, desde Kim Novak, Tippi Hedren, Eva Marie Saint, Janet Leigh, Doris Day, até Ingrid Bergman ou a sua musa de eleição, Grace Kelly, que é não só a interprete de “To Catch a Thief”, como ainda de “Chamada para a Morte” e de “Janela Indiscreta”, que havia sido produzido um ano antes (1954) e que se transformara num dos maiores sucessos da carreira do cineasta, e que se prolonga até hoje. “Ladrão de Casaca” tenta reproduzir o êxito anterior, para tanto mantendo muitos dos colaboradores (desde o argumentista John Michael Hayes que assinara o guião de “Rear Window”, até Robert Burks, o director de fotografia, George Tomasini, o montador, J. McMillan Johnson e Hal Pereira, na direcção artística, Edith Head, no guarda-roupa…) e mantendo um par romântico em que a loura de aparência cândida, mas de comportamento frio e esquivo, era a mesma Grace Kelly, trocando apenas James Stewart por Cary Grant, que mantinham entre si, todavia, características muito semelhantes. O resultado foi igualmente um sucesso de público, mas a crítica torceu um pouco o nariz a este devaneio humorístico de Hitchcock, com muito de comédia sentimental e pouco de suspense de cortar à faca. Sublinhe-se ainda a qualidade dos diálogos, de um humor cheio de duplos sentidos, de uma ironia fina, por vezes deliciosamente “incorrectos” no que deixam subentender.


Mas o filme é mais um hino à beleza deslumbrante daquela que pouco depois seria princesa do Mónaco (e que iria morrer num acidente de viação numa das estradas que ela e Cary Grant percorrem em louca correria neste “Ladrão de Casaca”, precisamente numa das curvas onde o casal de actores pára o seu bólide, para um piquenique) e ao seu excelente partenaire, mas igualmente ao talento de Hitchcock. Por falar nisso, será curioso não esquecer o que o cineasta confessou a François Truffaut sobre os seus gostos pelas mulheres que surgem nos seus filmes: “uma mulher não deve parecer vulgar, nem fazer sobressair os seus encantos a toda a hora. Só as verdadeiras senhoras, que só são putas no quarto, me interessam”. Na verdade, se percorrermos a filmografia de Hitch esta realidade é uma constante: mulheres aparentemente frias, distantes, elegantes, de porte altivo e aristocrático, mas de forte intensidade erótica e sensual que se pressente para lá das aparências. O que mantém o tom da obra num clima de constante troca de sedução entre o retirado ladrão de jóias e a bela milionária que se lhe atravessa no caminho.
Também a paisagem da Côte d’Azur é magnificamente explorada, numa época em que fazia as delícias das plateias americanas e internacionais (veja-se a quantidade de filmes ali rodados por esses anos!) e o desenho das personagens é bem conseguido, furtando-se de alguma forma aos estereótipos, quando não brinca mesmo com eles. Hitch não deixa de ser um autor com rasgos de génio (o seu ódio aos ovos fica aqui bem demonstrado com duas cenas de antologia: a mãe de Frances ao apagar um cigarro na gema de uma ovo estrelado, ou o ovo que é atirado contra "Robie The Cat" e que se esborracha no vidro de uma parede). Também a sequência inicial é muito justamente citada, quando a câmara desce num lento travelling sobre um placard onde se lê “If you love life, you’ll love France”, a que se segue um grito de mulher que descobre o roubo das suas preciosas jóias.
Mas deve ainda referir-se de novo a fotografia de Robert Burks, que ganha o Oscar nesse ano, e que explora devidamente as potencialidades do VistaVision, um processo lançado pela Paramount para competir com o Cinemascope da Warner, que estreara não há muito “A Túnica” com enorme sucesso.

LADRÃO DE CASACA
Título original: To Catch a Thief
Realização: Alfred Hitchcock (EUA, 1955); Argumento: John Michael Hayes, Alec Coppel (não creditado), segundo romance de David Dodge; Produção: Alfred Hitchcock; Música: Lyn Murray; Fotografia (cor): Robert Burks; Montagem: George Tomasini; Direcção artística: J. McMillan Johnson, Hal Pereira; Decoração: Sam Comer, Arthur Krams; Guarda-roupa: Edith Head; Maquilhagem: Wally Westmore; Direcção de Produção: C.O. Erickson; Assistentes de realização: Herbert Coleman, Daniel McCauley; Departamento de arte: Dorothea Holt, Joe Keller, Robert McCrillis; Som: John Cope, Harold Lewis; Efeitos visuais: Farciot Edouart, John P. Fulton; Companhia de produção: Paramount Pictures; Intérpretes: Cary Grant (John Robie), Grace Kelly (Frances Stevens), Jessie Royce Landis (Jessie Stevens), John Williams (H.H. Hughson), Charles Vanel )Bertani), Brigitte Auber (Danielle Foussard), Jean Martinelli (Foussard), Georgette Anys (Germaine), George Adrian, John Alderson, Martha Bamattre, René Blancard, Eugene Borden, Nina Borget, Margaret Brewster, Lewis Charles, Frank Chelland,  Wilson Cornell, Reinie Costello, William 'Wee Willie' Davis, Dominique Davray, Louise De Carlo, Guy De Vestel, Gloria Dee, Kathleen Desmond, Lala Detolly, Dolores Ellsworth, George Ellsworth, Bess Flowers, Russell Gaige, Steven Geray, Art Gilmore, Michael Hadlow, Lars Hensen, Alfred Hitchcock (homem sentado no autocarro, ao lado de John Robie), Gladys Holland, Jean Hébey, Beverly Ruth Jordan, Lorraine Knight, Bela Kovacs, Jeanne Lafayette, Donald Lawton, Eddie Le Baron, Roland Lesaffre, Edward Manouk, Jonathan Marlowe, Jerri McKenna, Don Megowan. Louis Mercier, Alberto Morin, George Nardelli , Paul Newlan, Barry Norton, George Paris, Manuel París, Joan Patti, Leonard Penn, Albert Pollet, Loulette Sablon, Cosmo Sardo, Otto F. Schulze, Lal Singh, Adele St. Mauer, Marie Stoddard, Aimee Torriani, Philip Van Zandt, Geni Whitlow, Phyllis Young, etc. Duração: 106 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Lusomundo Audiovisuais / Paramount; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 12 de Janeiro de 1956.


GRACE KELLY (1929 – 1982)
As aparências iludem, sempre se ouviu dizer, e por vezes são as falsas aparências que motivam as grandes descobertas. Uma mulher pode ser uma pedra de gelo por fora e um vulcão por dentro, pode possuir o comportamento exterior e o estatuto de princesa, mas revelar só aos muito íntimos a fogosidade da sua paixão. Por isso se compreende que que Grace Kelly tenha sido a musa de Hitchcock, que gostava de mulheres assim. Mas não foi só com Hitch que Grace foi princesa antes de o ser. Toda a sua filmografia evoca essa silhueta de “cisne”, essa posse de “alta sociedade”, essa promessa de “para sempre”. Como dizem em linguagem popular, Grace era uma senhora que parecia não partir um prato e que, se calhar, teria partido todo o serviço. Cremos que essa ambiguidade que se adivinhava terá feito grande parte da sua sedução.
Grace Patricia Kelly nasceu a 12 de Novembro de 1929, em Filadélfia, Pensilvânia, EUA, e faleceu a 14 de Setembro de 1982, no Mónaco, vítima de um acidente de automóvel.
De ascendência irlandesa e alemã, era a segunda filha de Jack Kelly e Margaret Katherine Maier, o pai campeão olímpico de remo e a mãe treinadora desportiva. Grace Kelly desde muito nova demonstrou interesse pelo teatro, tendo actuado, ainda quando criança, em várias peças escolares. Estudou na Ravenhill Academy e na Stevens School, onde se licenciou, ambas em Germantown, Pensilvânia. Mudou então para Nova Iorque, para estudar teatro na Academia Americana de Artes Dramáticas. Tendo na família vários parentes que gostavam e praticavam artes cénicas, Grace foi por eles encorajada. Passou a viver no “Barbizon Hotel for Women”, um hotel de prestígio para mulheres endinheiradas, onde era impedida a entrada de homens depois das 22 horas, e começou a trabalhar como modelo para sustentar os seus estudos. A sua estreia nos palcos da Broadway foi em “The Father”, de August Strindberg. O produtor e realizador Delbert Mann, após ver Grace Kelly num dos vários episódios por si interpretados na TV, convida-a a integrar o elenco da produção televisiva “Bethel Merriday”, uma adaptação da obra de Sinclair Lewis, e depois para surgir no filme “Fourteen Hours”, de Henry Hathaway. Foi durante a rodagem desta obra que Gary Cooper a notou, afirmando que ela era "diferente de todas as actrizes” que ele via com frequência. Pouco depois, recebia um convite de Stanley Kramer, que lhe ofereceu o papel principal do filme “High Noon”, de Fred Zinnemann. O filme trouxe-lhe um contrato de oito anos com a MGM. Em 1953, foi convidada por John Ford para “Mogambo”, dado que Gene Tierney desistira do papel. Grace Kelly recebeu um Globo de Ouro na categoria Melhor Actriz Secundária, e uma nomeação ao Oscar na mesma categoria. Em 1954, Alfred Hitchcock chama-a para “Dial M for Murder”, a que se seguem “Rear Window” e “To Catch a Thief”. Grace ficou conhecida como a “Musa de Hitchcock”. Com “The Country Girl”, de George Seaton, ganha o Oscar, e até 1956, data em que abandona o cinema, ainda interpreta “Green Fire”, de Andrew Marton, “The Bridges at Toko-Ri”, de Mark Robson, “The Swan”, de Charles Vidor e “High Society”, de Charles Walters. Pouco depois casa com o Príncipe Rainier do Mónaco, tornando-se assim princesa, muito badalada em revistas de jet set. Teve três filhos, Carolina, Alberto II e Estefânia. Morreu em 1982, num acidente de automóvel, com 52 anos de idade. Está sepultada na Catedral de São Nicolau, na cidade do Mónaco.


Filmografia:

Como actriz: 1948-1954: Kraft Television Theatre (série de TV) – episódios “Old Lady Robbins”, “The Small House”, “The Cricket on the Hearth”, “Boy of Mine” e “The Thankful Heart”; 1950: Somerset Maugham TV Theatre (série de TV) – um episódio; The Clock (série de TV) – episódio “Vengeance”; Big Town (série de TV) – episódio “The Pay-Off”; Actor's Studio (série de TV) - episódios “The Swan”, “The Token”, “The Apple Tree”; Believe It or Not (série de TV) – episódio “The Voice of Obsession”; 1950-1952 Studio One (série de TV) – episódios “The Kill”, “The Rockingham Tea Set”; Lights Out (série de TV) – episódios – “The Borgia Lamp” (1952); “The Devil to Pay” (1950); Danger (série de TV) – episódios – “Prelude to Death2 (1952); “The Sergeant and the Doll” (1950); 1950-1953 The Philco Television Playhouse (série de TV) – episódios “The Way of the Eagle”, “Rich Boy”, “The Sisters”, “Leaf out of a Book”, “Ann Rutledge”, “Bethel Merriday”; 1951: Fourteen Hours (14 Horas), de Henry Hathaway; Nash Airflyte Theatre (série de TV) – episódio “A Kiss for Mr. Lincoln”; The Prudential Family Playhouse (série de TV) - episódio “Berkeley Square” (1951); 1951-1952 Armstrong Circle Theatre (série de TV) – episódios “Recapture”, “City Editor”, “Brand from the Burning”, “Lover's Leap”; 1952: High Noon (O Comboio Apitou Três Vezes), de Fred Zinnemann; Goodyear Television Playhouse (série de TV) – episódio “Leaf Out of a Book”; The Big Build Up (teledramático) – episódio “Don Quixote”; Suspense (série de TV) – episódio “Fifty Beautiful Girls”; Robert Montgomery Presents (série de TV) – episódio “Candles for Theresa”; 1952-1953: Lux Video Theatre (série de TV) – episódios “The Betrayer”, “A Message for Janice”, “Life, Liberty and Orrin Dudley”; 1953: Mogambo (Mogambo), de John Ford; 1954: Dial M for Murder (Chamada para a Morte), de Alfred Hitchcock; 1954: Rear Window (Janela Indiscreta), de Alfred Hitchcock; The Country Girl (Para Sempre), de George Seaton; Green Fire (Tentação Verde) de Andrew Marton; The Bridges at Toko-Ri (As Pontes de Toko-Ri), de Mark Robson; 1955: To Catch a Thief (Ladrão de Casaca), de Alfred Hitchcock; 1956: The Swan (O Cisne), de Charles Vidor; High Society (Alta Sociedade), de Charles Walters. 

SESSÃO 27:18 DE JULHO DE 2016


AS DIABÓLICAS (1955)


Pierre Boileau e Thomas Narcejac são dois dos mais famosos e talentosos autores franceses de policiais. O seu romance "Celle qui n'Était Plus" é uma das suas obras mais conhecidas e admiradas e até Alfred Hitchcock a quis adaptar ao cinema. Só o não fez porque entretanto os autores já tinham vendido os direitos a Henri-Georges Clouzot. Mas Hitchcock não partiu de mãos a abanar e Boileau e Narcejac escreveram para ele o argumento daquele que é hoje considerado (por alguns) o “melhor filme de sempre”, “A Mulher que Viveu Das Vezes” (Vertigo). Daí retiraram igualmente um romance, "D'Entre les Morts".
Pierre Louis Boileau (Paris, 28 de Abril de 1906 - Beaulieu-sur-Mer, 16 de Janeiro de 1989) e Pierre Ayraud, com pseudónimo de Thomas Narcejac (Rochefort-sur-Mer, 3 de Julho de 1908 - Nice, 7 de Junho de 1998), escreveram dezenas de obras policiais, muitas das quais se tornaram clássicos do género. Algumas foram adaptadas ao cinema e à televisão, sendo as mais conhecidas as já citadas, assinadas por Henri-Georges Clouzot e Alfred Hitchcock. Mas eles participaram na escrita de alguns argumentos, como “Les Yeux sans visage” (1960), ou “Pleins Feux sur l'Assassin” (1961), ambos de Georges Franju, e algumas outras obras suas tiveram versões cinematográficas interessantes (nenhuma, porém, com a qualidade de “As Diabólicas” ou de “A Mulher que Viveu Das Vezes”). No cinema podem citar-se, em 1960, “Faces in the Dark”, de David Eady, “Meurtre en 45 tours”, de Étienne Périer; em 1962, “Maléfices”, de Henri Decoin; em 1993, “Entangled”, de Max Fischer, em 1996, “Les Victimes”, de Patrick Grandperret, ou em 2012, “Comme un homme”, de Safy Nebbou. Mas em 1996, surgiu uma nova versão de "Celle qui n'Était Plus", americana, “Diabolique”, realizado por Jeremiah S. Chechik, com Sharon Stone, Isabelle Adjani e Chazz Palminteri.
Quanto a Henri-Georges Clouzot (Niort, 21 de Novembro de 1907 – Paris, 12 de Janeiro de 1977), foi um importante cineasta francês, realizador, argumentista e produtor, autor de obras como “Manon”, “O Corvo”, “O Crime da Avenida Foch”, “O Salário do Medo”, “As Diabólicas”, “O Mistério de Picasso”, “Os Espiões” ou “A Verdade”.


Em 1942, durante a ocupação alemã, o Ministério de Propaganda de Goebbels, criou a produtora Continental-Films, na qual Clouzot se estreou como realizador, com "L'Assassin habite... au 21" (1942), a que se seguiu "Le Corbeau" (1943), que provocou grande polémica, sendo acusado de colaboracionista. Depois da guerra, Clouzot foi marginalizado, mas, através da acção de alguns cineastas que lhe limparam a imagem, voltou à actividade, conseguindo depois o reconhecimento público e da crítica. É um dos três realizadores mundiais (os outros dois são Michelangelo Antonioni e Robert Altman) a ter recebido o Grande Prémio dos três maiores festivais europeus, Cannes, Berlim e Veneza. Foi considerado mestre do suspense, o Hitchcock europeu, e as suas obras ostentam uma complexidade de análise indiscutível, trabalhando o medo, a culpa, a perversidade humana em climas de evidente sordidez moral e em cenários de profunda opressão psicológica. Um apreciador de policiais negros (que leu compulsivamente, quando passou um período da vida na cama, com tuberculose), passou para os seus filmes esse universo de um pessimismo envolvente. Era casado com a actriz brasileira Vera Clouzot e morreu em Paris, em 1977, depois de vários ataques cardíacos que o derrotaram. Para lá de “As Diabólicas”, de que já falámos, outros realizadores pegaram em filmes seus e nos deram outras versões: “A 13ª Carta” (The 13th Letter", 1951), de Otto Preminger (segundo “Le Corbeau”) e “O Comboio do Medo” (Sorcerer, 1977), de William Friedkin (1977) (segundo “Le Salaire de la Peur”) são os mais conhecidos.
“As Diabólicas” passa-se numa pequena comunidade francesa, sendo quase todo rodado no interior e exterior de uma mansão onde funciona um colégio para rapazes. Christina Delassalle (Véra Clouzot) é a proprietária e directora do estabelecimento de ensino que funciona em regime de internato, mas é o marido, Michel Delassalle (Paul Meurisse) quem dirige realmente o empreendimento com mão de ferro, que se estende dos alunos aos professores e se prolonga até à sua amante, Nicole Horner (Simone Signoret), que é igualmente um dos docentes. O colégio vive sob o terror de Michel, que parece ter junto mulher e amante, numa ambígua e inquietante colaboração criminosa. Elas idealizam o crime perfeito para eliminar Michel e põem em andamento o projecto… Mais não se pode dizer num filme que vive particularmente do suspense que se estabelece e do inquérito empreendido por um comissário da polícia reformado, Alfred Fichet (Charles Vanel), persistente e arguto na sua investigação.


O clima do filme é realmente de um pessimismo deprimente, mostrando a degradação e a decadência moral de uma sociedade doente, onde o medo impera (Michel inspira-o no seu colégio, o filme lança-o sobre os espectadores) e o sentimento de culpa, sobretudo por parte de Christina Delassalle não deixa de pesar. Clouzot é definitivamente um moralista que julga as suas personagens e a sociedade e que lança curiosas pistas sobre a ambiguidade das relações entre as duas mulheres e a estranha amizade e cumplicidade que as une. Neste aspecto, as interpretações de Simone Signoret e Véra Clouzot são particularmente brilhantes, o que no caso da primeira foi sobejamente demonstrado ao longo de uma vasta carreira, mas que, quanto a Vera Clouzot, se restringiu a alguns filmes, todos dirigidos pelo marido. Mas “As Diabólicas” conta com um elenco perfeito, com um Paul Meurisse numa composição detestável, e meia dúzia de outros actores franceses em pequenos papéis que tornam especialmente densa a atmosfera claustrofóbica de toda a obra, onde a mesquinhez e o provincianismo mais rasteiro se impõem de forma sufocante.
A realização de Henri-Georges Clouzot, por seu turno, é de um brilhantismo notável, conseguindo criar uma atmosfera de inquietação permanente, que não fica a dever ao melhor Hitchcock. A cena da casa de banho é magnífica, numa toada macabra, onde o humor não deixa de estar presente, podendo mesmo falar-se de um antecedente de “Psico”. A relação que o filme mantém com uma piscina e com as peripécias que e desenrolam à sua volta e no seu interior é igualmente muito bem dada. Mas toda a obra é magistralmente conduzida. Um brilhante thriller.

AS DIABÓLICAS
Título original: Les Diaboliques
Realização: Henri-Georges Clouzot (França, 1955); Argumento: Henri-Georges Clouzot, Jérôme Géronimi, René Masson, Frédéric Grendel, segundo romance de Pierre Boileau e Thomas Narcejac ("Celle qui n'était plus"); Produção: Henri-Georges Clouzot, Georges Lourau; Música: Georges Van Parys; Fotografia (p/b): Armand Thirard; Montagem: Madeleine Gug; Direcção artística: Léon Barsacq; Guarda-roupa:  Carven; Maquilhagem: Anatole Paris, Jeanne Witta; Direcção de Produção: Louis de Masure, Georges Testard; Assistentes de realização: Michel Romanoff; Som: William Robert Sivel; Companhias de produção: Filmsonor, Vera Films; Intérpretes: Simone Signoret (Nicole Horner), Véra Clouzot (Christina Delassalle), Paul Meurisse (Michel Delassalle), Charles Vanel (Alfred Fichet, o comissário), Jean Brochard (Plantiveau, porteiro), Thérèse Dorny (Mme. Herboux), Michel Serrault (M. Raymond), Georges Chamarat (Dr. Loisy), Robert Dalban, Camille Guérini, Jacques Hilling, Jean Lefebvre, Aminda Montserrat, Jean Témerson, Jacques Varennes, Georges Poujouly, Yves-Marie Maurin, Noël Roquevert, Pierre Larquey, Jean-Pierre Bonnefous, Christian Brocard, Jean Clarieux, Henri Coutet, Michel Dumur, Johnny Hallyday (um aluno), Henri Humbert, Roberto Rodrigo, Madeleine Suffel, Jimmy Urbain, etc. Duração: 114 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Prisvideo; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 20 de Fevereiro de 1959.


SIMONE SIGNORET (1921-1985)
Foi sempre “Aquela Loura” do filme de Jacques Becker. A típica francesa da resistência, que cantava ou ouvia cantar “Le Temps des Cerises”. Henriette Charlotte Simone Kaminker, mais conhecida por Simone Signoret, nasceu alemã, a 25 de Março de 1921, em Wiesbaden, Hesse, Alemanha, e viria a falecer a 30 de Setembro de 1985, em Autheuil-Authouillet, França, vítima de cancro no pâncreas. Simone Signoret teve como pais um judeu polaco, André Kaminke, jornalista e tradutor, e Georgette Signoret. No início da II Guerra Mundial, Simone refugiou-se na Bretanha com a família, estudou no liceu de Vannes. Em Paris, em 1941, foi secretária de Jean Luchaire, jornalista e político colaboracionista durante a ocupação nazi de França. Foi através da filha de Jean, a actriz Corinne Luchaire, que Simone começou a trabalhar como figurante no cinema, tendo então adquirido o nome artístico de Simone Signoret. Em 1943, cruza-se com o realizador Yves Allégret e, três anos depois, têm uma filha. Casam em 1948. Allegret oferece-lhe a oportunidade de participar em obras importantes, como “Macadam”, com o qual obtém o prémio Suzanne-Bianchetti, que consagrava uma revelação. Em 1949, apaixonada por um jovem cantor, Yves Montand, deixa o marido. Casa com Montand em 1952. A carreira dispara com trabalhos inesquecíveis, em “Casque d'or”, de Jacques Becker, “Thérèse Raquin”, de Marcel Carné, ou “Les Diaboliques”, de Henri-Georges Clouzot. Em 1954, Signoret e Montand compram uma propriedade em Autheuil-Authouillet, na Normandia, local que se transforma em centro de convívio de artistas e intelectuais como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Serge Reggiani, Pierre Brasseur, Luis Buñuel, Jorge Semprún, entre outros. Tudo gente da esquerda francesa, muitos “companheiros de estrada” do Partido Comunista. Em 1957, Yves Montand e Simone Signoret viajam em tournée triunfal pelos países de Leste, mas regressam desiludidos, o que os leva a afastarem-se do PC, mantendo as suas convicções de esquerda. Com “A Room at the Top” (Um Lugar na Alta Roda), de Jack Clayton, Simone ganha o Oscar de Melhor Actriz, pela primeira vez atribuído a uma francesa não residente nos EUA. Simone Signoret e Yves Montand partem para os Estados Unidos em 1959, onde se tornam amigos de Arthur Miller, de quem tinham criado a versão francesa da peça “Sorcières de Salem”. Miller era casado com Marilyn Monroe, e esta impôs Montand seu partenaire em “Vamo-nos Amar”, filme de George Cukor. Assim foi. Amaram-se, num caso muito discutido na época. Montand voltaria para Simone Signoret, e o casal manteve-se até a morte da actriz (1985). Entretanto, a filmografia de Signoret ganha nova revitalização nos anos 70, com filmes como “L'Armée des ombres”, de Jean-Pierre Melville, “Le Chat”, “La Veuve Couderc”, ambos de Pierre Granier-Deferre, “Les Granges brûlées”, de Jean Chapot,  “La Chair de l'orchidée” e “Judith Therpauve”, os dois de Patrice Chéreau, ou “Police Python 357”, de Alain Corneau. Em 1978, ganha o Cesar de Melhor Actriz em “La Vie devant soi”. Entretanto, a bebida e o cigarro não ajudam, e a saúde de Simone Signoret deteriora-se. Depois de uma operação à vesicula, com problemas de visão, morre de cancro no pâncreas no dia 30 de Setembro de 1985, com 64 anos. É enterrada no cemitério de Père-Lachaise, para onde foi igualmente Montand, quando morreu, em Novembro de 1991.
Para além de actriz, notabilizou-se como escritora, com uma autobiografia, “La nostalgie n'est plus ce qu'elle était”, de 1975, e dois romances, “Le lendemain, elle était souriante...” e “Adieu Volodia”. No teatro, ficaram na memória as interpretações em “Dieu est innocent”, de Lucien Fabre, “Les Sorcières de Salem”, de Arthur Miller, “Les Petits Renards”, de Lillian Hellman, e “Macbeth”, de Shakespeare.
Ganhou três BAFTAS, como Melhor Actriz Estrangeira, por “Casque d'or” (1953), “Les Sorcières de Salem” (1958) e “A Room at the Top” (1959). Com este último filme ganhou ainda o National Board of Review, o Festival de Cannes, e o Oscars 1960. Foi ainda nomeada por diversas vezes para Oscars, Globos de Ouro BAFTAS, Césars, etc. A cantora Nina Simone escolheu o seu pseudónimo em homenagem a Simone Signoret depois de a ver em “Casque d'or”.

Filmografia
Como actriz: 1942: Le Prince charmant, de Jean Boyer; Boléro, de Jean Boyer; L'Ange de la nuit, de André Berthomieu; Les Visiteurs du soir (Os Trovadores Malditos), de Marcel Carné; Le Voyageur de la Toussaint, de Louis Daquin; Le Bienfaiteur (O Benfeitor), de Henri Decoin; 1943: Adieu Léonard, de Pierre Prévert; Béatrice devant le désir, de Jean de Marguenat; Le mort ne reçoit plus de Jean Tarride; 1944: L'ange de la nuit, de André Berthomieu; Service de nuit ,de Jean Faurez; Le mort ne reçoit plus, de Jean Tarride; 1945: Le Couple ideal, de Bernard Roland; La Boîte aux rêves, de Yves Allégret e Jean Choux; Les Démons de l'aube, de Yves Allégret; 1946: Macadam de Marcel Blistène e Jacques Feyder; Face à la vie, de René Chanas (curta-metragem); 1946: Ulysse ou les Mauvaises Rencontres, de Alexandre Astruc (curta-metragem); 1947: Fantômas, de Jean Sacha; Against the Wind, de Charles Crichton; Dédée de Anvers (Vidas Tenebrosas), de Yves Allégret; 1948: Impasse des Deux-Anges, de Maurice Tourneur; 1950: Manèges, de Yves Allégret; La Ronde (A Ronda), de Max Ophüls; Swiss Tour, de Leopold Lindtberg;  Gunman in the Streets, de Boris Lewin e Franck Tuttle; Le traqué, de Borys Lewin; 1951: Ombre et Lumière (A Luz e a Sombra), de Henri Calef; 1951: Casque de or (Aquela Loira), de Jacques Becker; 1951: Sans laisser de adresse (Um Táxi, Uma Mulher e Um Destino), de Jean-Paul Le Chanois; Jouons le jeu, episódio La Jalousie, de André Gillois (curta-metragem); Saint-Germain-des-Prés, de Marcello Pagliero (curta-metragem); 1953: Thérèse Raquin (Teresa Raquin), de Marcel Carné; Confidences en zig-zag sur l'amour, de André Gillois (curta-metragem); 1954: Les Diaboliques (As Diabólicas), de Henri-Georges Clouzot; 1955: Mutter Courage und ihre Kinder, de Wolfgang Staudte (inacabado); 1956: La Mort en ce jardin (Labirinto Infernal), de Luis Buñuel; Un matin comme les autres / La Rose des vents, de Yannick Bellon (curta-metragem); 1957: Les Sorcières de Salem (As Feiticeiras de Salem), de Raymond Rouleau; 1959: A Room at the Top (Um Lugar na Alta Roda), de Jack Clayton; 1960: Adua e le compagne, de Antonio Pietrangeli; General Electric Theater (TV) - Don't You Remember?; 1961: Les Mauvais Coups (A Roda da Sorte), de François Leterrier; Les Amours célèbres (Amores Célebres), episódio Jenny Lacour, de Michel Boisrond; Barabbas (Barrabás), de Richard Fleischer (não creditada); 1962: Term of Trial (Final de Julgamento), de Peter Glenville; Le Jour et l'Heure (O Dia e a Hora), de René Clément; 1963: Dragées au poivre, de Jacques Baratier; Le Joli Mai, de Chris Marker (documentário); Il giorno più corto, de Sergio Corbucci (não confirmada a participação); 1964: Aux grands magasins, de William Klein(documentário); 1965: Compartiment tueurs (6 ª. Testemunha), de Costa-Gavras; Ship of Fools (A Nave dos Loucos), de Stanley Kramer; The Love Godlesses, de Saul J. Turell (documentário); 1966: Paris brûle-t-il ? (Paris Já Está a Arder?), de René Clément; The Deadly Affair (Duas Plateias para a Morte),de Sidney Lumet; Bob Hope Presents the Chrysler Theatre (TV) - A Small Rebellion, de Stuart Rosenberg;  1967: Games (Jogos Perigosos), de Curtis Harrington; 1968: Mister Freedom, de William Klein; Jour de tournage, de Chris Marker (curta-metragem); The Sea Gull (A Gaivota), de Sidney Lumet; 1969: L'Américain (O Americano), de Marcel Bozzuffi; L'Armée des ombres (O Exército das Sombras), de Jean-Pierre Melville; 1970: L'Aveu (A Confissão), de Costa-Gavras; Le Deuxième Procès de Arthur London, de Chris Marker (documentário); Un Otage (TV); 1971: Comptes à rebours (O Doce Sabor da Vingança), de Roger Pigaut; Henri Langlois, de Roberto Guerra e Ella Hershon (documentário); Le Chat (O Gato), de Pierre Granier-Deferre; La Veuve Couderc (A Viúva Couderc), de Pierre Granier-Deferre; 1973: Les Granges brûlées (Almas a Nu), de Jean Chapot; Rude journée pour la reine (Um Dia Difícil), de René Allio; 1975: La Chair de l'orchidée (A Rapariga da Orquídea), de Patrice Chéreau; 1976: Police Python 357 (A Arma da Justiça), de Alain Corneau; 1978: La Vie devant soi (A Vida à Sua Frente), de Moshé Mizrahi; Madame le Juge (TV); 1977: Le fond de l'air est rouge, de Chris Marker (documentário); 1978: L'Adolescente, de Jeanne Moreau; Judith Therpauve, de Patrice Chéreau; Madame le juge (TV); 1979: Chère inconnue, de Moshé Mizrahi; 1982: L'Étoile du Nord, de Pierre Granier-Deferre; Guy de Maupassant, de Michel Drach; 1983: Thérèse Humbert (TV); Des terroristes à la retraite, de Mosco Boucault (documentário, só locução); 1986: Music Hall (TV).



VÉRA CLOUZOT (1913-1960)
Vera Clouzot é brasileira de nascimento. Nasceu a 30 de Dezembro de 1913, no Rio de Janeiro, e viria a falecer a 15 Dezembro de 1960, em Paris, França, vítima de um ataque cardíaco. O nome de baptismo era Véra Gibson-Amado e era filha de um escritor, politico e diplomata, Gilberto Amado (1887-1969), que, em 1915, durante uma altercação com o poeta Aníbal Teóphilo, numa cerimónia oficial, a decorrer nas instalações do “Jornal do Comércio”, puxou de um arma e matou o adversário. Amado foi absolvido e prosseguiu uma carreira significativa como político e depois embaixador. Quanto a Vera, casou com o realizador francês Henri-Georges Clouzot, e construiu uma reduzida carreira como actriz de cinema, com apenas três títulos, todos sob direcção do marido. Curiosamente, dois desses filmes figuram entre os 250 mais cotados pelos leitores do IMDB.  

Filmografia

Como actriz: 1953: Le Salaire de la Peur (O Salário do Medo); 1955: Les Diaboliques (As Diabólicas); 1957: Les espions (Os Espiões), todos de Henri-Georges Clouzot. Colaborou ainda no argumento de La Vérité (A Verdade, 1960), igualmente de Clouzot.