sábado, 11 de junho de 2016

SESSÃO 26: 11 DE JULHO DE 2016


A ÚLTIMA VEZ QUE VI PARIS (1954)

Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e o próprio realizador Richard Brooks escreveram o argumento, segundo um conto de F. Scott Fitzgerald, inicialmente publicado no “The Saturday Evening Post” (1931), e posteriormente integrado na antologia "Babylon Revisited". O conto é bastante mais curto e seco que o filme, que o inunda com prolongamentos por vezes um pouco melodramáticos em demasia, mas diga-se em abono da verdade que o resultado final é bastante interessante e, sobretudo, não anda muito longe do universo do autor de “O Grande Gatsby”, povoado por “Belos e Malditos” a evoluir na “Era do Jazz”, quer habitem a América do pós I Guerra Mundial, os “loucos anos 20”, ou sobrevivam durante a Grande Depressão, em Paris, por exemplo, onde decorre a acção do conto (e obviamente do filme dele retirado). Houve quem chamasse a esta a “Geração Perdida” (Lost Generation). A designação é atribuída a Gertrude Stein, mas quem a vulgarizou foi Ernest Hemingway nalgumas obras suas. O termo caracteriza uma geração de intelectuais, escritores, artistas, músicos, que viveram em Paris, mas também noutros locais da Europa, durante o lapso de tempo que mediou entre o fim da I Guerra Mundial e a eclosão da Grande Depressão (1918-1929). Muitos são os nomes que se lhe encontram associados - este foi um período fértil em criação literária e artística de vanguarda -, mas os que mais são citados, entre os norte-americanos, são Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Ezra Pound, Sherwood Anderson, Waldo Peirce, John Dos Passos e T. S. Eliot. Irlandês, James Joyce fez igualmente parte deste grupo, sendo o romance “Ulisses” considerado uma das peças fundamentais deste período. Deve, no entanto, dizer-se que os escritores que melhor encarnaram esse tempo, terão sido Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald. Eles foram a essência dessa era onde o jazz floresceu e marcou o ritmo.
"Babylon Revisited", o conto, fala-nos do regresso a Paris do americano Charles Wills, alguns anos depois de ter abandonado a capital francesa, onde passara uma longa temporada. Como o título denuncia, ele vem “revisitar Babilónia”. Charles volta a Paris para rever a filha, Vicki, que ali deixara em casa de uma cunhada, com a ideia de a levar consigo. Mas Marion Ellswirth, irmã da sua falecida mulher, Helen Ellswirth, não parece muito virada para satisfazer esse desejo, dada a vida anterior de Charles, um daqueles jovens entregues aos prazeres da vida, às festas sucessivas, à vida nocturna, à boémia, às drogas e ao alcoolismo. Uma vida que terá levado, de alguma forma, à morte de Helen e à atitude hostil de Marion. O conto não vai muito mais além e terá sido necessária alguma imaginação para os argumentistas do filme recriarem um longo flashbach (que ocupa quase todo filme) onde se recuperam os tempos passados em Paris por Charles e Helen, numa altura em que a cidade era essa Babilónia, onde Charles (e os amigos) eram “uma espécie de realeza quase infalível, rodeados por uma espécie de magia”. Eram tempos de ociosidade, de viver a vida perigosamente, alegremente, ou como se diz no conto, de perceber “como o vício e a dissipação se desenvolviam numa escala quase absolutamente infantil (…), reconhecendo rapidamente o significado da palavra "dissipar": dissipar-se no ar ténue, converter alguma coisa em nada”. Charles recorda ainda, no conto, como “se entregavam notas de mil francos a uma orquestra para tocar um tema, ou notas de cem francos oferecidas a um porteiro para chamar um táxi”.


O filme distende o conto, cria uma intriga anterior a este regresso de Charles Wills (Van Johnson) a Paris, desenvolve a história de amor e os conflitos com a mulher, Helen Ellswirth (Elizabeth Taylor), a má relação com a cunhada Marion Ellswirth (Donna Reed) é explicada por uma prévia paixão desta por Charles, não correspondida, estabelece uma curiosa paternidade para as irmãs, com a aparição de James Ellswirth (Walter Pidgeon), uma das figuras mais boémias, que estende a ociosidade ao jogo e à bebida, e demonstra uma “compreensão” total quanto ao estilo de vida de Helen. No filme, estas personagens mostram possuir uma lucidez invulgar, mas de acordo com as suas pretensões intelectuais. Eles sabem-se “perdidos”, náufragos de um tempo que consomem sem o perceberem, mas têm plena consciência da sua incapacidade de mudança. A certa altura, Helen afirma que talvez “seja tempo de crescer”, ao que Charles responde que “é muito tarde para crescer!” Os romances que tenta escrever continuam a ser recusados pelas editoras, no que o conto se revela muito próximo de alguns aspectos autobiográficos do próprio F. Scott Fitzgerald. Na verdade, os biógrafos do escritor associam este conto do também autor de “Este Lado do Paraíso” às reacções que manteve com a cunhada Rosalind e o marido Newman Smith, com algumas anotações relativas à sua filha "Scottie". Helen, no conto, poderá ter alguma equivalência à mulher do próprio Fitzgerald, Zelda. Rosalind nunca terá perdoado ao escritor a vida de dissolução e de irresponsabilidade frívola que, segundo ela, terá conduzido Zelda aos problemas mentais que a colocaram num hospício na Suíça. De resto, Rosalind e Newman acabaram mesmo por tomar conta de “Scottie”, julgando o pai irresponsável para a educar.
Passado entre Paris e Cannes, Mónaco e a Cote d’Azur, “A Última Vez que Vi Paris” peca um pouco por um certo melodramatismo a roçar o piegas, sobretudo para o final, mas vale como retrato de uma época e pela realização eficaz e segura de Richard Brooks (um cineasta com grande queda para adaptar grandes clássicos da literatura mundial – são dele “Os Irmãos Karamazov”, partindo de Dostoiévski, “Gata em Telhado de Zinco Quente” e “Corações na Penumbra”, ambos segundo Tennessee Williams, ou, entre outros, “Lord Jim”, adaptação de Joseph Conrad). Não deverá esquecer-se a canção que funciona como tema desta obra e que muito contribuiu igualmente para o seu sucesso internacional. Curiosamente, não é uma criação original para este filme, surgiu em 1941, no filme “Lady Be Good”, com Ann Sothern, e foi inspirada composição assinada por uma dupla que fez furor na música (e nos musicais) norte-americana, Jerome Kern e Oscar Hammerstein II. Em 1942, ganhou o Oscar para Melhor Canção e no filme de 1954 o tema foi cantado por Odette Myrtil. 
Ao nível da representação, Elizabeth Taylor e Van Johnson fazem a sua última aparição conjunta num título da MGM, mas deve dizer-se, apesar do enorme êxito que o filme conheceu junto das plateias mundiais, dando muito a ganhar à produtora (a MGM fala em quase um milhão de dólares de lucro), que não é dos melhores trabalhos de nenhum deles. Elizabeth Taylor passa por um dos seus mais deslumbrantes momentos, quanto a beleza e elegância, mas em muitos outros filmes ela terá feito explodir de forma mais convincente o seu talento. Walter Pidgeon terá a composição mais divertida, enquanto Donna Reed, Eva Gabor, Kurt Kasznar, George Dolenz ou Sandy Descher cumprem. Curiosa a estreia de Roger Moore em Hollywood, como galã sedutor irresistível. 

A ÚLTIMA VEZ QUE VI PARIS
Título original: The Last Time I Saw Paris
Realização: Richard Brooks (EUA, 1954); Argumento: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein, Richard Brooks, segundo conto de F. Scott Fitzgerald ("Babylon Revisited"); Produção: Jack Cummings; Música: Conrad Salinger; Fotografia (cor): Joseph Ruttenberg;  Montagem: John D. Dunning; Direcção artística: Randall Duell, Cedric Gibbons; Decoração: Jack D. Moore, Edwin B. Willis; Guarda-roupa: Helen Rose; Maquilhagem: Sydney Guilaroff, William Tuttle; Direcção de Produção: William Kaplan; Assistente de realização: William Shanks; Som: Wesley C. Miller, Conrad Kahn, Alexander Kelly Jr., Kendrick Kinney, Finn Ulback; Efeitos especiais: A. Arnold Gillespie; Companhia de produção: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM); Intérpretes: Elizabeth Taylor (Helen Ellswirth), Van Johnson (Charles Wills), Walter Pidgeon (James Ellswirth), Donna Reed (Marion Ellswirth), Eva Gabor (Lorraine Quarl), Kurt Kasznar (Maurice), George Dolenz (Claude Matine), Roger Moore (Paul), Sandy Descher (Vicki), Celia Lovsky (Mama), Peter Leeds, John Doucette, Odette Myrtil, Jacqueline Allen, Max Barwyn, Peter Bourne, Tim Cagney, Ann Codee, Harry Cody, Louise Colombet, Gene Coogan, Albert D'Arno, John Damler, Marcel De la Brosse, Josette Deegan, Jean Del Val, Paul Dubov, Arthur Dulac, Norman Dupont, Richard Emory, John Charles Farrow, Gilda Fontana, Mary Ann Hawkins, Jean Heremans, Louis Mercier, Matt Moore, Leonidas Ossetynski, Manuel París, Danik Patisson, Tao Porchon,Paul Power, Fay Roope, Joe Rubino, Loulette Sablon, Dick Simmons, Angela Stevens, Lomax Study, Luis Urbina, Maya Van Horn, Bruno VeSota, Steve Wayne, etc. Duração: 116 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): CineDigital; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 10 de Janeiro de 1956.


ELIZABETH TAYLOR (1932 - 2011)
Elizabeth Rosemond Taylor nasceu a 27 de Fevereiro de 1932, em Hampstead, Londres, Inglaterra, e viria a falecer a 23 de Março de 2011, em Los Angeles, Califórnia, EUA, vítima de problemas cardíacos. Os pais eram americanos, Francis Leen Taylor e Sara Viola Rosemond Warmbrodt, oriundos de St. Louis, Missouri, e foram para Londres abrir uma galeria de arte. A mãe era actriz, actividade que abandonou depois de casada, e Elizabeth viveu em Londres até aos 7 anos, quando a família regressou aos EUA, a Los Angeles, para fugir à guerra. Um amigo, ao descobrir a beleza da jovem, aconselhou-a a fazer um teste na Universal Pictures, onde foi logo contratada e se estreou aos 10 anos, em “O Rei das Vitaminas” (1942). Pouco depois, passou para a MGM, lançando-se numa carreira que fez dela uma das maiores vedetas de sempre do cinema mundial. Depois de várias obras onde se apresentava como adolescente (entre elas, algumas ao lado da inseparável Lassie), filmes como “Rapsódia” (1954), “O Belo Brummell” (1954), “A Última Vez Que Vi Paris” (1954) ou “A Senda dos Elefantes” (1954) prepararam a escalada. Com 20 anos, era considerada uma das mais fulgurantes belezas de Hollywood, como o demonstrou numa obra-prima de George Stevens, “Um Lugar ao Sol” (1951). Depois interpretou “O Gigante” (1956), ao lado de Rock Hudson e de James Dean, prosseguindo num crescendo de sucessos, como “A Árvore da Vida” (1957), “Gata em Telhado de Zinco Quente” (1958), “Bruscamente no Verão Passado” (1959), “O Número do Amor” (1960), “Cleópatra” (1963), “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” (1966), entre muitos outros. Foi Oscar da Academia para Melhor Actriz em 1961, por “Butterfield 8” e em 1967, por “Who's Afraid of Virginia Woolf?”. Conquistou inúmeros prémios e condecorações. Possui uma estrela no “Walk of Fame”, em 6336, Hollywood Boulevard. Vida sentimental tumultuosa, com sete casamentos, um deles bisado: Conrad Hilton Jr. (1950 - 1951), Michael Wilding (1952 - 1957), Michael Todd (1957 - 1958), Eddie Fisher (1959 - 1964), Richard Burton (1964 - 1974), Richard Burton (1975 - 1976) John Warner (1976 - 1982) Larry Fortensky (1991 - 1996).


Filmografia:

1942: There’s One Born Every Minute (O Rei das Vitaminas), de Harold Young; 1943: Lassie Come Home (O Regresso), de Fred M. Wilcox; 1944: Jane Eyre (A Paixão de Jane Eyre), de Robert Stevenson; The White Cliffs of Dover (As Rochas Brancas de Dover), de Clarence Brown; National Velvet (A Nobreza Corre nas Veias), de Clarence Brown; 1946: Courage of Lassie ou Blue Sierra (A Coragem de Lassie), de Fred M. Wilcox; 1947: Life with Father (A Culpa é do Papá), de Michael Curtiz; Cynthia: The Rich, Full Life ou The Rich Full Life (Cynthia, Feliz Amanhecer), de Robert Z. Leonard; 1948: A Day with Judy (Travessuras de Júlia), de Richard Thorpe; Julia Misbehaves (A Professora de Rumba), de Jack Conway; 1949: Little Women (Mulherzinhas), de Mervyn LeRoy; Conspirator (Traidor), de Victor Saville; 1950: The Big Hangover (A Verdade não se Diz), de Norman Krasna; Father of the Bride (O Pai da Noiva), de Vincente Minnelli; 1951: Father’s Little Dividend (O Pai é Avô), de Vincente Minnelli; A Place in the Sun (Um Lugar ao Sol), de George Stevens; Quo Vadis (Quo Vadis), de Mervyn LeRoy; Calaway Went Thataway (Esperto Contra Esperto), de Norman Panama e Melvin Frank (não creditada); 1952: Love Is Better Than Ever ou The Light Fantastic (O Melhor é Casar), de Stanley Donen; Ivanhoe ou Sir Walter Scott’s Ivanhoe (Ivanhoe, o Vingador do Rei), de Richard Thorpe; 1953: The Girl Who Had Everything (Paixão Perigosa), de Richard Thorpe; 1954: Rhapsody (Rapsódia), de Charles Vidor; 1954: Elephant Walk (A Senda dos Elefantes), de William Dieterle; Beau Brummell (O Belo Brummell), de Curtis Bernhardt; 1954: The Last Time I Saw Paris (A Última Vez que Vi Paris), de Richard Brooks; 1956: Giant (O Gigante), de George Stevens; 1957: Raintree County (A Árvore da Vida), de Edward Dmytryk; 1958: Cat on a Hot Tin Roof (Gata em Telhado de Zinco Quente), de Richard Brooks; 1959: Suddenly, Last Summer (Bruscamente no Verão Passado), de Joseph L. Mankiewicz; 1960: Butterfield 8 (O Número do Amor), de Daniel Mann; 1963: Cleopatra (Cleopatra), de Joseph L. Mankiewicz; 1963: The V.I.P.s ou International Hotel (Hotel Internacional)), de Anthony Asquith; 1964: The Night of Iguana (A Noite de Iguana), de John Huston; 1965: The Sandpiper (Adeus Ilusões), de Vincente Minnelli; 1966: Who’s Afraid of Virginia Woolf? (Quem Tem Medo de Virginia Woolf?), de Mike Nichols; 1967: The Taming of the Shrew (A Fera Amansada), de Franco Zeffirelli; Doctor Faustus (Doctor Fausto), de Richard Burton e Neville Coghill; Reflections in a Golden Eye (Reflexos num Olho Dourado), de John Huston; The Comedians (Os Comediantes), de Peter Glenville; 1968: Boom! (Choque), de Joseph Losey; Secret Ceremony (Cerimónia Secreta), de Joseph Losey; 1969: Anne of the Thousand Days ou Anne of a Thousand Days), de Charles Jarrott; 1970: The Only Game in Town (Quando o Jogo É o Amor), de George Stevens; 1972: X, Y & Zee and Co. (X, Y e Z), de Brian G. Hutton ; Under Milk Wood, de Andrew Sinclair; Hammersmith Is Out (A Engrenagem), de Peter Ustinov; 1973: Divorce His, Divorce Hers (Divórcio), de Waris Huss\ein (telefilme); Night Watch (A Noite dos Mil Olhos), de Brian G. Hutton; Ash Wednesday (Porque Morre o Nosso Amor?), de Larry Peerce; 1974: The Driver’s Seat ou Psychotic (O Outono da Vida), de Giuseppe Patroni Griffi; That Entertainment (Isto é Espectáculo)), de Jack Haley Jr.; 1976: The Blue Bird (O Pássaro Azul), de George Cukor; Victory at Entebbe (Vitória em Entebbe), de Marvin Chomsky (telefilme); 1977: A Little Night Music (Música Numa Noite de Verão), de Harold Prince; 1978: Return Engagement, de Harold Prince (telefilme); 1979: Winter Kills (Pela Mira da Espingarda), de William Richert; 1980: The Mirror Crack’d (Espelho Quebrado), de Guy Hamilton; 1981: General Hospital (série de TV); 1983: Between Friends ou Nobody Makes Me Cry, de Deborah Shapiro (telefilme); 1984: All My Children (série de TV); Hotel (série de TV); 1985: Malice in Wonderland ou The Rumor Mill Louella Parsons (telefilme); 1985: North and South (Norte e Sul) (série de TV); 1986: There Must Be a Pony, de Marguerite Sydney (telefilme); 1987: Poker Alice, de Alice Moffit (telefilme); 1988: Il Giovane Toscanini (A Vida do Jovem Toscanini), de Franco Zeffirelli; 1989: Sweet Bird of Youth, de Alexandra Del Lago (telefilme); 1992: Captain Planet and the Planeteers Épisode A Formula for Hate) (série de TV); The Simpsons (Os Simpsons) (série de TV); 1994: The Flinstones (Os Flintstones) (série de TV); 1996: The Nanny, de Fran Drescher; 2001: These Old Broads, de Beryl Mason; 2003: God, the Devil and Bob (série de TV). 

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