QUANDO O CORAÇÃO
CANTA (1952)
“With a Song in My Heart” é a história de parte da
vida de Ellen Jane Froman, uma célebre cantora e actriz norte-americana que
encantou o seu público entre meados da década de 30 e fins da de 50 do século
XX. Nascida em 1907, em University City, no Missouri, viria a falecer em 1980,
com a idade de 72 anos e uma vida rica em peripécias. Depois de passar por
Columbia, onde estudou no Columbia College (Missouri), a mãe e ela
instalaram-se em Cincinnati, onde frequentou o Cincinnati Conservatory of
Music. Começou a interpretar canções de
George e Ira Gershwin, Cole Porter, e Irving Berlin, conhecendo então o cantor
Don Ross que a lançou, transformando-se no seu manager oficial. Foi ele que a
convenceu a viajar até Chicago, onde trabalhou na NBC radio. Em 1933, já em
Nova Iorque, ingressou no programa de rádio Chesterfield's "Music that
Satisfies", ao lado de Bing Crosby. Casada com Don Ross, juntou-se às
Ziegfeld Follies, onde foi amiga de Fannie Brice. Em 1934, com 27 anos, era a
coqueluche das "girl singers", de tal forma que quando perguntaram a
Billy Rose, um importante produtor quais as 10 melhores cantoras, ele respondeu
"Jane Froman e mais nove". Foi popularíssima na rádio, no teatro, no
cinema e também na televisão.
No cinema surgiu apenas em três filmes, “Kissing
Time” (1933), “Stars Over Broadway” (1935) e “Radio City Revels” (1938). Entre
1952 e 1955, teve o seu próprio show de TV, “The Jane Froman Show”, no canal
CBS. Mas Jane Froman tornou-se ainda mais popular em virtude de um acidente de
aviação que sofreu, em 1943, ao chegar a Lisboa. A aeronave onde viajava, um
Boeing 314 de nome Yankee Clipper, com cerca de 40 pessoas a bordo, caiu no rio Tejo, provocando mortes e
feridos. Jane Froman ficou muito ferida, com várias fracturas, recuperou,
juntamente com o co-piloto, John Curtis Burn, com quem haveria de casar em
1948, depois do seu divórcio de Don Ross. Froman sofreu 39 operações, mas,
mesmo assim, regressou à Europa para cantar, ao longo de 95 shows, para as
tropas norte-americanas, durante a II Guerra Mundial. Em 1952, Walter Lang,
sobre argumento de Lamar Trotti, realiza “With a Song in My Heart”, baseado na
sua vida, sobretudo na sua carreira pós acidente. A própria cantora serviu de
conselheira durante a produção, tendo papel relevante em vários aspectos. Foi
ela que escolheu Susan Hayward para a encarnar no cinema, e foi ela que deu a
sua voz nos números cantados. Um papel que valeu a Susan Hayward mais uma
nomeação para o Oscar de Melhor Actriz (teve quatro nomeações e um Oscar por
“Quero Viver!”).
O filme é um musical biográfico, como alguns mais
que se realizaram na época (relembra, em muitos aspectos, “White Christmas”, de
Michael Curtiz, rodado em 1954, sobretudo na sequência final), sendo uma obra
abertamente patriótica, sublinhando o esforço americano durante a II Guerra
Mundial, e tentando galvanizar o espectador com um magnífico conjunto de
canções de alguns dos maiores compositores e letristas desta época. A
realização é apenas eficaz, sóbria, servindo os propósitos, sem procurar
desnecessariamente chamar a atenção. Na sua simplicidade de meios, merecem destaque
os números musicais, a qualidade do guarda-roupa, a boa fotografia num colorido
bem trabalhado. Nos Oscars do ano mereceu cinco nomeações, Melhor Actriz,
Melhor Actriz Secundária (a excelente Thelma Ritter), Melhor Guarda-roupa a
cores (Charles Le Maire), Melhor Som (Thomas T. Moulton) e ainda Melhor
Partitura Musical (Alfred Newman, que merecidamente recebeu o Oscar). Nos
Globos de Ouro, venceria na categoria de Melhor Filme (Musical ou Comédia) e
Melhor Actriz (Musical ou Comédia). Susan Hayward foi igualmente muito
justamente consagrada neste seu trabalho, onde se misturam emoções díspares,
sempre com rigor e uma cativante simpatia.
Já o mesmo não se poderá dizer das sequências onde
surge Lisboa. Nenhuma delas é filmada no nosso país, mas sim em estúdios
americanos (20th Century Fox), e os actores que passam por portugueses falam
numa algaraviada, que mistura espanhol e brasileiro, que assusta. Algo que era
muito comum nesta época em filmes norte-americanos – uma total falta de rigor
na pesquisa e nas soluções encontradas.
Por curiosidade, aqui se referem os temas musicais
incluídos em “Quando o Coração Canta”, alguns dos quais, os derradeiros,
aparecem no medley com que termina a pelicula:
WITH A SONG IN MY
HEART, de Richard Rodgers e Lorenz Hart (1929); HOE THAT CORN, de Max Showalter
e Jack Woodford; THAT OLD FEELING, de Sammy Fain e Lew Brown; JIM'S TOASTY
PEANUTS, de Ken Darby; I'M THRU WITH LOVE, de Fud Livingston, Matty Malneck e
Gus Kahn (1931); GET HAPPY, de Harold Arlen e Ted Koehler (1930); BLUE MOON, de
Richard Rodgers e Lorenz Hart (1930); ON THE GAY WHITE WAY, de Ralph Rainger e
Leo Robin (1942); THE RIGHT KIND, de Alfred Newman, Don George e Charles
Henderson (1948); HOME ON THE RANGE, possivelmente de Daniel E. Kelley (1904) e
Brewster M. Higley (1873); MONTPARNASSE, de Alfred Newman e Eliot Daniel;
EMBRACEABLE YOU, de George Gershwin e Ira Gershwin (1930); TEA FOR TWO, de
Vincent Youmans e Irving Caesar (1925); IT'S A GOOD DAY, de Peggy Lee e Dave
Barbour (1947); THEY'RE EITHER TOO YOUNG OR TOO OLD, de Arthur Schwartz e Frank
Loesser (1943); I'LL WALK ALONE, de Jule Styne e Sammy Cahn (1944); AMERICA THE
BEAUTIFUL, de Samuel A. Ward e Katharine Lee Bates; WONDERFUL HOME SWEET HOME,
de Ken Darby; GIVE MY REGARDS TO BROADWAY, de George M. Cohan (1904); CHICAGO,
de Fred Fisher (1922); CALIFORNIA, HERE I COME, de Joseph Meyer, Al Jolson e
Buddy G. DeSylva (1924); CARRY ME BACK TO OLD VIRGINNY, de James Allen Bland
(1878); STEIN SONG, de E.A. Fenstad (1901) e Lincoln Colcord (1910); INDIANA, de
James F. Hanley e Ballard MacDonald (1917); ALABAMY BOUND, de Ray Henderson,
Bud Green e Buddy G. DeSylva (1925); DEEP IN THE HEART OF TEXAS, de Don Swander
e June Hershey (1941); DIXIE, de Daniel Decatur Emmett (1859).
QUANDO O CORAÇÃO CANTA
Título original: With a Song in My Heart
Realização: Walter Lang (EUA, 1952);
Argumento: Lamar Trotti; Produção: Lamar Trotti, Darryl F. Zanuck; Música
original: Alfred Newman; Fotografia (cor):
Leon Shamroy; Montagem: J. Watson Webb Jr.; Direcção artística: Lyle R.
Wheeler, Joseph C. Wright; Decoração: Thomas Little, Walter M. Scott;
Guarda-roupa: Charles Le Maire, Sam
Benson; Maquilhagem: Ben Nye; Assistentes de realização: Hal Klein; Som: Roger
Heman Sr., Arthur von Kirbach; Efeitos especiais: Fred Sersen; Efeitos visuais:
Ray Kellogg; Companhia de produção: Twentieth Century Fox Film Corporation; Intérpretes: Susan Hayward (Jane
Froman), Rory Calhoun (John Burn), David Wayne (Don Ross), Thelma Ritter
(Clancy), Robert Wagner (Soldado), Helen Westcott (Jennifer March),Una Merkel (Irmã Marie), Richard Allan
(bailarino / tenor), Max Showalter (Harry Guild), Bill Baldwin, Ralph Brooks,
Charles Calvert, James Conaty, Robert Easton, Leif Erickson, Douglas Evans,
Eddie Firestone, The Four Girl Friends, Ed Haskett, Art Howard, Stanley Logan,
Adele Longmire, The Modernaires, Carlos Molina, Rosa Maria Monteiro, Ernest
Newton, Mary Newton, George Offerman Jr., Mario Pacheco Jr., Nestor Paiva,
Fabio Ramos, Jack Richardson, Dick Ryan, Carol Savage, George Sawaya, Hal
Schaefer, The Skylarks, Bill Slack, Bud Stark, The Starlighters, Bert Stevens,
Frank Sully, Lyle Talbot, Albano Valerio, Emmett Vogan, Maude Wallace, Dick
Winslow, etc. Duração: 117 minutos; Distribuição em Portugal: Atalanta
Filmes; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 12 de
Janeiro de 1953.
SUSAN
HAYWARD (1917 – 1975)
Edythe Marrenner, mais tarde conhecida
por Susan Hayward, nasceu a 30 de Junho de 1917, em Brooklyn, Nova Iorque, EUA,
e viria a falecer a 14 de Março de 1975, em Hollywood, Los Angeles, Califórnia,
EUA, vítima de cancro no cérebro. Pensa-se que terá sido por ter estado exposta
a material radioactivo, durante as filmagens de “O Conquistador” (1956), em
Utah. Outros actores deste filme, John Wayne, Agnes Moorehead, John Hoyt, Pedro
Armendáriz, e o realizador Dick Powell faleceram vítimas de cancro. O caso
permanece um escândalo.
De origens modestas, filha de operário,
teve uma infância normal, estudou numa escola pública em Brooklyn, e pensava
seguir uma carreira de secretariado, quando começou a fazer fotografia de moda,
sendo então notada numa capa de revista pelo realizador George Cukor, que
procurava uma cara nova para interpretar Scarlett O'Hara, em “E Tudo o Vento
Levou” (1939), adaptação do romance de Margaret Mitchell, então em pré produção
na MGM. Vivien Leigh seria a escolhida, mas Susan Hayward ficaria ligada à MGM
e, em 1937, estrear-se-ia em “Hollywood Hotel”. Sucederam-se os pequenos papéis
até que, em 1939, é particularmente notada em “Beau Geste”. A beleza natural, a
determinação e a força interior, a destreza para a dança e a boa voz para a
canção, aliadas a uma natural propensão para a aventura e o drama fizeram dela
uma actriz que foi acumulando sucessos: “Ódio que Vive” (1941), “O Vento
Selvagem” (1942), “Clarão no Horizonte” (1942), “A Vida de Jack London” (1943),
“O Amanhã é Nosso” (1944), “Um de Nós é Criminoso” (1946), “História de Uma
Mulher” (1947, primeira nomeação para o Oscar), “Meu Louco Coração” (1949,
segunda nomeação para o Oscar), “Quando o Coração Canta” (1952, terceira
nomeação para o Oscar), “A Dama Marcada” (1953), “Uma Mulher no Inferno” (1955,
quarta nomeação para o Oscar) e, finalmente, “Quero Viver!” (1958, quinta
nomeação para o Oscar de Melhor Actriz, que venceu). Em três das suas nomeações
interpretou personagens alcoolizadas. E a sua carreira continuou com
regularidade até ser interrompida pela doença e a morte em 1975. Casada com Jess Barker (1944 - 1954) e Floyd Eaton
Chalkley (1957-1966). Sepultada na “Our Lady of Perpetual Help Catholic
Church”, em Carrollton, Georgia, EUA.
ilmografia
Como actriz: 1938: Hollywood Hotel (Hollywood Hotel), de Busby Berkeley (não
creditada); The Amazing Dr. Clitterhouse (O Génio do Crime), de Anatole Litvak;
Campus Cinderella, de Noel M. Smith (curta-metragem); The Sisters (As Irmãs),
de Anatole Litvak; Girls on Probation, de William C. McGann; Comet Over
Broadway (Promessa Cumprida), de Busby Berkeley; 1939: Beau Geste (Beau Geste),
de William A. Wellman; Our Leading Citizen, de Alfred Santell; $1000 a
Touchdown, de James Patrick Hogan; 1941: Adam Had Four Sons (Os Quatro Filhos
de Adão), de Gregory Ratoff; Sis Hopkins (Serenata da Broadway), de Joseph
Santley; Among the Living (Ódio que Vive), de Stuart Heisler; 1942: Reap the
Wild Wind (O Vento Selvagem), de Cecil B. DeMille; The Forest Rangers (Clarão
no Horizonte), de George Marshall; I Married a Witch (Casei com Uma
Feiticeira), de René Clair; 1942: Star Spangled Rhythm (Cocktail de Estrelas),
de George Marshall; Paramount Victory Short No. T2-1: A Letter from Bataan
(curta-metragem); 1943: Young and Willing, de Edward H. Griffith; Hit Parade of
1943 (Melodias Fantásticas), de Albert S. Rogell; Jack London (A Vida de Jack
London), de Alfred Santell; 1944: The Fighting Seabees (O Batalhão Suicida), de
Howard Lydeeker e Edward Ludwig; Skirmish on the Home Front (curta-metragem);
The Hairy Ape (Macaco Peludo), de Alfred Santell; And Now Tomorrow (O Amanhã é
Nosso), de Irving Pichel; 1946: Deadline at Dawn (Um de Nós é Criminoso), de
Harold Clurman; Canyon Passage (Amor Selvagem), de Jacques Tourneur;
1947: Smash-Up, the Story of a Woman (História de Uma Mulher), de Stuart
Heisler; They Won't Believe Me (Não Me Condenem), de Irving Pichel; The Lost
Moment (Recordações), de Martin Gabel; 1948: Taps Roots (Raízes Fortes), de
George Marshall; The Saxon Charm (O Vencido), de Claude Binyon; 1949: Tulsa
(Tulsa - Ouro Negro), de Stuart Heisler; House of the Stangers (Sangue do Meu
Sangue), de Joseph L. Mankiewicz; My Foolish Heart (Meu Louco Coração), de Mark
Robson; 1951: I'd Climb the Highest Mountain (A História de Uma Alma), de Henry
King; Rawhide (O Correio do Inferno), de Henry Hathaway; I Can Get It for You
Wholesale (Ambição de Mulher), de Michael Gordon; David and Bathsheba (David e
Betsabé), de Henry King; With a Song in My Heart (Quando o Coração Canta), de
Walter Lang; The Snows of Kilimanjaro (As Neves do Kilimanjaro), de Henry King;
The Lusty Men (Idílio Selvagem), de Nicholas Ray; 1953: The president's Lady (A
Dama Marcada), de Henry Levin; White witch doctor (A Feiticeira Branca), de
Henry Hathaway; 1954: Demitrius and the gladiateur (Demétrio, o Gladiador), de
Delmer Daves; Garden of devil (O Jardim do Diabo), de Henry Hathaway; 1955:
Untamed (Enquanto Dura a Tormenta), de Henry King; Soldier of fortune (O
Aventureiro de Hong Kong), de Edward Dmytryk; I'll Cry Tomorrow (Uma Mulher no
Inferno), de Daniel Mann; 1956: The Conqueror (O Conquistador), de Dick Powell;
1957: Top Secret Affair (Escândalo na Primeira Página), de Henry C. Potter;
1958: I Want to Live ! (Quero Viver!), de Robert Wise; 1959: Thunder in the Sun
(Tormenta ao Sol), de Russell Rouse; Woman Obsessed (Meu Coração Tem Dois
Amores), de Henry Hathaway; 1961: The Marriage-Go-Round (O Marido, a Mulher e o
Problema), de Walter Lang; Ada (Ada), de Daniel Mann; Back street (A História
de um Grande Amor), de David Miller; 1962: I Thank a Fool (O Grito da Alma), de
Robert Stevens; 1963: Stolen Hours (Horas Roubadas), de Daniel Petrie; 1964:
Where love as gone (Para onde Foi o Amor), de Edward Dmytryk; 1967: The Honey
Pot (O Preço do Dinheiro), de Joseph L. Mankiewicz; Valley of the Dolls (O Vale
das Bonecas), de Mark Robson; 1967: Think Twentieth (curta-metragem); 1972: Say
Goodbye, Maggie Cole, de Jud Taylor (telefilme); The Revengers (Os
Justiceiros), de Daniel Mann; Heat of Anger, de Don Taylor (telefilme); 1981:
Sixty Years of Seduction (documentário TV); 2001: Cleopatra: The Film That
Changed Hollywood (documentário TV).
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