sábado, 31 de dezembro de 2016

SESSÃO 55: 13 DE FEVEREIRO DE 2017


DISPOSTA A TUDO (1995)

“To Die For” tem por base um argumento de Buck Henry que se baseia numa obra homónima de Joyce Maynard que, por sua vez, parte de um caso verídico. A história real é a de Pamela Smart, uma jovem nascida em 1967, em Coral Gables, na Florida, que, em 1989, casou, em New Hampshire, com Greggory Smart, enlace que durou um ano, até que, em 1990, o marido foi encontrado morto em casa, enquanto a mulher se encontrava ausente. Pamela trabalhava numa radio local, a WVFS, onde tinha um programa dedicadio à sua paixão, o heavy metal, e que se chamava obviamente, “Metal Madness", ou "Maiden of Metal". Além disso trabalhava num documentário, "Project Self-Esteem", sobre os alunos de uma escola local, a Winnacunnet High School, em Hampton, New Hampshire, o que a levou a travar conhecimento com um adolescente de 15 anos, William "Billy" Flynn, e outros jovens de quem se dizia amiga. De "Billy" Flynn tornou-se amante e, ao que se sabe através das investigações policiais e do julgamento seguinte, ela terá aliciado o jovem amante, com a colaboração de dois ou três amigos, a matar o marido, numa noite em que ela estivesse ausente de casa em trabalho, para assim possuir um bom alibi. O que aconteceu a 1 de Maio de 1990, em Derry, New Hampshire. O trabalho da polícia conduziu a revelações que a implicavam como o cérebro do crime. Um dia, um dos detectives, Daniel Pelletier, foi ao seu encontro e disse-lhe: “Tenho uma boa e uma má notícia para si. A boa é que descobrimos quem matou o seu marido. A má é que está presa por esse crime”. Nesta altura, com 49 anos, cumpre prisão perpétua na prisão de segurança máxima de Bedford Hills Correctional Facility for Women, em Westchester County, Nova Iorque. O julgamento deste caso, muito mediático por natureza, foi o primeiro transmitido em directo pela televisão. Pamela Smart, por portas travessas, conseguia o desiderato da sua vida: ser uma estrela de televisão, atingir a fama. Mas por que preço?
O caso entrou para a história da cultura pop norte-americana, muito curiosa quanto a assassinatos e criminosos. Foi tema de um episódio da serie “Law & Order” ("Renunciation"), e de outra do Discovery Channel, “Scorned: Love Kills”. A cadeia HBO lançou um documentário, “Captivated: The Trials of Pamela Smart”, realizado por Jeremiah Zagar. Uma outra série de crime, “American Justice” não esqueceu o drama: "Crime of Passion: The Pamela Smart Story." Dean J. Smart, irmão da vítima Gregg Smart, foi entrevistado em “Skylights and Screendoors” e a própria Pamela Smart apareceu no programa de Oprah, onde reclamou da sua inocência. A televisão dedicou-lhe igualmente um teledramático, “Murder in New Hampshire: The Pamela Wojas Smart Story”, com Helen Hunt no papel de Pamela. Joyce Maynard efabulou sobre o caso no livro “To Die For”, obra adaptada por Gus Van Sant em 1995. Pamela teve, e continua a ter os seus momentos de fama.


“Disposta a Tudo” não é completamente fiel ao caso de Pamela Smart, mas procura reter o essencial. A história fala de Suzanne Stone, de Little Hope, New Hampshire, jovem empreendedora que sonha com ser vedeta de televisão. “Eu sempre soube quem era e o que queria ser”, afirma. Bonita, escultural (ou não fosse Nicole Kidman a interpretar o papel), extrovertida, menina dos olhos de seus pais, com alguma formação em comunicação e um grande à vontade, está “disposta a tudo” para conseguir o que quer. Casa com Larry Maretto, que dizem ser de uma família da Mafia, e aparece na televisão local, a WNEN, em busca de um lugar. Os predicados físicos e a insistência dão-lhe um lugar de apresentadora da metereologia. Para ela “ tudo faz parte de um período de aprendizagem. Mas às vezes não damos por isso. É como estar a ver televisão muito perto, só vemos partículas. Temos de nos afastar para termos a imagem global”. Depois procura subir cada vez mais na vida que escolheu. Um documentário sobre os jovens e a droga é o projecto seguinte, o que a leva a confraternizar com Jimmy Emmett e o seu grupo de jovens mais ou menos marginalizados. Ela acha que “frente à camara é onde gosta de estar”. Aliás, pensa como muito boa gente. “Não se é ninguém se não se aparecer na televisão!”, e sabe que “nunca se deve dizer não”, com tudo o que isso pressupõe. Torna-se amante de Jimmy Emmett e idealiza uma maneira de matar o marido. Serve-se do sexo como chantagem. Na sua vida vale tudo para atingir os fins. Matar é apenas mais uma étapa. O sucesso a qualquer preço. É o sonho americano (que hoje se estendeu a quase todo o mundo): “Tenho uma boa e uma má notícia para si. A boa é que descobrimos quem matou o seu marido. A má é que está presa por esse crime”.
O filme de Gus Van Sant opta por uma construção narrativa em forma de puzzle, iniciando-se com um grande plano de Nicole Kidman, na figura de Pamela Smart, dirigindo-se aos espectadores, falando de si. De seguida, a obra assume a construção de um (falso) documentário, procurando saber quem era aquela jovem, o que ela queria da vida, o que fez para o conseguir.
Gus Van Sant, que gosta de analisar o sonho americano (“No Trilho da Droga”, “A Caminho de Idaho”, “O Bom Rebelde”, “Psico”, “Descobrir Forrester”, “Gerry”, “Elefante”, “Last Days - Últimos Dias”, “Paranoid Park”, “Milk” ou “Terra Prometida”, entre outros) e se tornou notado como um cineasta pouco ligado às grandes produtoras, assumindo-se como um independente, assina aqui uma obra nervosa, irrequieta, procurando agarrar na personagem de Pamela Smart como o símbolo de uma juventude alienada por falsos valores e por um empreendorismo que pode ser fatal. Consegue realmente um filme inquietante, excelentemente interpretado por uma Nicole Kidman brilhante, numa criação que lhe valeu um Globo de Ouro e uma nomeação para um BAFTA. Magnífica é ainda a prestação de Joaquin Phoenix, Casey Affleck ou Illeana Douglas. Note-se que em “Disposta a Tudo” aparecem ainda em curtos papéis, George Segal (um apresentador de TV), David Cronenberg (um executante da Mafia), o próprio Joyce Maynard (um advogado), ou o argumentista Buck Henry (Mr. H. Finlaysson). Não esquecer a partitura musical de Danny Elfman.

DISPOSTA A TUDO
Título original: To Die For
Realização: Gus Van Sant (EUA, Inglaterra, 1995); Argumento: Buck Henry, segundo obra de Joyce Maynard; Produção: Joseph M. Caracciolo, Sandy Isaac, Leslie Morgan, Jonathan T. Taplin, Laura Ziskin; Música: Danny Elfman; Fotografia (cor): Eric Alan Edwards; Casting: Deirdre Bowen, Howard Feuer; Design de produção: Missy; Direcção artística: Vlasta Svoboda; Decoração: Carol Lavoie; Guarda-roupa: Beatrix Aruna Pasztor; Maquilhagem: David R. Beecroft, Patricia Green, Barbara; Direcção de Produção: Steve Wakefield; Assistentes de realização: Roman Alexander Buchok, Tom Quinn, Michele Rakich, David J. Webb; Departamento de arte: Karen M. Clark, Ken Clark, Rossana DeCampo, Willi Holst, Henry Ilola; Som: Kelley Baker, Denis Bellingham, Robert Fernandez, J. Paul Huntsman, Bill Jackson, Owen Langevin, Philip Rogers, Jim Thompson; Efeitos especiais: Laird McMurray, Tim Good; Companhias de produção:Columbia Pictures Corporation, The Rank Organisation; Intérpretes: Nicole Kidman (Suzanne Stone Maretto), Matt Dillon (Larry Maretto), Joaquin Phoenix (Jimmy Emmett), Casey Affleck (Russel Hines), Illeana Douglas (Janice Maretto), Alison Folland (Lydia Mertz), Dan Hedaya (Joe Maretto), Wayne Knight (Ed Grant), Kurtwood Smith (Earl Stone), Holland Taylor (Carol Stone), Susan Traylor (Faye Stone), Maria Tucci (Angela Maretto), Tim Hopper (Mike Warden), Michael Rispoli (Ben DeLuca), Buck Henry (Mr. H. Finlaysson), Gerry Quigley, Tom Forrester, Alan Edward Lewis, Nadine MacKinnon, Conrad Coates, Ron Gabriel, Ian Heath, Graeme Millington, Sean Ryan, Nicholas Pasco, Joyce Maynard, David Collins, Eve Crawford, Janet Lo, David Cronenberg, Tom Quinn, Peter Glen, Amber-Lee Campbell, Colleen Williams, Simon Richards, Philip Williams, Susan Backs, Kyra Harper, Adam Roth, Andrew Scott, Tamara Gorski, Katie Griffin, Carla Renee, Melissa Cooper, Tom Peterson, Chris Phillips, Rain Phoenix, George Segal, Isabella Simone, etc. Duração: 106 minutos; Distribuição em Portugal: New Age (DVD); Classificação etária: M/ 16 anos; Data de estreia em Portugal: 10 de Novembro de 1995.


NICOLE KIDMAN (1967 - )
Nicole Mary Kidman nasceu a 20 de Junho de 1967, em Honolulu, Havai, tendo dupla nacionalidade: inicialmente australiana, depois também norte-americana. Os primeiros anos de vida são muito viajados. Nasce pois no Havai, onde a família morava e onde lhe chamavam Hokulani, um nome que significa “estrela celestial”. Filha de australianos, Janelle Ann, enfermeira, e Antony David Kidman, psicólogo e bioquímico, mudou-se pouco depois com os pais para Washington, mas, quando Nicole tinha apenas três anos, viajaram todos para Sydney, onde ela cresceu e começou a trabalhar como actriz nos anos de 80. A sua propensão inicial era a dança, mas rapidamente se deixou apaixonar pela representação. Cedo aparecia em festas de escola, onde interpretava diversos papéis. Passou pelo Philip Street Theater, onde foi acarinhada por Jane Campion, então estudante, e estreia-se no cinema em filmes como “Memórias de um Natal” ou Bandidos das BMX (ambos de 1983) e na televisão em séries como “Skin Deep” ou “Chase Through the Night”. Mas a sua primeira aparição na tela foi aos 15 anos, num vídeo musical de Pat Wilson para a música "Bop Girl". Tudo, portanto, na Austrália, onde se tornaria particularmente notada na série televisiva “Vietnam” (1987) e no thriller “Calma de Morte” (1989). A mudança para os EUA e para Hollywood marca um momento decisivo na sua carreira, facilmente verificável em obras que a tornam uma actriz de primeira grandeza, internacionalmente: “Days of Thunder”, “To Die For”, “Malice”, “The Peacemaker”, “Eyes Wide Shut”, “Moulin Rouge” ou “The Others”, “Cold Mountain”, “The Interpreter”, “Austrália” ou “The Hours”, no qual, no papel de Virginia Woolf, arrebata o Oscar de Melhor Actriz em 2003. Casada primeiramente com Tom Cruise (1990 - 2001) e depois com o cantor e compositor Keith Urban (2006 -), Kidman foi homenageada com uma estrela no Wall of Fame de Hollywood, perto do nº 6801 de Hollywood Boulevard. O seu palmarés de prémios é longo. Para lá do Oscar, conta ainda com três Globos de Ouro (The Hours, To Die For ou Moulin Rouge!), um BAFTA (The Hours), um prémio de Melhor Actriz no Festival de Berlim (The Hours) e ainda galardões diversos concedidos pelo American Film Institute, Satellite Awa, Prémio Saturno (The Others), etc.


Filmografia      
Como actriz: 1983: Skin Deep (TV); Chase Through the Night (TV); 1983: Bush Christmas (Memórias dum Natal), de Henri Safran; BMX Bandits (Os Bandidos das BMX), de Brian Trenchard-Smith; 1984: Matthew and Son (TV); A Country Practice (TV); 1985: Wills & Burke, de Bob Weis; Archer’s Adventure (TV); Five Mile Creek (TV); Winners (TV); 1986: Windrider (A Loucura do Surf), de Vincent Monton; 1987: Un’ Australiana a Roma (TV); Room to Move (TV); Vietnam (TV); Watch the Shadows Dance (A Dança das Sombras), de Mark Joffe; 1987: The Bit Part (Papel Secundário), de Brendan Maher; 1987: Room to Move, de John Duigan; 1988: Emerald City (Cidade Esmeralda), de Michael Jenkins; 1989: Dead Calm (Calma de Morte), de Phillip Noyce; Bangkok Hilton (Regresso a Banguecoque) (TV); 1990: Days of Thunder (Dias de Tempestade), de Tony Scott; 1991: Flirting (A Idade das Emoções), de John Duigan; Billy Bathgate, de Robert Benton; 1992: Far and Away (Horizonte Longínquo), de Ron Howard; 1993: Malice (Má Fé), de Harold Becker; My Life (Uma Vida), de Bruce Joel Rubin; 1995: Batman Forever (Batman para Sempre), de Joel Schumacher; To Die For (Disposta a Tudo), de Gus Van Sant; 1996: The Leading Man (O Protagonista), de John Duigan; The Portrait of a Lady (Retrato de Uma Senhora), de Jane Campion; 1997: The Peacemaker (O Pacificador), de Mimi Leder; 1998: Stevie Nicks & Sheryl Crow: If You Ever Did Believe (curta-metragem); Practical Magic (Magia e Sedução), de Griffin Dunne;1999: Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados), de Stanley Kubrick; 2001: Birthday Girl (Da Rússia com Amor), de Jez Butterworth; 2001: The Others (Os Outros), de Alejandro Amenábar; 2001: Moulin Rouge! (Moulin Rouge!), de Baz Luhrmann; 2002: The Hours (As Horas), de Stephen Daldry; Panic Room (Sala de Pânico), de David Fincher; 2003: Dogville (Dogville), de Lars von Trier; The Human Stain (Culpa Humana), de Robert Benton; Cold Mountain (Cold Mountain), de Anthony Minghella; 2004: Birth (Birth - O Mistério), de Jonathan Glazer; The Stepford Wive (Mulheres Perfeitas), de Frank Oz; Chanel N°5: The Film (curta-metragem); 2005: Bewitched (Casei com uma Feiticeira), de Nora Ephron; Interpreter (A Intérprete), de Sydney Pollack; 2006: Happy Feet (Happy Feet), de George Miller (voz); 2006: An Fur: Imaginary Portrait of Diane Arbus (Fur - Um Retrato Imaginário de Diane Arbus), de Steven Shainberg; Bienvenido a casa, de David Trueba; 2007: Margot at the Wedding (Margot e o Casamento), de Noah Baumbach; The Golden Compass (A Bússola Dourada), de Chris Weitz; The Invasion (A Invasão), de Oliver Hirschbiegel; 2008: Australia (Austrália), de Baz Luhrmann; 2009: Nine (Nove), de Rob Marshall; 2010: Rabbit Hole (O Outro Lado do Coração), de John Cameron Mitchell; 2011: Just Go with It (Engana-me Que Eu Gosto), de Dennis Dugan; Trespass (Transgressão), de Joel Schumacher; 2012: Hemingway & Gellhorn, de Philip Kaufman; The Paperboy (The Paperboy - Um Rapaz do Sul), de Lee Daniels; 2013: Stoker, de Park Chan-wook; The Railway Man (The Railway Man - Uma Longa Viagem), de Jonathan Teplitzky; 2014: Before I Go to Sleep (Antes de Adormecer), de Rowan Joffe; Grace of Monaco (Grace de Mónaco), de Olivier Dahan; Paddington (Paddington), de Paul King; Queen of the Desert, de Werner Herzog; Hello Ladies: The Movie, de Stephen Merchant (TV); 2015: Strangerland (Em Terra Estranha), de Kim Farrant; Genius, de Michael Grandage; The Family Fang, de Jason Bateman; Secret in Their Eyes (O Segredo dos Seus Olhos), de Billy Ray; 2016 Lion, de Garth Davis (em preparação); Big Little Lies (TV) (em preparação); How to Talk to Girls at Parties, de John Cameron Mitchell (em preparação).  

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